A verdade está na minha cabeça | Paulus Editora

Colunistas

Tecnologia e Pastoral

05/01/2022

A verdade está na minha cabeça

Por Ednoel Amorim

Quanto mais o tempo passa, mais alguns se convencem que o ser humano tem evoluído, mas não parece ser verdade. Pois a capacidade intelectual que o ser humano se orgulha tanto parece estar diminuindo, está estagnada ou talvez esteja adormecida e viciada, o que seria a melhor hipótese. É bem melhor que ter acabado de vez. É fato que o mundo está repleto de problemas, desafios incontáveis, circunstâncias diversas. Em relação a cada um deles existem posicionamentos igualmente diferentes.

O interessante é que cada um emite um pensamento sobre tudo e na maioria das vezes conclui que essa sua versão da realidade ou essa sua opinião em relação a determinado assunto ou até mesmo a sua proposta de solução frente a um problema é o melhor e o mais perfeito possível. É como se todos dissessem: A verdade está na minha cabeça! Eu sou o dono da verdade! Eu tenho razão!

Numa sociedade onde as pessoas, mesmo que inconscientemente pensem assim, é óbvio que todas não podem estar com a verdade, uma vez que cada um pensa de um jeito. Como podem estar certos todos em um grupo, sendo que cada um fala algo diferente? Do mesmo modo, se consideramos que todos não podem estar certos, todos não podem estar errados. Nesse caso, a razão impulsiona e diz que o melhor caminho é o diálogo, a construção de algo que comtemple as diversas realidades e dinâmicas e seja capaz de gerar um caminho comum, onde as pessoas não se anulem, mas também não se imponham umas sobre as outras, como se sua verdade fosse a única possível.

Em matéria de desenvolvimento técnico, de fato, hoje, os recursos que estão à nossa disposição são de altíssima tecnologia, porém essa tecnologia está na mão de poucos e por causa dela não é verdade que as fraquezas humanas tenham mudado de algum modo. O ser humano continua suscetível à prática do mal como sempre esteve. Isso para falar sobre outro aspecto da reflexão sobre a verdade, ou seja, não podemos ligar o avanço técnico com o avanço humano e achar que todas as pessoas falam a verdade o tempo todo e sempre estão com as melhores intenções, pois isso certamente não se confirma.

Chega a ser cansativo receber tantas “verdades” compartilhadas e enviadas pelas várias mídias digitais. Os mais ingênuos acreditam em qualquer coisa, simplesmente pelo fato de ter sido veiculado na internet, por existir uma imagem, uma foto etc. Quanta desinformação está sendo espalhada pelo mundo neste exato momento. O pior é ver as pessoas falando de coisas que elas não entendem, nunca ouviram falar, nunca estudaram sobre o assunto, mas são influenciadoras e comprometidas com uma verdade fabricada em vídeos que não duram 3 minutos e jogam no lixo esforços de anos daqueles que realmente levam a humanidade a sério.

Tenhamos o devido cuidado para não acharmos que nossas pesquisas na internet nos ajudam a “descobrir a roda” uma segunda vez, e que isso nos dá o direito de desacreditar aquilo que cientistas do mundo inteiro levaram anos para consolidar. Cuidado para que um anônimo que editou um “videozinho” num quarto de apartamento em algum lugar do mundo mereça mais crédito que um especialista em determinado assunto.

Os seres humanos que de fato se orgulham de suas capacidades intelectuais deveriam se envergonhar diante de verdadeiras loucuras em que acreditam e que muitas vezes se tornam cumplices de sua disseminação. Pensemos nisso com seriedade e discernimento, pois a verdade não pode ser fabricada a partir de opiniões, ela se apresenta por meio de fatos e pela análise coerente da realidade.

nenhum comentário