Ainda faltava mais de um mês para o Natal e Inácio estava às voltas com os enfeites que seriam colocados no setor da empresa em que trabalhava. Todos os anos a empresa fazia um concurso e o seu setor nunca havia ganhado. É bem verdade que anos atrás haviam ficado em terceiro lugar; noutro ano, o segundo lugar, mas ainda não o primeiro. Ele pensou em investir numa bela e elegante árvore de natal, num presépio com ricas personagens, numa guirlanda e enfeites aéreos à semelhança de móbiles. Todos do setor estavam animados, pois a decoração prometia ser de primeira e ninguém gastaria nada: tudo ficaria por conta do Inácio.
Como Inácio não batia cartão, ele aproveitou a última hora da manhã e foi às compras. Ao chegar ao shopping, foi logo a uma loja de departamentos no piso térreo e seus olhos ficaram fascinados com tantas coisas. Além do que ele havia pensado, uma infinidade de outros produtos estava a sua disposição: muitas lâmpadas, brilhos, miniaturas, sons etc. De fato, impossível não perceber que o Natal já estava ali, ao alcance da mão (e do bolso), bastava só escolher, pegar, levar ao caixa e pronto. Como ele agora estava morando sozinho, não se sentia motivado para enfeitar a sua casa, mas o setor de trabalho na empresa seria lembrado por todo ano novo.
Apesar do tumulto das pessoas e do empurra-empurra, Inácio pegou um carrinho e começou pela árvore de natal. Escolheu uma verde tradicional que já vem com as benditas luzes de led instaladas; a seguir foi em busca de laços prateados para finalizar a composição do pinheirinho. Não teve dúvidas quanto ao presépio; escolheu um conjunto com 45 peças.
Maria, José e o Menino Jesus eram uma verdadeira obra de arte, pareciam vivos; o que falar então dos pastores, dos reis magos, dos animais e demais elementos de composição de cena. A guirlanda era clássica e para o teto foram escolhidas estrelas cadentes prateadas. Tudo ficaria harmoniosamente disposto como deveria ser.
Hora do caixa! Mas até chegar lá, Inácio teria que enfrentar uma longa fila. Sem que ele percebesse duas meninas meio sujas, talvez irmãs, se esgueiravam entre as pessoas que estavam na fila.
– Moça, paga pra mim!
– Moço, paga pra mim!
As meninas, com olhar desconfiado, se alternavam. Em geral, as pessoas as ignoravam; algumas gesticulavam que não tinha como pagar; outras lançavam olhares pelo ar em busca do segurança…
– Moço, paga pra mim!
Inácio voltou à realidade! As duas meninas lhe causaram certo mal estar. O que elas estavam fazendo ali?
– Moço, paga pra mim!
A mais velha trazia nas mãos um estojo de maquiagem de algum personagem famoso do cinema, mas desconhecido para Inácio; a mais nova tinha nas mãos uma boneca.
– Moço, o senhor vai pagar?
– Não posso! Não tenho dinheiro.
As meninas se afastaram e, finalmente, Inácio chegou ao caixa. Ao terminar de pagar suas compras, ele observou que as meninas estavam sendo retiradas da loja por um segurança. A mais velha com a cara fechada, como se estivesse com raiva; a mais nova estava chorando. Que alívio! O Natal estava assegurado. Era só chegar à empresa e montar tudo.
Nossa.... me arrepiei, irmão que história, o que dói mais é saber que isso existe, estamos preocupados com o nosso Natal e esquecemos que o nosso Natal é o Natal do próximo. Muito lindo irmão. A paz de Jesus e o amor de Maria.
...e a conclusão é nossa. GRANDE LIÇÃO !!!!
Uma história sem fim... sem fim pois se repete todos os anos e a repetição dos mesmos erros é o real significado de inferno.
Belíssimo conto, Irmão Alexandre! Expressou nestas linhas algo que está em nós. Bravo!