43. Livro de Jonas | Paulus Editora

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Bíblia

12/09/2022

43. Livro de Jonas

Por Nilo Luza

Embora colocado entre os Doze Profetas menores, o livro de Jonas não é propriamente um livro profético no sentido clássico, que anuncia e denuncia. Talvez poderia ser considerado como livro sapiencial. Poderíamos dizer que Jonas é o antiprofeta que não quer ir aonde Deus o envia nem dizer o que lhe ordena. O livro surgiu provavelmente em Jerusalém, em torno de 400-350 a.C., quando Israel estava sob o domínio persa. Não é um livro ingênuo de milagres improváveis, mas um escrito sério. Os judeus leem este livro no dia mais sagrado do ano litúrgico, o dia do “Yom Kippur”, dia de expiação do pecado.

O pós-exílio babilônico é um período muito difícil para o povo judeu. Tudo está para ser reconstruído: a cidade e os muros de Jerusalém, o templo, além da própria comunidade que precisa ser organizada. Sem falar dos impérios que se intrometiam na região. É uma época em que os profetas, não alinhados ao poder, quase desapareceram.

A cidade de Nínive do livro de Jonas não tem nada a ver com a Nínive histórica, capital da Assíria. O autor fantasiou uma Nínive enorme. O Jonas do livro é chamado a ser amigo das nações, inclusive um dos grandes inimigos de Israel, os assírios. Com isso, o autor quer mostrar que Israel não pode se fechar em si mesmo.

O livro de Jonas tem o objetivo de instruir os leitores e mostrar que Javé é o Deus de todos os povos. É uma antecipação daquilo que os evangelhos mais tarde irão confirmar. Jonas recebeu uma missão divina de pregar aos assírios, conhecidos como opressores do seu povo. O profeta reconhece o quanto Deus é misericordioso e capaz de perdoar. Só que sua misericórdia estendida aos inimigos vai além daquilo que Jonas pode suportar. Por isso, ao chamado divino, ao invés de se dirigir para Nínive, a leste, ele foge para o oeste. Podemos dividir o livro de Jonas em duas pequenas partes:

1. No mar (1-2): Jonas foge da missão: A palavra de Javé chama Jonas para profetizar em Nínive, a grande cidade. Mas Jonas quer fugir da presença do Senhor, e toma o caminho contrário e embarca num navio com destino a Társis. Grande tempestade ameaça o navio, Jonas dorme tranquilamente no porão do navio. Despertado e jogado ao mar, a tempestade acalma. A tempestade, culpa de Jonas, provoca conversão dos marinheiros. Grande ironia, enquanto Jonas foge de Deus, os marinheiros, adoradores de outros deuses, invocam a Javé, o Deus de Israel. Apesar da desobediência, a missão de Jonas começa a produzir resultados entre os pagãos marinheiros. No ventre do peixe, acontece a conversão de Jonas. Da simbologia das águas, surge o novo nascimento do profeta. Depois disso, ele reza um salmo de súplica e ação de graças, reconhecendo que a salvação vem de Deus.

2. Na terra (3-4): Jonas assume a missão: Agora o profeta assume a missão e se dirige para Nínive, a grande cidade. A pregação fará sucesso em todos os habitantes, inclusive o rei e os animais. Na sua pregação, Jonas se limita e proclamar a destruição de Nínive. Jonas consegue em Nínive aquilo que os profetas não conseguiram no povo de Israel: os pagãos se convertem, participando da penitência. A própria cidade responsável por tanto sofrimento ao povo de Deus acredita na palavra de Jonas e muda de conduta, em particular renunciando à violência. Deus pode mudar se a pessoa também deseja. Diante da conversão dos ninivitas, Deus também se “converte” e desiste do castigo. A conversão dos ninivitas não alegra Jonas, como era de se esperar. Jonas prefere morrer a aceitar que Deus seja misericordioso com aqueles que foram os inimigos de Israel, só estes, segundo ele, merecem ser privilegiados.

O autor procura esclarecer que o Deus de Israel é o Deus de todos os povos. É uma crítica ao nacionalismo por parte de quem não reconhece o valor de outros povos. Jonas não concorda que Deus defenda a vida de todos. A tendência dos nossos dias se assemelha àquela do pós-exílio: rejeição e preconceito contra grupos e povos que pensam diferentes.

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