44. Livro de Miqueias | Paulus Editora

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17/10/2022

44. Livro de Miqueias

Por Nilo Luza

Nada sabemos da vida familiar de Miqueias nem de sua profissão antes de ser profeta. Seu nome em hebraico significa “quem é como Javé”. Ele era natural de Morasti, uma fértil aldeia agrícola em Judá, não muito distante de Jerusalém. Pregou em Judá (Sul) e tudo indica também em Israel (Norte), durante os reinados de Acaz (736-716 a.C.) e de Ezequias (716-687 a.C.), pelos anos 730 a 700 a.C. Miqueias é contemporâneo dos profetas Isaías e Oseias. Enquanto Isaías era da cidade ligado ao templo, Miqueias era do interior comprometido com os pobres do campo. Miqueias conheceu a agonia da Samaria, sua destruição (722 a.C.) e a deportação de muitos israelitas. O livro de Miqueias é fruto de longo processo redacional. A redação final deve ter sido após o exílio babilônico.

Foi muito crítico em relação à elite econômica, política e religiosa de Jerusalém e da Samaria. Não havia muita esperança para os pobres, pois os próprios defensores da religião e da moralidade estavam corrompidos pelo prazer e pela ganância. Miqueias era camponês, representante e porta-voz do povo pobre da terra. Viveu num ambiente campesino, em contato direto com os problemas dos pequenos agricultores. Um profeta da justiça divina para os direitos invioláveis dos pobres. Podemos dividir o livro em três partes.

1. Oráculos de julgamentos (1-3): Nesta parte, predominam os oráculos de ameaças. São oráculos contra os exploradores; contra as injustiças sociais, das quais os chefes do povo são os principais culpados; denúncias contra os falsos profetas, ligados ao poder e ávidos por riqueza e poder; contra as lideranças de Judá e Samaria. Em vez de proteger, os governantes da Samaria e de Jerusalém – magistrados, sacerdotes e profetas – são corruptos que exploram o povo, a fim de obter mais lucro e poder.

2. Promessas de salvação (4-5): Nesta segunda parte do livro de Miqueias, predominam as promessas de salvação do povo de Judá, tentando reconstruir a identidade do povo em torno de Sião e da lei. Acentuam-se a consolação e a esperança messiânica. O povo peregrina para o templo e o monte Sião. Os instrumentos de guerra serão transformados em instrumentos de produção agrícola. Assim o povo poderá viver em segurança e em paz, e usufruir o fruto do próprio trabalho. No monte Sião, Javé reunirá o povo que estava disperso no exílio. A seguir, descreve a promessa de um príncipe messiânico vindo de Belém e não, como se imaginaria, da capital, Jerusalém. Ele vai trazer a paz, ou seja, a libertação da Assíria.

3. Processo contra Israel (6-7): Esta terceira parte apresenta uma situação de violência e de corrupção no reino do Norte. Israel abandonou a aliança com o Deus do êxodo, provocando escravidão e morte. Um processo de Javé contra Israel, convocando a própria natureza (montanhas e colinas) como testemunho e condenando uma religião desligada da vida. Há uma condenação contra as injustiças sociais, praticadas em Israel: o ganho ilícito dos governantes; a falsificação no comércio pelos comerciantes; a ambição de lucro dos ricos. O livro conclui com uma perspectiva de esperança. É uma espécie de celebração litúrgica. São cânticos de esperança que serviram de estímulo para vencer o desânimo e a falta de fé. Exige da comunidade: uma conversão fruto de uma confissão dos pecados; a reconstrução da cidade e dos muros de Jerusalém; o reconhecimento de Javé, pastor e libertador, que guia e protege o rebanho; a total confiança em Deus misericordioso, que sepulta de vez as culpas do povo.

Miqueias faz uma crítica severa contra as injustiças sociais. Para o profeta, é um crime que brada aos céus por vingança. A riqueza de poucos é fruto da exploração de muitos. Miqueias mostra que a riqueza dos ricos e dirigentes políticos e religiosos se baseia na miséria do povo e tem como alicerce a carne e o sangue do povo. Eles, porém, insistem, com a Bíblia na mão, em provar que são justos e que Deus está com eles. Parece que o profeta se refere à nossa triste realidade.

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