Ocupados e cansados | Paulus Editora

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Tecnologia e Pastoral

05/11/2021

Ocupados e cansados

Por Ednoel Amorim

Infelizmente, a realidade dos homens e mulheres do nosso tempo é uma realidade marcadamente cansada. Estamos a cada dia que passa mais cansados, o que está interferindo diretamente na qualidade de vida, prejudicando a qualidade das relações e a qualidade daquilo que esperamos para o futuro. Portanto, precisamos identificar as causas desse cansaço sentido, para podermos repensar nossas escolhas e práticas renovadas.

O ciclo rotineiro da vida sempre foi marcado pela intensidade, muito trabalho, atividades diversas e relações que sem sombra de dúvida costuram a nossa vida diária. Porém, o despertar cedo, o suor laboral e tudo aquilo que sempre realizamos nunca foi um problema, ao contrário, o trabalho era visto como pressuposto de dignidade, bastava ver a satisfação do trabalhador em poder ganhar o sustento com o “suor do seu rosto” (cf. Gn 3,19). No final do dia, para além de qualquer tipo de cansaço físico, sempre permaneceu e foi mais sentida a satisfação em poder contribuir com a construção de algo, com o desenvolvimento e sustento da família, com a alegria de ver os filhos crescerem e construírem um futuro.

Hoje, quando vivemos uma fase da humanidade, na qual os recursos técnicos estão amplamente desenvolvidos e oferecem inúmeras possibilidades, parece que o tempo nos foi roubado e as atividades multiplicadas indiscriminadamente. Talvez seja por isso que além de ficarmos mais cansados, desqualificamos a qualidade do nosso tempo de descanso. Evidentemente, uma pessoa que não descansa no momento devido irá produzir bem menos, além de tentar realizar milhões de coisas ao mesmo tempo, sem, no entanto, realizar bem nenhuma delas e por esse mesmo motivo ficará não só cansado, mas também frustrado.

É bem verdade, que neste período de pandemia, algumas atividades foram assumidas por conta de uma necessidade, mas nada disso pode virar regra, não podemos misturar ambiente de descanso e ambiente de trabalho, não podemos trocar a noite pelo dia, não podemos viver escravos do “vou adiantar só mais um pouco…” Temos que voltar a tomar decisões. O mercado, os algoritmos e a manipulação das empresas de tecnologia e afins não podem nos dizer o que fazer e nos controlar. Se não formos capazes de saber a hora de desligar o wi-fi e os dados móveis, deveremos nos perguntar se ainda somos livres. Sim! Podemos desligar o vínculo da conexão, embora pareça ser consenso de que estamos 24h conectados, essa necessidade é talvez a mais falsa das mentiras contadas na atualidade. O que realmente deve ser encarado como uma necessidade do nosso tempo é retomarmos as rédeas da nossa vida e da nossa história se realmente queremos continuar a contá-la.

Ações simples farão toda a diferença: organizar um horário real, defini-lo e segui-lo. Esse horário deve privilegiar o tempo de trabalho, alimentação saudável, beber água, praticar atividades físicas, lazer, descanso, convívio com pessoas, cuidado com a casa, cuidado de si, leitura, informar-se, em síntese: é preciso encontrar tempo para viver, na certeza de que existe tempo para tudo (cf. Ecl 3,1).

Quando nascemos, o mundo e seus problemas já estavam aí, quando morrermos eles continuarão o seu curso, todavia, nós podemos sair deste curso antes do tempo. Nossa única preocupação deve ser, a exemplo de Jesus, que passou por este mundo fazendo bem todas as coisas, nos dedicarmos a fazer com que no dia de nossa partida desta vida deixemos o mundo um pouco melhor do que o encontramos. Tudo isso depende unicamente de decisão, ou seja, depende exclusivamente de cada um de nós. O que nos resta é alertar, mas não podemos decidir por você.

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