55. Evangelho segundo João | Paulus Editora

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Bíblia

12/09/2023

55. Evangelho segundo João

Por Nilo Luza

O Evangelho segundo João é bem diferente dos outros três, chamados sinóticos, porque apresentam mais ou menos a mesma visão e têm muitos textos comuns. Em João os poucos “milagres” são denominados “sinais”. Praticamente não há parábolas. O evangelho não é tanto biográfico, é mais teológico e contemplativo, carregado de símbolos. João se concentra na pessoa de Jesus, com menor acentuação biográfica do que os sinóticos. O centro do ministério de Jesus se dá mais em Jerusalém do que na Galileia. Neste evangelho, Jesus faz longos discursos.

Principais características de Jesus no Evangelho segundo João: 1) Jesus está pleno de amor: o Pai o ama e ele ama o Pai, ama, acolhe, busca, perdoa, ele veio para que todos tenham vida e a tenham em plenitude, ama e chora a morte (de Lázaro), amou até o fim. 2) É o enviado do Pai: está sempre unido ao Pai e o Pai com ele. 3) Ele se define “eu sou”: resgatando o Deus do Êxodo (Ex 3,14), ele se define o pão da vida, o bom pastor, a luz do mundo, a videira, o caminho, a verdade e a vida…

O evangelho não foi escrito de uma hora para outra. Sua redação final se deu por volta do ano 100 d.C., provavelmente em Antioquia ou Éfeso. Nesta época os cristãos já foram expulsos das sinagogas. Foi atribuído ao apóstolo João, filho de Zebedeu. Sabemos, porém, que o apóstolo João que acompanhou Jesus, neste tempo já tinha morrido. Muitos reconhecem ser uma obra de um discípulo de João (provavelmente um judeu), uma geração mais tarde. As comunidades onde surgiu o evangelho eram formadas por judeus que viviam fora da Palestina

Podemos dividir o evangelho de João em três partes, antecedidas por um “Prólogo” (Jo 1,1-18) e seguidas de um “Epílogo” (Jo 21,1-25). O prólogo (Jo 1,1-18) é praticamente o resumo do livro. Estão presentes os principais temas tratados no livro. Provavelmente, foi acréscimo quando o livro estava praticamente pronto. O epílogo (Jo 21) é um acréscimo posterior ao livro. A figura de Pedro se sobressai. Ele é interrogado se ama a Jesus. Pedro responde que sim. Com isso, é convidado a pastorear as ovelhas.

1. Livro dos sinais (Jo 1,19-12,50). Os versículos 19 a 51 do primeiro capítulo trazem como que a síntese de uma semana. Merece destaque o diálogo de Jesus com Nicodemos (Jo 3) e o diálogo com a Samaritana (Jo 4). A partir do capítulo 2, começa a narrar os sete sinais: primeiro (Jo 2,1-12): bodas de Caná; Segundo (Jo 4,46-54): cura do filho de um funcionário real; terceiro (Jo 5,1-9): cura do paralítico; quarto (Jo 6,1-15): partilha dos pães; quinto (Jo 6,16-21): Jesus sobre as águas; sexto (Jo 9,1-41): cura do cego de nascença; sétimo (Jo 11,1-44): ressurreição de Lázaro.

2. Livro da comunidade (Jo 13,1-17,26). Esta parte inicia com a ceia do lava-pés, gesto de amor e doação realizado por Jesus e proposto para seus seguidores. Durante a ceia um discípulo trai o Mestre. Jesus prepara seus discípulos para sua despedido. Vai estabelecendo um contato mais próximo com eles. Com dois discursos (Jo 13,31-14,31; 15-16) comunica-lhes os ensinamentos mais preciosos com palavras de conforte, esperança e encorajamento. Ao final, temos a oração sacerdotal (Jo 17), Jesus se dirige ao Pai e lhe pede pelos seus discípulos presentes e futuros.

3. Livro da realização (Jo 18,1-20,31). Estes dois últimos capítulos tratam do processo de julgamento e condenação de Jesus. Jesus é vítima das autoridades religiosas e políticas da época. Portanto, Jesus não morreu de alguma doença nem de acidente, foi morto como um criminoso (morte de cruz). Por fim, narra a presença do Ressuscitado na comunidade. O relato convida à confiança e à esperança: no alto da cruz, Jesus estabelece a comunidade de seus seguidores, e pela ressurreição fortalece as certezas e o ânimo de quem se compromete com ele.

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