O Pequeno Príncipe, encontrando com um clássico | Paulus Editora

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Educação e Literatura

16/09/2015

O Pequeno Príncipe, encontrando com um clássico

Por Alexandre Carvalho

O termo “clássico”, tomado como adjetivo, confere nobreza àquilo que qualifica. No campo da literatura, há, naturalmente, obras que são consideradas clássicas ou de caráter universal, pois transcendem o tempo e o espaço em que foram criadas e, assim, se perpetuam. Tais obras abordam questões existenciais que atravessam décadas e, mesmo assim, se mantêm atuais. Eis algumas características: o desejo de descobrir a própria identidade; a busca do próprio lugar no mundo; o desejo de liberdade: pessoal e coletiva; o desejo de encontrar o verdadeiro amor e o sentido da vida. Por essas características – e outras -, embora publicado há mais ou menos 70 anos, O pequeno príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry, mantém seu frescor inicial e encanta milhares de pessoas ao redor do mundo.

O pequeno príncipe parece ser um livro infantil; contudo, seu conteúdo é apreciado por pessoas de todas as idades, muito provavelmente porque toca a criança presente em cada ser humano; curiosamente, uma criança que leia O pequeno príncipe terá certa dificuldade, ao menos se supõe, para se aproximar da narrativa dada a sua densidade.

O texto de Exupéry é feito em camadas que se sobrepõem com sutileza e poesia; as personagens presentes, suas características e as relações que estabelecem foram cuidadosamente construídas. Em linhas gerais, ganham destaque o pequeno príncipe, o aviador, a rosa, a raposa e a serpente. Dois desses personagens pertencentes ao universo humano e os outros três, não. Curiosamente, também, nenhum dos personagens é nomeado; contudo, a presença de cada um deles é marcante. Outros dois elementos que não podem passar despercebidos são o deserto e o universo (os planetas, asteroides e estrelas).

A narrativa é memorial, pois o aviador resgata o que lhe aconteceu há seis anos; por sua vez, o pequeno príncipe retoma – e conta ao aviador – o que lhe aconteceu até o momento em que se dá o encontro dos dois. Encontro, aliás, é uma categoria, se assim quisermos chamar, muito importante ao longo do livro, pois são os encontros que dão à vida significado ou não: o pequeno príncipe e a rosa, o pequeno príncipe e a serpente, o pequeno príncipe e a raposa, o pequeno príncipe e o aviador.

Ao longo do texto, vemos que há, não de forma velada, uma crítica aos adultos. Eles, os adultos, gostam de números e não se atêm ao que é essencial, pois o essencial é invisível aos olhos e perceptível ao coração. Seria preciso, mesmo já sendo adulto, ter um coração livre e aberto como o de uma criança para que não se tenha medo de cativar e deixar-se cativar, algo já um tanto esquecido.

Quem se aproxima de O pequeno príncipe não sei ileso; é contagiado por uma onda de sensibilidade que tem o intuito de despertar o que a de melhor do ser humano. Como aquele poço que torna belo o deserto, a cada leitura que se faz da narrativa pode-se matar a sede de encontros que já se foram, atuais e futuros.

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