Ano de 2024: Um convite à oração espiritual e comunitária | Paulus Editora

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Igreja e Sociedade

26/02/2024

Ano de 2024: Um convite à oração espiritual e comunitária 

Por Cleane Santos

“A oração é o respiro da fé, é a sua expressão mais adequada. Como um grito que sai do coração de quem crê e se confia a Deus”. Papa Francisco. 

A cada ano, o Santo Padre nos convida a meditar e rezar sobre uma temática específica para a união e santificação da Igreja e todo o povo de Deus. Após os estudos e reflexões dedicados aos documentos do Concílio Vaticano II, o papa Francisco propôs a celebração do “Ano da Oração” em virtude da preparação do “Ano do Jubileu” que será celebrado em 2025, em Roma com o tema “Peregrinos da esperança” e, que deverá receber peregrinos do mundo inteiro.

Conforme orienta o Santo Padre, todo o povo de Deus e as dioceses são convidadas a intensificar as orações pessoais e comunitárias. A ocasião é também propícia para compreendermos o valor, a importância e a centralidade da oração, iniciativa espontânea, simples e humana que nos leva à intimidade com Deus e o conhecimento do seu Reino. Segundo o Catecismo da Igreja Católica, a oração pertence a todos. “Aos homens de todas as religiões e, provavelmente, também aqueles que não professam religião alguma. A oração nasce no segredo de nós mesmos, naquele lugar interior a que muitas vezes os autores espirituais chamam “coração”, (CIC) Nº. 2.562-2.563.

Em suas catequeses, o papa Francisco ressalta que a oração é um impulso, uma invocação que vai além de nós próprios: algo que nasce no íntimo da nossa pessoa e que se estende, pois sente a nostalgia de um encontro. “A oração é a voz de um ‘eu’ que tropeça, que procede às cegas, em busca de um ‘Tu’. O encontro entre o “eu” e o “Tu” não pode ser calculado: é um encontro humano e, muitas vezes, procede-se às cegas para encontrar o ‘Tu’ que o meu ‘eu’ procura”.

Lembremos que nas Sagradas Escrituras, o próprio Jesus ensinou aos seus discípulos como deveriam rezar ao Pai que está nos céus, a começar pela “Oração do Pai-Nosso”. Neste trecho, Cristo ensina-nos a confiar em Deus, como um verdadeiro amigo sempre atento às necessidades dos homens. Em seus ensinamentos, Jesus direciona os seus discípulos: “Peçam e lhes será dado. Procurem e encontrarão. Batam e lhes será aberto. Pois, todo aquele que pede recebe, o que procura encontra, e a quem bate se abrirá”, disse Jesus aos apóstolos e às gerações futuras. (Mt. 7, 7-8).

Ainda sobre a prática da oração, o Mestre exortava para o cuidado de não nos tornarmos pessoas hipócritas que rezam para serem vistos pelas pessoas. “Quando rezar, entre em seu quarto, feche a porta e reze ao seu Pai que está em segredo. Seu Pai, que vê no segredo, recompensará você”. (Mt. 6, 5-7).

Foi também por meio da oração que o Cristo venceu a tentação no deserto, após jejuar e orar por quarenta dias e quarenta noites, Jesus estava inteiramente entregue aos cuidados de Deus, conforme narram os Evangelhos. Pois, o seu corpo aparentava um aspecto frágil, mas o seu Espírito estava extremamente fortalecido. Em suas orações, no lugar chamado Getsêmani, Jesus orou a Deus e exortou os seus discípulos: “Estejam vigilantes e rezem, para não caírem na tentação. Porque o espírito está pronto, mas a carne é fraca”. Assim ele também nos ensinava a nos fortalecer com a oração, a cada luta diária e frente aos desafios da vida.

Sobre os aprendizados extraídos da Bíblia Sagrada sobre a oração, o biblista Luiz Alexandre Solano Rossi, ensina-nos que a oração é constante e contínua nos textos bíblicos. “Homens e mulheres falam com Deus e sabem que Deus os escuta. Aqui está uma das mais belas mensagens da Bíblia sobre a oração: a de que Deus nos escuta.  Deus não é surdo às palavras que nascem no coração de seus filhos e filhas. A oração  não se resume a um instrumento para ficar “pedindo” coisas a Deus. Não se trata de uma troca”, recorda. Segundo Solano, na oração abrimos nosso coração para conhecermos mais a Deus e sermos por Ele conhecidos.

Caminhos para exercitar a prática da oração

No catecismo da Igreja Católica, as orientações da Doutrina Cristã irão dizer que a oração deve ser vista como dom de Deus, sendo definida como a elevação da alma para Deus ou o pedido feito a Deus de bens convenientes, (CIC) nº 2559. Entretanto, é do coração humilde e contrito que brota a verdadeira oração sem muitas fórmulas exatas e perfeitas. A humildade é o fundamento da oração. “Desse modo vem o Espírito Santo em socorro da nossa fraqueza, pois nem sabemos o que convém pedi”, (Rm 8, 26). 

Para o religioso paulino Bento Maria, autor da obra “Orações da Minha Juventude”, título escrito em parceria com Ricardo Maria, ssp, e publicado pela PAULUS Editora, a oração desempenha um papel fundamental na vida de todo e qualquer cristão, pois é através dela que estabelecemos e fortalecemos a nossa conexão com Deus.

“Ela é o meio pelo qual expressamos nossa gratidão, buscamos orientação,  conforto e renovamos nossa fé. Através da oração, nutrimos nosso relacionamento com o Divino Mestre e nos aproximamos do entendimento mais profundo de nós mesmos e do propósito de nossa existência”, afirma.

Segundo ele, apesar dos desafios cotidianos, é possível e extremamente benéfico criar uma rotina ou hábito de oração diária. Para Solano, diante das provocações, a oração se torna uma âncora que nos ajuda a enfrentar as adversidades com serenidade e esperança.

“Estabelecer um momento regular para a oração, seja pela manhã, à noite, ou em intervalos ao longo do dia, nos permite cultivar uma conexão constante com Deus, trazendo paz e clareza em meio às turbulências da vida. Nesses casos, não podemos esquecer que até um olhar levantado com devoção para o céu se transforma em oração, uma lágrima derramada, um sorriso afetuoso, entre outras iniciativas”, revela.

O religioso ressalta que não há um “jeito certo” universal para rezar, pois a oração é uma expressão pessoal e íntima da relação com Deus. No entanto, ele recorda que uma oração que certamente agrada a Deus é aquela que vem do coração, sincera e dedicada. “É aquela que reflete nossa humildade, gratidão, amor e desejo de nos conectar com Deus e com os irmãos. Independente da forma ou das palavras utilizadas, o que importa é a sinceridade e a devoção com que nos dirigimos a Deus em oração”, destaca.

Na opinião do biblista Luiz Alexandre Solano Rossi, a oração não é um exercício espiritual cristalizado, estático e preso numa camisa de força. “A oração carrega apenas um sentimento: humildade diante daquele que é Todo-Poderoso, Santo, Ilimitado e, mesmo assim, nos ama sendo limitados, pecadores e fracos. Ora-se com o coração contrito de uma criança que encontra descanso no colo de sua mãe”, revela-nos. 

Ainda, segundo Solano, não existe vida cristã sem oração. Nas palavras do autor, ela é o combustível para os dias maus, bem como para os dias agradáveis. A orientação bíblica é clara: “Orai sem cessar”. Jamais conheceremos o coração do Pai se não orarmos. E devemos sempre nos lembrar: muita oração, muito poder; pouca oração, pouco poder; nenhuma oração, nenhum poder”, ensina-nos. Em comunhão com estas palavras, o papa Bento XVI (1927-2022), também salientou: “Não existem orações supérfluas, inúteis; nenhuma se perde. E elas encontram respostas; embora às vezes misteriosas, porque Deus é Amor e Misericórdia infinita. A oração educa-nos a ver os sinais de Deus”.

Na obra “Senhor ensina-nos a orar”, os autores padres Paulinos, Claudiano Avelino dos Santos e Mario Roberto de Mesquita Martins, orientam que além das orações tradicionais da Igreja católica, há também orações específicas para algumas situações que os fiéis podem se guiar, como por exemplo: orações de agradecimento, súplica, orações em família, orações com santos e santas, orações para combater o mal, entre outras preces e súplicas que são descritos na obra. 

Para além destas iniciativas no ano dedicado à oração, tenhamos em mente que a oração é o meio mais eficaz para nos unirmos a Deus, um meio pelo qual, também, os primeiros profetas e todos os santos e santas da Igreja mantinham uma conexão com o Criador. Que possamos fazer deste ano um período rico de encontros, aprendizados frutuosos rumo ao Jubileu proposto por Francisco e, na certeza de um Deus misericordioso que está sempre disposto a nos escutar e amar. 

 

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