O natal de duas famílias | Paulus Editora

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Família

17/12/2015

O natal de duas famílias

Por Suzana Coutinho

Aproximam-se as festas natalinas. No plural, porque são muitos os jeitos de celebrá-la. O natal foi uma adaptação de uma festa pagã, dedicada ao deus sol. No inverno rigoroso da Europa, celebrar o sol como fonte da vida não é nada estranho. Foi por isso que a Igreja adaptou tal rito ao cristianismo, vendo em Jesus o grande Sol, a fonte de toda a vida, capaz de quebrar todo o frio da morte. A festa cristã também foi adaptada às intenções do capitalismo. Transformou-se, passando a alimentar o comércio e a indústria, a ser fonte privilegiada de trocas de mercadorias por dinheiro.

E agora, um novo discurso transforma a festa: de religiosa para “familiar”.

Trata-se de um discurso sem-religião, para uma festa, desde o seu início, religiosa: fosse pagã ou cristã, seu sentido foi de encontro e agradecimento à divindade, pela vida que se renova. Agora, é simplesmente a festa da família. Ponto final. Vê-se, então, o confronto entre “duas famílias”: a de Nazaré e a “comercial”.
A família de Nazaré protagoniza o natal lembrando que Deus não deixa de cumprir suas promessas: acolhe os pequenos, liberta os cativos, faz ver os cegos, derrota os grandes e seus tronos, como cantou Maria no Magnificat (Lc 1,46-55). A família comercial se reúne, mas não se encontra, porque deve se isolar antes e depois da festa: precisa “dedicar-se” exclusivamente a ter fama, sucesso, ganhar dinheiro. A festa de natal é pretexto para as roupas e sapatos novos a serem exibidos, mesa farta e presentes modernos, de última geração, de marca. Precisa marcar presença, e não ser presença.

Lembra o rei Assuero que “queria ostentar a riqueza e glória do seu reino, com o fausto magnífico de sua grandeza” (Es 1,4).

O papa Francisco, em recente encontro com as famílias em Manila (Filipinas) recordou: “As famílias podem tornar-se uma bênção para o mundo. O amor de Deus torna-se presente e ativo a partir do modo como nós amamos e das boas obras que praticamos.

Fazemos crescer o Reino de Cristo neste mundo. Ao fazê-lo, mostramo-nos fiéis à missão profética que recebemos no Batismo”.

Como celebrar, verdadeiramente, o natal? O encontro, a mesa cheia, a partilha, a festa não são, de modo algum, maneiras erradas de celebrar o natal cristão. Mas, não podem estar vazias de sentido. Devem ser sinal da vivência do dom de Deus em nossas vidas. Celebramos seu encontro conosco, no pequeno menino de Belém. Este é o sentido do natal cristão.
Que nossas famílias, ao celebrarem o natal, sejam luz para o mundo.

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