O ser humano e sua dinamicidade narrativa | Paulus Editora

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Educação e Literatura

22/01/2015

O ser humano e sua dinamicidade narrativa

Por Alexandre Carvalho

O ser humano pode ser compreendido e visto de diversas formas. Ciências distintas tomarão o ser humano como objeto a ser estudado segundo seu campo de interesse particular; o mesmo ser humano tocado pela medicina não será tocado igualmente, por exemplo, pela filosofia.

Isso mostra ou nos faz antever que o ser humano é extremamente complexo e plural e por mais que busquemos explicá-lo ou entendê-lo totalmente, essa será uma tarefa impossível.

Dentre as possibilidade de nos aproximarmos do ser humano, é plausível considerá-lo como uma criatura que acumula e transmite suas memórias e suas vivências. O homem ultrapassou há muito tempo a esfera do meramente instintivo e colocou-se diante do mundo como um ser capaz de submetê-lo e transformá-lo.

Vivências e memórias acumuladas ganham pleno sentido quando passadas adiante e, nesse âmbito, a oralidade foi o meio pelo qual a memória armazenada e preservada auxilia as novas gerações não permitindo que tudo tivesse que começar do zero, mas avançasse a partir das conquistas consolidadas. Sem dúvida, os ensinamentos recolhidos – e transmitidos – eram mais bem assimilados e acolhidos se envoltos em narrativas atraentes e marcantes.

Contar histórias e, por sua vez, ouvi-las é próprio do ser humano; além de transmitir conhecimento, era uma forma de reunir as pessoas de um mesmo clã ou da comunidade ou da aldeia etc.

        Com o surgimento, porém, dos primeiros registros gráficos ou pictóricos, mesmo que rudimentares nas paredes das cavernas, amplia-se o modo de transmissão do conhecimento. Sem que necessariamente alguém conte ou narre algo, é possível captar o que se quer comunicar a partir das pinturas e sinais fixados. Esses elementos tecnológicos passam a ser utilizados para que memórias e vivências, de algum modo, ganhem autonomia ou condição de preservação mais assegurada. Como nos dias atuais, uma nova tecnologia não necessariamente suplanta a anterior. Embora os registros gráficos tenham evoluído e se estabelecido como escrito em suas diversas nuances, a oralidade como memória e transmissão de conhecimento não deixou de existir.

        Antes que uma criança domine a técnica da leitura e compreenda satisfatoriamente o significado daquilo que é capaz de decodificar, é importe e, de algum modo, natural, que seus pais ou aqueles que estão por perto, conte-lhe histórias.

Tais narrativas farão parte de seu arcabouço constitutivo, funcionando como balizadores existenciais.

Portanto, diante da complexidade que é o ser humano, podemos colaborar com sua existência se propiciamos a ele acesso a narrativas salutares desde sempre.