O ser humano como mercadoria | Paulus Editora

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Família

07/03/2014

O ser humano como mercadoria

Por Suzana Coutinho

A Campanha da Fraternidade deste ano traz como tema o tráfico humano, contrapondo-o com a liberdade humana desejada por Deus e para a qual Cristo nos resgatou. A escravidão parecia ter um início e um final na história do Brasil, mas se sabe que, ao contrário, ela continua viva na sociedade atual, sob diversas formas. Em muitas dessas situações, a família é colocada como “autora”. Pais e mães que “entregam” seus filhos para a prostituição, para o trabalho análogo ao de escravo ou ainda, crendo ser para a adoção, ao tráfico internacional de órgãos. É um cenário desesperador. Antes, porém, de acusar essas pessoas, é preciso compreender os aspectos que as levam a tal decisão.

Embora reconheça-se que a família é e deve ser uma instituição protetora e promotora do desenvolvimento pleno das pessoas, há diversos aspectos, complexos por sinal, que dão a ela outros traços. A situação social de muitas delas, comprometida pela situação econômica e por uma cultura de desvalorização da vida, leva a situações de grande fragilidade dos laços internos. Ainda mais quando pessoas, organizadas para o crime, assediam essas famílias com promessas de bem estar, aproveitando-se da instabilidade nelas presente. Não vendo outras saídas, pais, mães e avós são envolvidos na teia do tráfico humano.

Os evangelhos nos narram diversos episódios em que Jesus liberta as pessoas de situações de não-vida: dos “demônios”, do pecado, das sentenças injustas, da fome e da dor, entre outras. Em Nazaré da Galileia, abre o livro do profeta Isaías e proclama: “O Espírito do Senhor está sobre mim (…) para anunciar a Boa Nova aos pobres; enviou-me para proclamar a libertação aos presos e aos cegos a recuperação da vista; para libertar os oprimidos (…)” (Lc 4, 18). Que bom se todos os cristãos e cristãs pudessem ter esse “programa” como também o seu e dizer a todas as pessoas e famílias que vivem a tragédia do tráfico humano: “Hoje se cumpriu essa passagem da Escritura” (Lc 4,21).

Que o tempo desta quaresma, com a realização da Campanha da Fraternidade, ajude as famílias e as instituições cristãs e de boa vontade a se unirem contra o tráfico e a escravidão humana. Que sensibilizadas, possam se organizar para uma ação efetiva contra tudo que coloca em risco a vida de tantas famílias, como as estruturas político-econômicas, sociais e culturais, buscando, assim, fortalecer os laços de amizade, compaixão e solidariedade, fundamentados no amor, para que todos tenham vida e a tenham em abundância.

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