ANTES DA OUTRA MARGEM
No evangelho de hoje, Jesus ordena aos discípulos que sigam para a outra margem. Ocorre que, para chegarem à outra margem, eles devem estar despidos de toda espécie de preconceitos. Devem sobretudo estar convencidos de que estão obedecendo ao mandato do Mestre. Mas, pelo visto, ainda falta uma experiência mais profunda de fé. Parece evidente a incapacidade dos discípulos (comunidades) de penetrar no projeto de Jesus.
Isso porque não basta apenas seguir o que o Mestre ordena. É preciso estar convicto de que quem ordena é a razão da missão. O missionário não faz missão com as próprias forças e capacidades. A missão é fruto do Espírito que Jesus infunde nos discípulos. Se não for assim, a possibilidade de afundar nas águas agitadas da vida é certa. Pedro tem fé e ousa ir ao encontro do Senhor, mas sua fé ainda é insuficiente e ele começa a afundar, pois teme o vento. “Socorro, Senhor!” O discípulo é chamado a aderir ao projeto de Jesus com a cabeça, com o coração e com as ações.
Vale observar que todos seguem para a outra margem. Somente Jesus fica em terra. Há uma espécie de conflito: a presença e a ausência do Mestre. Os discípulos estão à deriva. Sentem-se abandonados às forças violentas das águas do mar. A agitação é resultado da incompreensão a respeito de quem é verdadeiramente o Messias, o ungido. Essa incompreensão está implícita na confusão de visão: pensam que Jesus é um fantasma. A tempestade somente se acalma mediante a ação e a palavra do Senhor da criação, Jesus. “Tende confiança. Sou Eu. Não temais”.
A expressão “sou eu” recorda o modo como Deus se manifesta no Antigo Testamento (Ex 3,14), como aquele que está próximo e pronto a agir com eficácia. Portanto, Jesus tem o poder dado pelo Pai de acalmar toda a agitação. Ele é o Senhor da criação. “Antes de toda criatura ele existe, e é por ele que subsiste o universo” (Cl 1,17).
Ele está com os discípulos. Jamais os abandona, ainda que as águas sejam agitadas, o vento violento e a noite assombrosa. A comunidade cristã só precisa aceitar, aderir à sua mensagem e deixar-se guiar por ela. Com a confiança em Jesus é possível superar todo o medo, pavor ou incerteza. Ele é a segurança. O caminhar sobre as águas mostra que Jesus é a solidez que sustenta a fé. Ele é a segurança. Cabe a seus seguidores aderir à sua pessoa com todo o coração e com toda a alma, vivendo a alegria do seguimento. Assim, todas as tempestades são superadas, pois ele é o Senhor da vida, da natureza e da história. E quando o medo vier, não tenhamos receio de pedir socorro: “Salva-me, Senhor!”
Pe. Antonio Iraildo Alves de Brito, ssp
O objetivo deste periódico é celebrar a presença de Deus na caminhada do povo e servir às comunidades eclesiais na preparação e realização da Liturgia da Palavra. Ele contém as leituras litúrgicas de cada domingo, proposta de reflexão, cantos do Hinário litúrgico da CNBB e um artigo que trata da liturgia do dia ou de algum acontecimento eclesial.
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