A literatura como instrumento de sedimentação de uma língua | Paulus Editora

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Educação e Literatura

05/08/2014

A literatura como instrumento de sedimentação de uma língua

Por Alexandre Carvalho

Como muitas realidades, a escrita evoluiu aos poucos. Num dado momento, o homem sentiu a necessidade de registrar os eventos que aconteciam a sua volta e, com isso, segundo estudos realizados, as inscrições rupestres, ou seja, aquelas encontradas no interior de algumas cavernas são consideradas como as primeiras tentativas de transmissão do conhecimento adquirido às gerações subsequentes.

Desse modo, o conhecimento que se acumulava não se perdia, mas dava condições aos descendentes de aprender e seguir adiante a partir das conquistas que iam se consolidando.

Por outro lado, fica claro que o ser humano, de modo concreto, vai somando à sua dimensão instintiva aspectos de racionalidade.

Nas diferentes regiões do mundo, a escrita vai tomando forma concreta e particular. Se pensarmos nos chineses, astecas e sumérios, por exemplo, veremos que a escrita vai se tornado registro complexo das atividades desses povos; com isso, o ato de escrever, para muitas civilizações, é também um gesto sagrado.

Por outro lado, quem detém a escrita, detém poder ou está ligado ao poder ou, de alguma forma, é favorecido pelo poder.

Escrita e fala são realidades intimamente interligadas; contudo, as mudanças que acontecem no registro escrito tendem a ser mais lentas. A fala é mais ágil e se transforma mais rapidamente incorporando ou suprimindo elementos.

Se a escrita pode assumir muitas funções, uma delas, quando a olhamos do ponto de vista literário, é ajudar na sedimentação de uma língua no tocante ao seu registro formal. Certamente já ouvimos a indagação: como se escreve: com z ou com s? Pois bem, recorrendo aos clássicos da literatura em seus registros mais antigos, é possível percorrer o caminho em que a forma de grafar as palavras foi se firmando. Por exemplo: como Shakespeare escreveu… Como Camões escreveu… Como Cervantes escreveu…

Como a língua, também escrita, é dinâmica, uma variante – dessa língua –, dita privilegiada, é a adotada como referência e, desse modo, as outras variantes – dessa mesma língua – passam a ser desconsideradas e, consequentemente, abandonadas ou postas de lado. Assim, a variante de prestigio, aos poucos, vai sendo assumida como língua oficial de um povo. Sem dúvida, essa eleição se dá onde o poder está presente. Também é verdade que uma língua se impõe quando das conquistas.

Não é raro ouvimos que quem gosta de ler, tem facilidade para escrever.

De fato, quem lê com cuidado e atenção, é transportado para outros mundos e outras realidades e acaba assimilando, a partir dessa dimensão visual, o modo de grafar e construir muitas expressões acerca da própria língua.

A curiosidade do leitor também é aguçada e, não raro também, ele se torna um pesquisador ou buscador dos porquês se escreve desse ou daquilo modo.

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