O significado do jejum | Paulus Editora

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14/02/2024

O significado do jejum

Por Darlei Zanon

Estamos em pleno Tempo da Quaresma, os 40 dias de preparação para a principal celebração do Ano Litúrgico: a Páscoa do Senhor. Ao longo de 40 dias a Igreja nos pede penitência, oração e jejum.

O número 40 é bastante significativo e simbólico. O quatro representa na Bíblia o universo material, o mundo; e o zero se refere à vida terrena, com as suas provações e dificuldades. Quarenta é o número que remete à purificação e significa o ciclo de uma geração: quarenta dias foi o tempo que durou o dilúvio; quarenta anos o povo hebreu andou pelo deserto em busca da terra prometida; quarenta dias Elias e Moisés estiveram em preparação no deserto antes de realizarem a missão confiada a cada um por Deus; e quarenta dias é o tempo que Jesus foi tentado no deserto.

A Sagrada Escritura nos diz que “durante quarenta dias, Jesus foi tentado pelo diabo; e nesses dias, não comeu nada” (Lc 4,2). Certamente nos recordamos desta passagem bíblica, famosa também pela tentação proposta pelo maligno: “Se és Filho de Deus, manda que essa pedra se transforme em pão”. Estamos diante de uma cena que nos ajuda a entender o sentindo profundo do jejum.

Tradicionalmente chamamos “jejum” à privação voluntária de comida durante algum tempo por motivo médico ou religioso. O jejum religioso tem sempre em vista o louvor a Deus. É uma “mortificação da carne” como ato de culto; uma renúncia em busca de uma aproximação de Deus; um gesto de sacrifício e controlo dos desejos a fim de alcançar um crescimento espiritual.

Em todas as religiões há a prática do jejum. Os muçulmanos, por exemplo, jejuam do amanhecer ao pôr do sol do mês festivo do Ramadão para que todos os seus pecados sejam perdoados. Os judeus fazem jejum no Dia do Perdão (Yom Kippur): do pôr do sol de um dia ao pôr do sol do outro dia, eles não comem e não bebem nada, nem mesmo água. As Igrejas evangélicas e protestantes não tem datas específicas para jejuar, mas realizam-no com frequência, no sentido de “matar a carne” para fortalecer o espírito, vencendo assim as motivações egoístas.

Na Igreja Católica o jejum quaresmal é uma prática comum desde o século IV e há uma distinção entre jejum e abstinência. O jejum é a abstinência total de comida e bebida (com exceção da água) enquanto que a abstinência é abster-se de alguma coisa que seja mais pesada ou mais cobiçada. Na quarta-feira de Cinzas, que acabamos de celebrar, e na Sexta-feira Santa é proposto o jejum desde o acordar até ao deitar. Durante os outros dias não há uma imposição, mas apenas um convite a deixarmos de lado algo que achamos essencial, em sinal de renúncia e autocontrole em vista de uma maior vivência da fé e da espiritualidade.

Nosso ponto de partida e modelo a seguir é sempre o ensinamento bíblico. Na Bíblia o jejum pode ser tanto individual como comunitário, em sinal de penitência, expiação dos pecados, oração intensa ou vontade firme de conseguir algo. Ou ainda, como nos quarenta dias Jesus antes de começar sua missão, ou também de Moisés no monte ou de Elias no deserto, marca a preparação intensa para um acontecimento importante. São inúmeros os textos bíblicos que mencionam o jejum, como por exemplo: Ex 34,28; Lv 16,29; 1Sm 7,6; 2Sm 12,16; 1Rs 21,12; Esd 8,21; Ne 9,1; Est 4,3.16; Sl 35,13; Is 58,5ss; Dn 6,9; Dn 9,3; Jl 2,12.15; Mt 4,2; Mt 6,17ss; Mt 9,14; Mc 2,18ss; Lc 5,34; At 9,9; At 27,33.

Iluminados pela Palavra de Deus e pelo convite da Igreja, provavelmente muitos de nós fizeram um propósito de abstinência para esta Quaresma. Não nos esqueçamos, porém, de que a verdadeira abstinência deve estar ligada à oração, à meditação da Palavra e à caridade. Nesse sentido, o melhor programa quaresmal que podemos fazer é dar a quem precisa o alimento ou bebida que estamos renunciando. Ou seja, converter em doação o valor renunciado, a fim de fazer o bem ao irmão e agradar a Deus. Assim estaremos cumprindo verdadeiramente o mandamento do amor a Deus e ao próximo e estaremos preparados para bem acolher o Cristo Ressuscitado.

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