A importância da Via Crucis | Paulus Editora

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19/03/2024

A importância da Via Crucis

Por Darlei Zanon

Aproximando-nos da Semana Santa, vem-me à mente a imagem do Papa Francisco em grande concentração, celebrando a Via Crucis com milhares de pessoas no Coliseu, em Roma. É já uma longa tradição reunir os fiéis em Roma para recordar o caminho da dor de Nosso Senhor Jesus Cristo, rumo ao Calvário e à sua Paixão. E não existe lugar mais apropriado para tal, depois do próprio calvário em Jerusalém, do que o Coliseu, lugar que testemunhou o martírio de milhares de cristãos nos primeiros séculos da Igreja.

Foi no ano 1750 que pela primeira vez a Paixão de Jesus começou a ser revivida no Coliseu. Por iniciativa do papa Bento XIV, foram erguidas ali 14 pequenas ermidas e uma grande cruz, recordando as diversas estações da Via Crucis. Abandonadas ao longo dos anos, essas capelas foram restauradas pelo papa João XXIII, em 1959, mas somente em 1964 a prática da Via Sacra foi retomada, pelo papa Paulo VI, em meio à celebração do grande Concílio Vaticano II.

Com uma longa tradição na história da Igreja, a celebração da Via Crucis em Roma deve servir de inspiração para cada comunidade cristã também repetir o mesmo gesto, de modo especial durante a Semana Santa. É verdade que muitas paróquias e capelas já organizam regularmente esta prática devocional ao longo de toda a Quaresma, mas gostaria hoje de reforçar o convite a que todos, individual ou comunitariamente, meditem as 14 estações da Via Crucis ao menos uma vez durante a Semana Santa, em sintonia com o papa Francisco e com toda a Igreja Universal.

Mentalmente ou reproduzindo através de imagens, somos convidados a percorrer o doloroso caminho que Jesus percorreu desde o pretório de Pilatos (Fortaleza Antônia) até ao Calvário (Gólgota), onde foi crucificado e morreu pela nossa Redenção. Algo curioso é que a escolha das etapas deste itinerário, hoje usual entre os cristãos, se deve à piedade dos autores de livros de devoção escritos no Ocidente, e não propriamente à prática observada na própria Cidade Santa, Jerusalém, que percorria inicialmente o sentido inverso, começando na Igreja do Santo Sepulcro, no Monte Calvário, e terminando no Monte das Oliveiras. As estações desse caminho eram bem diferentes da via atual, sendo associadas por alguns autores com o percurso que a Virgem Maria costumava percorrer, recordando a Paixão de seu Filho amado. Fato é que não existia um roteiro definido, nem mesmo um número determinado de meditações, indo de sete estações e chegando a percursos com mais de 30 estações. Grande popularidade teve o itinerário proposto pelo inglês William Wey, escrito em 1462; e ainda mais o livro do carmelita belga Jan van Pascha, escrito 1563 e intitulado “A peregrinação espiritual”, no qual descreve uma viagem espiritual que deveria durar um ano, num roteiro que partia de Lovaina para a Terra Santa.

De Jerusalém, durante a Idade Média a “via” passou a ser reproduzida em toda a Europa. Os maiores promotores e divulgadores desta prática foram certamente os frades franciscanos, que que passaram a reproduzir com imagens e esculturas em suas capelas o percurso entre o tribunal de Pilatos (onde Jesus foi condenado) até o monte Calvário (onde foi Crucificado). São Leonardo de Porto Maurício, ofm, é um dos frades que se destaca, pois entre os anos 1731 e 1751, através de sua atividade missionária em toda a Itália, construiu mais de 500 “vias” com capelas para rezarem a via crucis. Foi ele que solicitou ao papa Clemente XII indicações oficiais sobre a edificação e as indulgências ligadas à tal devoção, sendo atendido com um decreto assinado em 3 de abril de 1731. Através deste decreto de Clemente XII foram estabelecidas as 14 estações que conhecemos até hoje.

A PAULUS tem em seu catálogo uma série de propostas para se rezar e meditar estes 14 passos de Jesus rumo à Paixão, ensinando o fiel a rezar e ajudando-o a entrar em comunhão com o Cristo sofredor, enquanto aguarda a sua gloriosa ressurreição. Indico particularmente o livro “Jovens com Cristo: no caminho da Cruz”, por se tratar de uma vivência da via sacra a partir do ensinamento do Papa Francisco. Além de ser totalmente ilustrado, o que ajuda a celebrar melhor, é escrita em modo leve e envolvente, convidando à meditação.

O próprio Francisco, durante a celebração da via crucis na Jornada Mundial da Juventude do Rio (2013), nos revelou oito motivos pelos quais deveríamos rezar a via sacra, que são: 1. Ela nos ajuda a colocar nossa confiança em Deus; 2. Ela nos mostra nosso lugar na história; 3. Ela nos recorda que Jesus sofre conosco; 4. Ela nos convida à ação; 5. Ela nos ajuda a tomar uma decisão a favor de (ou contra) Jesus; 6. Ela revela a resposta de Deus ao mal no mundo; 7. Ela nos dá a certeza do amor de Deus por nós; 8. Ela nos guia da cruz à Ressurreição.

Inspirados por tais indicações e pela longa história desta prática devocional, que cada cristão possa acompanhar de modo diferente a via sacra celebrada pelo Papa na próxima Sexta-feira Santa e sinta-se motivado para organizar e rezar na própria comunidade ou grupo este caminho de solidariedade e compaixão que nos leva a imaginar a dor e o sofrimento de Cristo na Paixão.

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