O convite do mestre e da Igreja aos jovens | Paulus Editora

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Igreja e Sociedade

01/04/2024

O convite do mestre e da Igreja aos jovens

Por Cleane Santos

Quando te sentires envelhecido pela tristeza, os rancores, os medos, as dúvidas ou os fracassos, Jesus estará ao teu lado para te devolver a força e a esperança (Papa Francisco).

É o Senhor quem renova diariamente nossas forças e derrama sobre nós um espírito sempre jovem e decidido. Na exortação Apostólica “Christus Vivit”, o papa Francisco, em seus ensinamentos direcionados aos jovens e a todo povo de Deus, recorda-nos da presença constante e fiel de um Deus apaixonado por sua criação. Francisco lembra-nos que Deus nos chama e envia para a missão de seu Reino, partindo, sobretudo, do exemplo e testemunho de seu Filho Unigênito — Jesus Cristo. Inspirados nas ações do Mestre Jesus, o Santo Padre enfatiza em sua exortação: Ele vive e quer-te vivo!

Com as palavras de Francisco, somos conduzidos a renovar a nossa fé e a nossa esperança no Cristo Ressuscitado, que direciona os corações dos jovens, independentemente de suas escolhas, dificuldades, imperfeições, situações adversas, seduções impostas pelo mundo moderno ou estado emocional, ele molda cada um conforme a sua vontade. Francisco destaca que Deus jamais abandona os seus filhos e filhas, pelo contrário, ele os coloca à frente de significativas missões para sua própria edificação.

Em toda a trajetória do povo de Deus, os textos bíblicos evidenciam o convite de Deus aos jovens, sobretudo, demonstram a sua predileção por aqueles que são subjugados, excluídos e subestimados por saberem pouco ou quase nada da vida. “A glória da juventude está mais no coração do que na força física ou na impressão que provoca nos outros”, afirma o pontífice.

Nesse sentido, conforme exemplificam os textos bíblicos e ensina o papa Francisco em sua exortação, tanto no Antigo como no Novo Testamento, existem registros da ação de Deus que, em inúmeras situações, escolhe os jovens para liderar o seu povo em importantes missões. Mapeando alguns, por exemplo, temos José, o filho preferido de Jacó, que em sua plena juventude foi vendido como escravo para mercadores estrangeiros de Madiã, em decorrência da inveja de seus próprios irmãos. Do sofrimento à alegria, Deus concede a José dons interpretativos que o fazem, posteriormente, o governador do Egito (Gn 37–46).

Além deste, temos o jovem Samuel que escuta o profeta Eli e coloca-se à disposição e escuta do Senhor. “Fala, Senhor; o teu servo escuta”, em resposta ao chamado de Deus. (1Sm 3,9–10). Percebemos a resposta destemida de um jovem, diante de uma missão desconhecida, ponto característico de muitos jovens.

Também encontramos a figura do rei Davi, escolhido por Deus ainda rapaz. Com a história de Davi aprendemos que não devemos julgar as pessoas por sua aparência. O jovem de aspecto frágil, pequeno e simples pastor de ovelhas, tornou-se um dos mais importantes reis de Israel ao derrotar o filisteu Golias (1Sm 16–17).  “O homem vê as aparências, e Javé olha o coração” (1Sm 16,7). 

Podemos recordar, ainda, a figura da Virgem Maria, que na flor da idade foi escolhida por Deus para ser a Mãe de Jesus e da humanidade (Lc 1–2), além de tantos outros personagens citados nos Evangelhos, sobretudo, na vida pública de Jesus e, em suas parábolas como: o Filho Pródigo (Lc 15,11-32), ou a história das jovens prudentes que estavam prontas e vigilantes, enquanto outras viviam distraídas e atormentadas (Mt 25,1-13).  Logo, é na força dos jovens que Deus age e constrói novas histórias e dá continuidade à missão de seu Reino. Entretanto, como recepcionar os jovens e acolhê-los na comunidade cristã?

Caminhos e perspectivas cristãs para os jovens de hoje

Na atualidade, muitos são os caminhos oferecidos aos jovens. Em cada escolha abraçada é possível analisar inúmeros fatores, como a estrutura familiar, a evangelização, a ausência da acolhida e oportunidades, entre outros. Alguns caminhos apresentados pelo mundo nem sempre levam à felicidade, pelo contrário, conduzem os jovens para estradas sem volta, que, ao longo da caminhada, dão lugar à tristeza, ao abandono, à depressão, às drogas que levam à morte, e ao quadro exacerbado de violência que a juventude é submetida todos os dias.

Na condição de discípulos missionários do Cristo Jesus, somos chamados a sermos condutores dos jovens para Deus. Na medida em que apresentamos e apostamos no anúncio do Reino, por meio de ações simples, e damos credibilidade ao que os jovens podem oferecer, como a criatividade e a força única da juventude, a probabilidade de os jovens optarem por falsos caminhos torna-se menor.

Para o autor da obra “Orações da minha juventude”, publicada pela PAULUS Editora, Bento Maria, ssp, algo muito importante é ofertar os tesouros da Palavra de Deus para os jovens, pois inúmeros jovens ainda não conhecem a Deus e outros buscam na Igreja respostas para diversos anseios e questionamentos. Diante deste cenário, a comunidade e seus membros devem estar atentos para uma acolhida calorosa que apresente a casa de Deus, também como ponto de partida para a realização de seus sonhos e projetos.

“Deixar que eles façam suas perguntas, nunca dar respostas prontas para perguntas que nem foram feitas. A juventude deve ser valorizada em todas as áreas da Igreja. Cuidado com a tendência de alguns querer usar os jovens como mão de obra barata, eles são capazes de atuar em todos os campos, principalmente naqueles de liderança”, afirma Bento Maria.

Na opinião do autor do livro “Maquiagem Espiritual”, lançado pela PAULUS, Padre Rodrigo Rodrigues, atual Capelão da Bendita Árvore da Cruz, comunidade de vida contemplativa, da Toca de Assis em Cotia, São Paulo (SP), acolher uma pessoa deve ser uma atitude corajosa, pois, segundo o presbítero, ninguém está pronto e acabado.

Padre Rodrigo relata que cada ser humano é único e traz consigo suas vitórias e derrotas. “É triste pensar, que na maioria das vezes, os jovens são estigmatizados e carregam o peso de serem irresponsáveis e inexperientes, mas essa não é uma verdade absoluta. Vejo muitos jovens, muito mais engajados e responsáveis do que muitos adultos e idosos, que já possuem anos de caminhada na vida pastoral da Igreja. Jovem é puro desafio! É mistério-criativo do amor de Deus”, ressalta.

Segundo o sacerdote, se um jovem for cativado, quem ganha é a comunidade paroquial, pois o jovem é gerador de outro jovem. “Onde tem jovem, claro que teremos desafios, mas é Nosso Senhor Jesus Cristo quem convida: ‘Avancem para águas mais profundas!’, e o jovem que não souber nadar, a Santa Igreja tem a missão de ensinar”, destaca.

“Cada jovem é superimportante na vida da Santa Igreja. Só que com jovem, necessário se faz, ser um ‘artista da sedução’. Jovem ama desafio! Quando ele for desafiado e aceitar a luta, pode ter certeza, que naquele instante, ele descobrirá, que, na verdade, a Santa Igreja é muito importante na vida dele. Quando o jovem percebe que ele pode oferecer sua vitalidade e criatividade em favor da Santa Igreja de Cristo, nada e ninguém o tira da vida eclesial, pois ele passa a ser pedra viva, num tempo de esperança e fé, inaugurado em seu coração”, complementa.

Testemunhos de santidade de faces jovens para Deus

Entre tantas faces jovens dedicadas a Deus, é possível destacar alguns santos contemporâneos e testemunhos de santidade, como a carmelita de clausura Santa Teresinha do Menino Jesus e da Sagrada Face (1873–1897), que diz: “Escolho tudo, não quero ser santa pela metade!”. Santa Teresinha foi para Deus ainda muito jovem, aos 24 anos de idade. “O jovem precisa ser inteiro. Sem mascaramentos ou maquiagens-espirituais. Diante de Deus sempre a verdade que liberta. Pecou? Se converte e ponto final”, relata Pe. Rodrigo.

São José Sánchez del Río, um jovem mártir mexicano (1913–1928), que sofreu o martírio aos 14 anos de idade, por sua fidelidade a Deus, o amor por Jesus Eucarístico e a fé na Virgem de Guadalupe, afirmava: “Nos vemos no céu. Viva o Cristo Rei! Viva sua Mãe, a Virgem de Guadalupe!”. 

A Irmã Clare Crockett (1982–2016), ex-atriz irlandesa que deixou-se transformar por Deus, tornando-se uma religiosa consagrada ao serviço do Reino e da Igreja, é outro exemplo que inspira, principalmente, os jovens à busca sincera da santidade.

E o jovem de tênis e calça jeans, Beato Carlo Acutis (1991–2006), é outro modelo de santidade de nossos dias, que disse: “Nascemos originais e morremos como cópias!”. O Bem-aventurado Carlo Acutis — o ciberapóstolo da Eucaristia, realizou sua páscoa aos 15 anos de idade, após dedicar sua juventude ao serviço da Igreja. 

Que possamos exercitar os dons da acolhida, escuta e compreensão na recepção de todos os jovens que chegam em nossas vidas, para que possam despertar em seus corações o desejo de amar, seguir e fazer acontecer neste mundo o Reino de Deus, com toda a sua vitalidade e força, independentemente de seus erros e acertos, que sejamos sempre acolhedores a exemplo do Mestre Jesus.

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