Comunicação e sociabilidade | Paulus Editora

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Igreja e Sociedade

16/10/2013

Comunicação e sociabilidade

Por Valdecir Luiz Cordeiro

A revista semanal CartaCapital, em matéria de capa, de Edição recente, tratou do tema da “nova sociabilidade construída nas redes sociais”. Faz constatações preocupantes. As mídias sociais da internet estão reforçando o anomismo prometido e apenas parcialmente proporcionado pela televisão, no qual o máximo envolvimento coincide com o máximo anonimato. Um feito que faz vicejar na rede verdadeiros brucutus que minam a comunicação real com um linguajar eivado de autoritarismo e prepotência, de preconceitos e vulgaridades.

A despeito do caráter liberador da internet e das redes sociais, o ambiente virtual tem dado vasão a atitudes ancoradas nos resíduos do autoritarismo e da barbárie, que ainda flutuam nas sociedades do mundo inteiro. Muitas pessoas escrevem na internet barbaridades que jamais diriam aos outros pessoalmente. O debate de temas políticos e sociais é eivado de preconceitos e autoritarismos desabridos, de palavras de baixo calão, e de prepotência em relação às opiniões contrárias. O moralismo formata os cérebros e impede um pensamento rico e o debate aberto. Geralmente, os comentários sobre a vida cotidiana não superam o nível das vulgaridades dos Big Brothers. Tais situações contradizem a própria ideia de comunicação.

Já se tornou um lugar comum na tradição cristã que comunicação é comunhão. Ora, a palavra comunhão vem do latim, communio, um termo derivado de communis, que é a junção de cum (com) e munis (que cumpre o seu dever). O adjetivo “munis” é derivado de múnus, que significa cargo ou função. Portanto, comunhão é a partilha da própria liberdade e responsabilidade com outras pessoas.

A comunicação é algo semelhante. Comunicar é tomar parte do processo através do qual a verdade sobre o ser humano e sobre o mundo é partilhada na comunidade humana. Isto supõe respeito e cordialidade para com os outros.

A comunicação começa com o reconhecimento do outro. Nós não existimos sem os outros. O ser humano é essencialmente relação, encontro de pessoas. Não pode haver comunicação quando o outro é destruído pelo autoritarismo, pela truculência e pelo preconceito. O anonimato não atenua o impacto negativo de tais atitudes. A comunicação, mesmo no ambiente virtual, supõe a passagem do antagonismo truculento ao reconhecimento do outro como um parceiro no diálogo.

A compreensão da comunicação na tradição cristã funda-se no ato criador de Deus. Ao criar o ser humano, Deus comunica o seu próprio ser amoroso à sua criatura. Na base da capacidade se comunicar está o amor de Deus, ou seja, está a dimensão relacional que constitui o ser humano. Neste sentido, a comunicação não é a simples transmissão de informações, mas o diálogo respeitoso e a livre colaboração que unem as pessoas na única busca da verdade.

A interatividade proporcionada pela internet, em suas várias modalidades de uso, pode ser um valioso instrumento a serviço da realização da vocação do ser humano. Jesus Cristo aconselhou aos seus interlocutores a prática do amor e do respeito. Dessa forma “conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (Jo 8, 28).

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