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Bíblia Sagrada - Edição Pastoral
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VII. VITÓRIA DO POVO CONTRA O INIMIGO DE DEUS

Traindo a causa do povo -* 1 Três anos depois, os companheiros de Judas souberam que Demétrio, filho de Seleuco, tinha desembarcado no porto de Trípoli com grande exército e uma frota de navios, 2 e que tinha tomado o país, depois de eliminar Antíoco e seu tutor Lísias. 3 Tal Alcimo, que tinha sido sumo sacerdote e se contaminara voluntariamente por ocasião da revolta, percebeu que para ele não haveria mais salvação, e que não lhe seria jamais permitido aproximar-se do altar sagrado. 4 Por volta do ano cento e cinqüenta e um, procurou o rei Demétrio, levando-lhe uma coroa de ouro, um ramo de palmeira e alguns dos ramos de oliveira que é costume oferecer no Templo. E nesse dia não pediu nada. 5 Encontrou, porém, uma oportunidade favorável para a sua loucura, quando Demétrio o chamou diante do conselho. Interrogado sobre a disposição e intenções dos judeus, ele respondeu: 6 «Os judeus chamados assideus, dirigidos por Judas Macabeu, fomentam a guerra e provocam revoltas, impedindo que o reino alcance sua desejada estabilidade. 7 Por isso, depois de ter perdido o cargo que recebi dos meus pais, isto é, o cargo de sumo sacerdote, aqui me apresento agora. 8 Estou sinceramente querendo, em primeiro lugar, os interesses do rei e, em segundo, os interesses de meus concidadãos, porque é pela falta de bom senso dos mencionados homens que o nosso povo está sofrendo muito. 9 Desejo que o senhor rei se informe de tudo isso em pormenores e, segundo sua bondade compreensiva para com todos, assuma o cuidado do país e do nosso povo, que está rodeado de perigos. 10 Enquanto Judas viver, será impossível alcançar a paz».

11 Dito isso, logo os outros amigos do rei, irritados com os sucessos de Judas, começaram a inflamar Demétrio. 12 Então ele escolheu Nicanor, comandante do batalhão dos elefantes, o nomeou governador da Judéia e para aí o mandou. 13 Deu-lhe ordens para matar Judas, dispersar seus companheiros, e colocar Alcimo como sumo sacerdote do Templo máximo. 14 Os pagãos da Judéia, que tinham fugido de Judas, se ajuntaram em torno de Nicanor, imaginando que o malogro e a desgraça dos judeus reverteriam em felicidade para eles.

Reconhecendo o poder da resistência -* 15 Logo que ouviram falar da expedição de Nicanor e que os pagãos estavam também contra eles, os judeus cobriram a cabeça de terra, começaram a rezar a Deus, que tinha feito deles o seu povo para sempre, e que sempre se manifestava em socorro daqueles que eram a sua herança. 16 Em seguida, a uma ordem do comandante, saíram imediatamente daí e foram enfrentar os homens de Nicanor no povoado de Dessau. 17 Simão, irmão de Judas, enfrentou Nicanor. Contudo, foi obrigado a ceder por causa do aparecimento inesperado do inimigo. 18 Apesar disso, ouvindo falar da coragem que os companheiros de Judas tinham e da disponibilidade que demonstravam em lutar pela pátria, Nicanor ficou receoso de resolver a questão com derramamento de sangue. 19 Por isso, mandou Posidônio, Teódoto e Matatias para negociar a paz com os judeus.

20 Depois de amplo debate sobre as condições, cada chefe as comunicou à sua tropa, e todos concordaram com o tratado de paz. 21 Marcaram a data para uma entrevista privada dos chefes num lugar determinado. De ambos os lados se adiantou uma liteira, e dispuseram cadeiras de honra. 22 Judas, entretanto, tinha distribuído homens armados em lugares estratégicos, prontos para intervir, se o inimigo cometesse alguma traição. A entrevista se realizou normalmente.

23 Nicanor passou a viver em Jerusalém, mas nada fez de inconveniente. Ao contrário, licenciou as tropas que, em massa, se haviam juntado a ele. 24 Judas comparecia todos os dias à presença de Nicanor que era interiormente muito favorável a Judas. 25 Nicanor chegou a aconselhar Judas a se casar e ter filhos. E Judas se casou e viveu feliz como cidadão comum.

É necessário tomar partido -* 26 Alcimo, vendo a amizade entre os dois, pegou uma cópia do acordo que tinham feito e foi procurar Demétrio, para lhe dizer que Nicanor estava com intenções contrárias ao seu governo, pois até havia nomeado como seu sucessor a Judas, o agitador do reino. 27 O rei ficou furioso e, provocado pelas acusações desse perverso, escreveu uma carta a Nicanor, condenando o acordo feito e dizendo que mandasse imediatamente o Macabeu preso para Antioquia.

28 Ao receber essas ordens, Nicanor ficou inteiramente perdido. Era muito difícil para ele desfazer um acordo realizado com uma pessoa que nada tinha praticado de injusto. 29 Contudo, como não podia contrariar as ordens do rei, ficou esperando uma ocasião para cumprir a ordem através de estratagema. 30 Judas, porém, percebeu que Nicanor o estava tratando com mais frieza, e que as relações normais se haviam tornado difíceis. Desconfiando que esse comportamento ríspido não era sinal de boa coisa, reuniu bom número de companheiros e escapou de Nicanor secretamente. 31 Nicanor, ao perceber que tinha sido habilmente enganado por Judas, dirigiu-se imediatamente ao grandioso e santo Templo, e deu ordem aos que estavam apresentando os sacrifícios de praxe, que entregassem Judas. 32 Eles disseram e juraram que não sabiam onde se poderia encontrar o homem que ele procurava. 33 Então, erguendo a mão na direção do santuário, Nicanor jurou: «Se vocês não me entregarem Judas preso, eu destruirei esta morada de Deus, demolirei o altar e erguerei aqui um belo templo para Dionísio». 34 Dito isso, retirou-se. Os sacerdotes, então, ergueram as mãos para o céu e invocaram a Deus, que sempre luta em favor da nossa nação, dizendo: 35 «Tu, Senhor, que de nada necessitas no mundo, julgaste bom colocar no meio de nós o Templo onde moras. 36 Agora, Senhor santo e fonte de toda a santidade, conserva sempre sem contaminação esta casa que acaba de ser purificada».

Testemunho heróico -* 37 Razias, membro do conselho de anciãos em Jerusalém, foi denunciado a Nicanor. Ele era defensor de seus concidadãos, homem de muito boa fama e, por causa da sua bondade, era chamado «pai dos judeus». 38 fazia algum tempo, na época da revolta, que ele também tinha sido acusado de praticar o judaísmo e se havia entregue ao judaísmo de corpo e alma, sem reservas. 39 Nicanor, querendo mostrar hostilidade contra os judeus, mandou mais de quinhentos soldados para prender esse homem. 40 Calculava que estaria dando um duro golpe nos judeus com a prisão dele. 41 Quando as tropas estavam quase tomando a torre e forçavam a porta do pátio, foi dada a ordem de trazer fogo para incendiar as portas. Então Razias, sentindo-se cercado por todos os lados, atirou-se sobre a própria espada. 42 Cheio de brio, ele preferiu morrer do que cair nas mãos desses criminosos e ter a sua dignidade insultada da maneira mais baixa. 43 Mas, como o ferimento não foi tão certeiro por causa da precipitação da luta, e como o batalhão entrava pelos pórticos, ele correu corajosamente até a muralha e valentemente se jogou contra o pelotão de soldados. 44 Todos recuaram rapidamente, abrindo um espaço, onde ele caiu. 45 Capaz ainda de respirar, e com o ânimo inflamado, ele se levantou, perdendo sangue aos borbotões e, por mais agudas que fossem as dores, correu pelo meio do batalhão. Depois, subindo a uma pedra íngreme, 46 completamente sem sangue, arrancou os próprios intestinos e com as duas mãos os atirou no pelotão de soldados. Suplicou ao Senhor da vida e do espírito que os devolvesse a ele novamente. E morreu.




* 14,1-14: Em meio à resistência heróica daqueles que buscam a liberdade do povo (13,9-17), temos também os que buscam os próprios interesses e privilégios, traindo a causa do povo e sabotando o movimento revolucionário.



* 15-25: Um movimento de resistência bem estruturado e que conte com homens corajosos obriga o opressor a restabelecer acordos de paz vantajosos para o povo. Conferir, porém, 1Mc 7,25-32.



* 26-36: Quem serve ao opressor não poderá ao mesmo tempo estar do lado do oprimido, ainda que o queira. Cedo ou tarde, terá que se decidir e tomar posição.



* 37-46: O gesto de Razias mostra o clima em que viviam os judeus. Seu testemunho é semelhante ao de Eleazar e aos dos sete irmãos, todos modelos da fé na ressurreição.






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