Nenhum texto é neutro | Paulus Editora

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Educação e Literatura

12/08/2015

Nenhum texto é neutro

Por Alexandre Carvalho

Em nossas postagens buscamos refletir sobre a relação que há entre Educação e Literatura; e hoje vamos falar um pouco sobre o texto e sua intencionalidade ou considerar que um texto nunca é neutro. Estamos também fechando um ciclo de postagens que efetivamente se encerram em dezembro próximo.

Neutralidade, em palavras simples, poderia ser compreendida como a característica de não assumir um partido ou um lado. Popularmente falando, seria a famosa posição daqueles que ficam em cima do muro; na verdade, se quisermos ser rigorosos, quem fica em cima do muro também toma partido, se não de um lado ou de outro, opta por se posicionar do seu próprio lado.

Com isso, poderíamos dizer que a neutralidade pode ser entendida como dimensão partidária real e concreta.

Um texto – tenha ele qualquer natureza – é carregado de ideologia e intencionalidade, por isso ele (o texto) não é neutro, mas parcial, pois busca transmitir ideias, pontos de vista e posicionamentos. Por vezes, sem a adequada preparação e instrução, o leitor não se vê munido do instrumental necessário para desvendar os textos que chegam a suas mãos e, com isso, se corre o risco de se absorver posicionamentos ou “comprar ideias” sem a devida crítica e consciência.

Tendo presente de modo particular os textos literários, não podemos considerar tais textos neutros, pois, na realidade, não o são.

Embora para muitos a vocação primeira da literatura seja divertir, esse divertimento assume posturas ideológicas conscientes ou inconscientes, declaradas ou não.

O que está por trás, por exemplo, de histórias como O patinho feio, Sítio do Pica-pau Amarelo, Jogos Vorazes? Além de serem histórias que encantam, embora pertençam a tempos e origens diferentes e se destinem a públicos igualmente diversos, o que estes textos trazem numa segunda ou terceira camada? Qual é essencialmente a sua mensagem que pretendem transmitir?

Não precisamos, com isso, assumir uma postura de constante desconfiança e alerta; mas podemos, sim, nos educar para deixar a ingenuidade de lado e olhar os textos que lemos e propomos para as pessoas que nos cercam, principalmente crianças e jovens, com mais consciência. Com isso, além de diversão, será possível agregar à leitura a possibilidade de aprendizado, crescimento e, ainda, questionamentos sobre realidades existentes e existenciais.

Os textos podem transmitir em suas narrativas: valores ou contra-valores, ideologias políticas, posicionamentos sociais, quebra de paradigmas, legitimação de pontos de vista etc.

Em si, essas realidades não são boas ou ruins, mas possibilidades que devem ser vistas e analisadas e não simplesmente absorvidas. Nossa relação com a literatura deve ser sempre qualificada e, sem dúvida, a educação tem papel primordial nesse processo.

Até a próxima postagem.

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