UMA CEIA MUITO ESPECIAL
Jesus sabe que chegou sua hora de passar deste mundo para junto do Pai. Hora do adeus, que ele vive intensamente, movido por um amor extremo: “Tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim”. Jesus poderia ter feito inflamado discurso sobre a importância do lava-pés; não o fez. Prefere tomar uma atitude inesperada: lava os pés dos discípulos. Exerce a função reservada aos domésticos ou aos escravos. Naturalmente, o gesto causa estranheza no grupo e provoca a reação de Pedro: “Tu não vais lavar os meus pés, nunca”. Os discípulos não estão em condições de captar o real significado desse ato, mais tarde haverão de compreendê-lo. Então Jesus prossegue; e arremata: “Se eu lavei os pés de vocês, eu que sou o Senhor e o Mestre, vocês também devem lavar os pés uns dos outros”.
A refeição, que poderia transcorrer em clima de paz, esbarra num contratempo grave. Um dos apóstolos – Judas, o traidor – retira-se da sala, afasta-se do convívio familiar e mergulha nas trevas: “Era noite” (Jo 13,30). Os demais do grupo experimentam grandes emoções, que vão da euforia à tristeza, da curiosidade ao assombro.
Última ceia de Jesus com seus discípulos. Hora do amor sem medida, que se traduz em serviço aos outros. Serviço generoso, sem nada esperar em troca. Assim é o amor cristão. O amor verdadeiro não se contenta com oferecer coisas, mas dá a própria vida: “Eu sou o bom pastor. O bom pastor expõe a sua vida pelas ovelhas” (Jo 10,11). É nesse ambiente de entrega total que Jesus institui a Eucaristia. Do pão faz seu corpo; do vinho faz seu sangue. Então, a Última Ceia não é um teatro para entreter os discípulos ou acalmar-lhes o espírito. É corpo entregue e sangue derramado. Vida doada pela vida do mundo: “Eu sou o pão vivo que desceu do céu. Quem comer deste pão viverá para sempre. E o pão que eu vou dar é a minha carne, para que o mundo tenha a vida” (Jo 6,51).
Com a ceia da Nova Aliança, Jesus confia a seus apóstolos, e a nós, o testamento espiritual mais importante de sua vida: sua morte pela redenção da humanidade, sua incessante e eficaz presença entre nós, estímulo para a fraternidade, ousadia para denunciar as injustiças e incentivo para evangelizar o mundo inteiro.
Pe. Luiz Miguel Duarte, ssp
O objetivo deste periódico é celebrar a presença de Deus na caminhada do povo e servir às comunidades eclesiais na preparação e realização da Liturgia da Palavra. Ele contém as leituras litúrgicas de cada domingo, proposta de reflexão, cantos do Hinário litúrgico da CNBB e um artigo que trata da liturgia do dia ou de algum acontecimento eclesial.
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