A Família no contexto digital | Paulus Editora

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Tecnologia e Pastoral

03/10/2022

A Família no contexto digital

Por Ednoel Amorim

A Família é uma instituição formada por pessoas, por conta disso aquilo que vale para os indivíduos se aplica diretamente à família, visto que ela é basicamente um pequeno grupo de pessoas. Por conseguinte, aquilo que se aplica à família deveria ser a luz que dirige a sociedade de um modo geral. Essa sociedade se estrutura como a vida humana, ou seja, fundamentalmente de relações; relação consigo mesmo, com o meio onde se vive e com os demais. Crescer como seres humanos implica crescimento familiar e social, seja ele civil ou eclesial.

No entanto, a sociedade de um modo geral está se deixando levar pelas leis do mercado, pela lógica capitalista, como uma forte onda. Para essa lógica vale o que se pode comercializar, aquilo que oferece lucro é o que importa, porém, onde existem pessoas a relação com o dinheiro não deveria ser desenvolvida em detrimento destas. A pessoa humana sempre é mais importante que qualquer pretenso mecanismo de sobrevivência ou desenvolvimento econômico.

A Doutrina Social da Igreja nos lembra que o ser humano existe para amar e ser amado (cf. DSI, 212). Na base, portanto, da nossa existência está o amor. O próprio Deus nos revela que é Amor e que quem ama permanece n’Ele (cf. 1João 3,11-24.4,8). A família nesse contexto é a figura perene de como Deus, em Jesus Cristo, ama a humanidade, mais especificamente a sua Igreja, a nossa Família Cristã, o Povo Eleito de Deus. Muito oportunamente o amor de Deus é comparado ao amor do esposo para com a sua esposa e vice-versa. Aprenderemos a viver bem como indivíduos, quando aprendermos a nos doar como família e consequentemente a família humana de um modo geral estará cada vez mais próxima daquela realidade que nos falava o então Papa Paulo VI, sonhando com uma “Civilização do Amor” (cf. Regina Caeli, 17 de maio de 1970).

Por força de estarmos diante de marcantes avanços tecnológicos e de um vislumbre ou encantamento exagerados pela tecnologia digital, estamos todos sujeitos a nos perder do nosso horizonte principal e tudo isso termina por repercutir nas famílias e consequentemente na sociedade. O Papa Francisco tem alertado constantemente para o perigo dos novos meios digitais. Eles são inegavelmente úteis e favoráveis ao desenvolvimento humano, porém, não devem se tornar um instrumento de subtração da escuta, de isolamento apesar da presença física, de saturação dos momentos de silêncio e dos momentos de espera (cf. Francisco, Dia Mundial das Comunicações Sociais, 2015).

A família pode ganhar muito com a conexão digital, mas pode perder muitos valores importantes se se esquecer da sua vocação de “Escola de Comunicação”, na qual seus membros encontram ocasião para o diálogo, a convivência, o sorriso singelo, o afeto, o consolo nas horas difíceis, o abraço, o perdão… Esses valores e práticas fortalecem os vínculos humanos e é isso que faz o ser humano caminhar, movimentar-se firme para o futuro, força essa que está sendo enfraquecida pelo uso indiscriminado e quase irracional das novas tecnologias.

Peçamos a Família de Nazaré que nos ajude a recuperar virtudes e dons importantes para continuarmos a construir a “Civilização do Amor”, como a Justiça de São José, para trabalharmos na promoção do Bem Comum, a Generosidade da Virgem Maria, para estamos sempre atentos às necessidades dos demais, capazes de superar a indiferença atual e com a Sabedoria do Menino Deus, auxílio forte e eficaz no discernimento daquilo que engrandece a humanidade e promove a vida em sua integridade. Que a Família de Nazaré nos ajude a crescer sempre mais como Família Humana e Cristã.

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