Caminho de santificação | Paulus Editora

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Religião e Comunicação

01/12/2020

Caminho de santificação

Por Darlei Zanon

Enquanto nos preparamos para receber Jesus Menino, o Verbo de Deus encarnado, o Papa Francisco nos propõe como intenção de oração do mês rezar “para que a nossa relação pessoal com Jesus Cristo se alimente da Palavra de Deus e de uma vida de oração.”

Com esta intenção, o Pontífice indica dois pilares sobre os quais apoiar a nossa relação com Cristo, especialmente neste tempo do Advento. Se preferirmos, podemos associar a duas vias a percorrer para nos aproximarmos sempre mais do Filho de Deus. Obviamente não são os únicos pilares ou vias possíveis, mas são fundamentais: a Palavra e a oração são alimentos salutares porque possibilitam um contato direto com Deus e portanto nos colocam em profunda comunicação e intimidade com Cristo.

Através da Palavra de Deus podemos conhecer todo o processo de revelação de Deus ao seu povo escolhido. Na sua mensagem para o Dia mundial das Comunicações deste ano, o Papa chamou a Sagrada Escritura de “história de histórias”, exatamente porque ela apresenta inúmeras vicissitudes, povos, pessoas e “mostra-nos um Deus que é simultaneamente criador e narrador: de fato, pronuncia a sua Palavra e as coisas existem”.

Ao longo de todos os relatos do Antigo Testamento podemos perceber o esforço de Deus em se comunicar com o seu povo, através dos patriarcas, dos profetas e assim por diante. Este processo de revelação de Deus e do seu projeto para a humanidade foi se dando aos poucos, numa comunicação contínua e progressiva. Na Encarnação do Verbo (Jesus Cristo), que recordaremos na noite de Natal, temos o ápice da revelação e a comunicação perfeita entre Deus e o ser humano. E esta comunicação se dá num encontro: Deus que se faz próximo. Deus põe a sua tenda no meio da humanidade e deste modo a Palavra se torna imagem (corpo), a escuta se torna visão. Cristo é imagem visível de Deus invisível.

Podemos assim afirmar que também na Palavra de Deus encontramos o Cristo real. Não do mesmo modo como na Eucaristia, onde Jesus está presente substancialmente, mas uma presença que é capaz de nos alimentar e encher de energia. É impossível não recordar aqui as palavras do próprio Jesus, ao ser tentado no deserto, que responde ao diabo: “O ser humano não vive só de pão, mas de toda palavra que sai da boca de Deus” (Mt 4,11). A liturgia é o lugar privilegiado para nos alimentarmos desta Palavra, pois em cada celebração a Igreja nos oferece um pequeno trecho da Bíblia para ser lido e meditado. É uma forma muito concreta de nos nutrir, como que dando-nos uma pequena pílula a cada dia.

Além da celebração eucarística, na qual a proclamação da Palavra ocupa uma parte muito significativa, a Igreja oferece ainda a Liturgia das Horas (ou Ofício Divino) como oportunidade para mantermos contato com Cristo e a Palavra durante todo o dia. E aqui vemos mais claramente a conexão entre os dois pilares propostos pelo Papa Francisco para alimentar a nossa comunicação e relação de amizade com Cristo. A Liturgia das Horas é a oração oficial da Igreja, uma oração quotidiana a partir dos Salmos e Cânticos – mas também de outros textos da Escritura, dos Padres da Igreja e de grandes santos –, com a qual somos convidados a “orar sem cessar”, louvando a Deus e apresentando a Ele as nossas necessidades, inquietações, alegrias, agradecimentos, etc.

Palavra de Deus e oração são portanto duas formas muito concretas de cultivarmos a nossa fé, aproximando-nos sempre mais de Deus. São oportunidades oferecidas a cada um de nós para nutrirmos a nossa espiritualidade e darmos pequenos passos rumo à santidade, um chamado que o Senhor faz a todos, como recorda o próprio Papa na sua exortação apostólica sobre a santidade no mundo atual, a Gaudete et exsultate (n. 14): “Muitas vezes somos tentados a pensar que a santidade esteja reservada apenas àqueles que têm possibilidade de se afastar das ocupações comuns, para dedicar muito tempo à oração. Não é assim. Todos somos chamados a ser santos, vivendo com amor e oferecendo o próprio testemunho nas ocupações de cada dia, onde cada um se encontra”.

Que este convite à santidade, sobretudo valorizando a Palavra de Deus e a oração, nos inspire e oriente no caminho de aproximação e acolhida de Jesus Menino no Natal. Bom Advento a todos!

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