46. Livro de Habacuc | Paulus Editora

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09/12/2022

46. Livro de Habacuc

Por Nilo Luza

Praticamente nada sabemos sobre a pessoa de Habacuc. O nome Habacuc pode significar “agarrar” ou, mais precisamente, “abraçar”. O profeta seria aquele que abraça e consola o povo. Provavelmente profetizou em Judá (Reino do Sul), pelo final do século 7º a.C., durante o reinado de Joaquim (609-598 a.C.), pouco antes do exílio (587 a.C.). As formas literárias, principalmente o salmo do capítulo três, indicam que Habacuc ou os redatores finais estavam ligados ao templo.

Habacuc foi contemporâneo dos profetas Naum, Jeremias e Sofonias, com os quais divide inquietações próprias do final do século 7º e início do 6º a.C. Um período crítico da história de Israel: a Assíria está em decadência, o Egito domina a região e a Babilônia vai se impondo como potência até conquistar Judá (Reino do Sul), quando leva os judaítas ao exílio. Provavelmente o profeta teria presenciado este momento histórico. Portanto estamos no período entre dois grandes poderes: a decadência da Assíria e o surgimento da Babilônio. São tempos difíceis, e Israel pode se tornar joguete entre os dois poderes.

Durante o reinado de Joaquim, Judá foi obrigado a pagar altos impostos aos egípcios, para financiar construções e palácios luxuosos com trabalho forçado do seu povo. O povo era explorado para sustentar a elite. Em 605 a.C., os babilônios derrotam definitivamente o Egito e colocavam em risco Judá. Podemos dividir o livro em três partes:

1. Diálogo do profeta com Deus (1,1-2,4): Esta parte é um diálogo entre o profeta e Deus. O profeta questiona a Deus, pedindo socorro, pois está cansando de ver tanta violência e sofrimento do povo. Ele se pergunta: “Até quando?”. O profeta se queixa da injustiça e da corrupção que permeiam a sociedade de Judá, durante o reinado de Joaquim (609-598 a.C.). Ele considera a situação intolerável e pergunta a Deus até quando ele permanecerá em silêncio. O início do capítulo 2 contém a verdadeira resposta de Javé. Ele orienta o profeta a escrever em tábuas, pois a solução poderá demorar, mas não falhará. A palavra de Deus é eficaz e sempre guarda a verdade. Javé coloca o orgulhoso e o justo em lados opostos. O orgulhoso tem fome de poder, ao passo que o justo vive “por sua fidelidade” e pode contar com Javé.

2. Cinco “ais” contra os opressores (2,5-20): Os destinatários desses cinco “ais” são os opressores: 1) Contra aqueles que acumulam o que não lhe pertence. Os ricos acumulam riqueza à custa do penhor dos pobres. 2) Contra aqueles que constroem com dinheiro injusto. Provavelmente é uma lembrança do rei Joaquim que construiu palácios luxuosos, com a exploração do povo. 3) Contra os que constroem cidades com dinheiro injusto e com o suor e o sangue do povo. 4) Contra os que se fartam com banquetes e orgias e embriagam as pessoas para se divertir à custa delas. 5) Contra a idolatria. Os ídolos podem ser cobertos de ouro e prata, mas não têm o sopro de vida.

3. Cântico de Habacuc (3,1-19): Este capítulo pode ser considerado uma teofania (manifestação de Deus), escrita em forma de poesia, semelhante aos salmos. A teofania se revela nas obras do criador e se assemelha ao nascer do sol, que surge no oriente e desce no ocidente, iluminando o trajeto por onde passa. Deus continua se revelando nas forças da natureza como um guerreiro num combate. O salmo termina com uma confiança inabalável em Javé, mesmo diante dos desafios que possam surgir. É pela nossa fidelidade que Deus nos libertará.

Merece destaque o texto “o justo viverá por sua fidelidade” (2,4). A fidelidade do justo serviu como base para o apóstolo Paulo nas suas cartas aos Romanos e aos Gálatas, quando diz que o “justo vive pela fé” (Rm 1,17; Gl 3,11). Para Paulo, a salvação não se conquista pela observância da lei, mas pela fé no Deus misericordioso. Segundo ele, ninguém se justifica diante de Deus pela observância da lei. Pela sua fidelidade a Deus, o justo encontra a vida e se mantém firme por causa de sua fé, uma vez que sua força é Deus.

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