Solidários na dor | Paulus Editora

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Religião e Comunicação

01/02/2019

Solidários na dor

Por Darlei Zanon

Neste mês de fevereiro o Papa Francisco nos confia uma intenção de oração muito particular e delicada: “Pelo acolhimento generoso das vítimas do tráfico de pessoas, da prostituição forçada e da violência.” Delicada porque estamos falando de pessoas que sofreram agressões muito pesadas, foram feridas profundamente na sua dignidade, sendo tolhidas a sua liberdade e a sacralidade do seu corpo.

Estamos falando de vítimas de crimes hediondos, situações que o Papa tem constantemente denunciado e combatido pois sabe que são realidades universais, com casos registados em todos os países do mundo. Mesmo na Europa, apesar de todos os mecanismos criados para a segurança e controlo, especialmente depois da Convenção de Varsóvia (2005), o tráfico de pessoas tem crescido. Em geral provenientes de países pobres ou de situação de grande pobreza, o tráfico de seres humanos pode ser para fim de exploração sexual, exploração laboral, extração de órgãos, mendicidade ou pequenos crimes. São muitos os casos de tráfico de crianças e bebês também com o fim de adoção por casais europeus. A Organização Internacional para as Migrações (OIM), uma agência das Nações Unidas, criou uma plataforma colaborativa para ajudar a combater este mal. No site https://ctdatacollaborative.org/ é possível informar-se ou mesmo denunciar casos de tráfico ou situações de risco.

Estima-se que cerca de 20 mil pessoas são vítimas do tráfico humano a cada ano. Grande parte são homens obrigados ao trabalho forçado, mas a grande maioria são mulheres e crianças destinadas à exploração sexual. Exatamente por isso o Papa associa, na intenção de oração deste mês, o tráfico humano com a prostituição forçada. É muito difícil saber os números exatos desta realidade, mas estima-se que hoje existem no mundo cerca de 2,5 milhões de pessoas em situação de escravidão. Isso mesmo. É um número elevadíssimo de “escravos contemporâneos” que precisam da nossa ajuda e acolhida. Uma situação impensável e inaceitável para qualquer ser humano, mas especialmente para os cristãos, que tem nas bases da sua fé um forte compromisso social, especialmente com a liberdade e a caridade.

Diversas organizações ligadas à Igreja Católica desenvolvem programas de combate ao tráfico de seres humanos através da prevenção, da reintegração das vítimas e da consciencialização da opinião pública para este crime. Exemplo disso agências humanitárias como a Catholic Relief Services (que desenvolve o seu trabalho em 91 países) e a Talitha Kum (Rede Internacional da Vida Religiosa contra o Tráfico de Pessoas) promovem a formação de redes de religiosas capacitadas para prevenir o tráfico e dar apoio às vítimas, especialmente o de fins sexuais.

O Papa Francisco em diversos momentos condenou duramente o tráfico de pessoas e o trabalho forçado, citando este tema especialmente quando uma nova tragédia com imigrantes ocorre na Europa. Em diversas homilias e mensagens ele lembra destas novas formas de escravidão e pede a renovação da sociedade para um sistema mais justo. Através de um twitter, certa vez foi muito incisivo, denunciando: “O tráfico de seres humanos, de órgãos, o trabalho forçado e a prostituição são escravidões modernas e crimes contra a humanidade”. São diversos também os seus gestos concretos, como nas chamadas “sextas-feiras da misericórdia” em que certa vez visitou uma casa em Roma que acolhe ex-prostitutas. Recentemente enviou uma carta pessoal a uma congregação religiosa que tem por missão a imigração para solicitar expressamente que abrissem uma casa em Roma para acolher e dar trabalho a mulheres que desejam deixar a prostituição.

Enfim, são inúmeros os casos de mediação do Papa, grande parte deles sem que se faça notícia, assim como ele prefere. Neste mês, Francisco pede também a nós que façamos algo concreto para sanar ou amenizar estas situações de grande dor e sofrimento. Comecemos rezando nesta intenção, mas na medida do possível tentemos alguma ação concreta de acolhimento generoso, através da nossa paróquia e diocese, ou através das inúmeras associações católicas que lutam por esta causa.

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