Livros Sapienciais 6. Cântico dos cânticos | Paulus Editora

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23/08/2018

Livros Sapienciais 6. Cântico dos cânticos

Por Nilo Luza

Neste mês vamos conhecer um pouco mais o belo livro “Cântico dos Cânticos”. Esse livro é formado por diversos poemas de amor que foram reunidos após 400 AC, final do período persa e talvez início do período grego. Como o próprio título diz, é um livro formado de cânticos por excelência, o mais belo canto de amor.

Como dissemos, o livro é formado por diversos poemas ou cânticos. Alguns teriam surgidos, segundo alguns estudiosos, na corte do palácio; outros sugerem que nasceram em ambiente agrícola e pastoril. Eram provavelmente utilizados em celebrações e festas de casamento.

A autoria atribuída a Salomão é uma estratégia de quem organizou o livro para dar maior visibilidade e credibilidade a esses poemas. É, portanto, uma obra pseudo-epigráfica, isto é, atribuída a alguma personagem importante para ser aceita e acolhida.

O livro é pequenino, só possui 8 capítulos. Esses capítulos podem ser divididos em três partes. Depois de uma breve introdução (1,1-4), temos a parte central do livro, formada por quatro cantos de amor que todos terminam da mesma forma: primeiro poema (1,5-2,7), segundo poema (2,8-3,5), terceiro poema (3,6-5,8), quarto poema (5,9-8,4) e, por fim, uma conclusão (8,5-14).

Graças a leitura e interpretação alegórica ou figurada, esses “cânticos eróticos” entraram na Bíblia. São vistos como “metafóricos”. Para os rabinos, o noivo seria Deus, a noiva a comunidade de Israel. Para os cristãos, o noivo seria Cristo, e a noiva a Igreja.

O livro surge quando a mulher não era valorizada como pessoa com igual dignidade ao homem. As reformas de Neemias e Esdras provocaram a exclusão política, religiosa e social das mulheres. O livro Cântico do Cânticos propõe uma relação de respeito, reciprocidade, parceria e igualdade entre mulheres e homens.

Os poemas procuram valorizar a mulher e seu corpo e o corpo de toda pessoa. Não esqueçamos que o helenismo (cultura grega) dividia a pessoa no dualismo: corpo e alma. A alma tinha mais importância que o corpo, que podia ser desprezado. Essa mentalidade ainda está bastante presente em muitos ambientes hoje em dia. Fomos criados à “imagem e semelhança” de Deus. Portanto toda pessoa e toda a pessoa (corpo e espírito) deve ser valorizada e respeitada.

Cântico dos cânticos anuncia, no conjunto, “bela teologia dos corpos enamorados que não se enquadra no rigorismo das teologias oficializadas no templo” (BP). Como podemos perceber, o encontro de amor entre os dois jovens (Sulamita e Salomão) se estabelece fora dos muros institucionais (casamento, lei e religião) e ressalta a importância da “casa da mãe”. O nome do pai não aparece no texto, por outro lado o nome da mãe aparece sete vezes. Deus é mencionado somente uma vez.

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