Em tempos marcados pelo forte patriarcalismo no início e decorrer da história do Cristianismo, muitas foram as mulheres que se destacaram por seus testemunhos de vida, fé, coragem e fidelidade a Deus. Nas Sagradas Escrituras é possível conhecer muitas delas, mesmo com seus erros e acertos, mas, sobretudo, com a perseverança que as mantiveram de pé diante das dificuldades da vida.

Os exemplos dessas mulheres sinalizam que a fé em Deus nunca é em vão e que o Senhor realiza grandes maravilhas em favor dos que n’Ele acreditam. Entre algumas dessas personagens destacam-se algumas figuras marcantes nos primórdios da história de Israel apresentadas no Antigo Testamento e, após a vinda de Jesus Cristo, conforme as narrações do Novo Testamento.

Essas mulheres têm nomes e sobrenomes, são mães, avós, irmãs, tias, servas e estrangeiras. A figura feminina a partir de Eva e suas ações foi se destacando e ganhou novos episódios que compuseram a história do povo de Deus. Entre as que citaremos a seguir, estão Sara, Rebeca, Míriam, Débora, Rute, Ester, Maria – Mãe de Jesus, Maria de Betânia e Maria Madalena, apenas algumas entre tantas outras citadas na Bíblia e que não caberiam neste texto. 

Na história de Sara, esposa de Abraão, constata-se a força de Deus, cuja ação é perfeita e nada impossível de se realizar. Os relatos bíblicos revelam que Sara aos 90 anos de idade, mesmo na velhice concebeu e deu à luz ao seu primogênito Isaac. Em um cenário em que predominava a tristeza, Deus fez surgir a alegria na vida de Sara, que logo passou a louvá-lo pela grande proeza, conforme mencionam os textos bíblicos “’Deus me deu motivo de riso, e todos que souberem disso vão rir para mim”‘, exaltou, (Gn 21,6). Rebeca foi esposa de Isaac e também foi escolhida por Deus para dar continuidade à descendência de Abraão. Após 20 anos de oração a Deus para gerar filhos, a jovem foi agradecida tornando-se mãe dos gêmeos Esaú e Jacó (Gn 24,25).

Depois Míriam, irmã de Aarão e Moisés, que mesmo vivendo como escrava em terras egípcias junto a sua família teve um papel fundamental na libertação do povo de Israel, começando pelo momento em ela que salva a vida de Moisés ainda bebê, colocando-o no Rio Nilo para ser encontrado pela princesa egípcia. Na figura desta profetiza é possível aprender sobre a fé convicta nas promessas de Deus e o louvor em meio aos desertos existenciais. “’Cantem a Javé, porque grandemente se enalteceu: ele atirou ao mar carros e cavalos’”, entoava. (Ex 15,20). 

Em seguida, a juíza e profetisa Débora, mulher de fé que liderou o povo de Israel, quando não havia um rei para orientar e guiar o povo frente aos inimigos, era o tempo dos Juízes. Foi considerada sábia, conselheira e temente a Deus. “Sim, sejam arruinados os teus inimigos, Javé, e os que te amam sejam como o nascer do sol quando surge com toda a sua força”, louvava a Deus. (Jz 5,31).  

Na sequência, a figura de Rute, viúva e estrangeira, ela age com generosidade e abandona os costumes antigos e opta pela fé do povo de Israel. Logo, o Senhor olhou para a fidelidade e compaixão com que a jovem cuidava de sua sogra Noemi mesmo em terras estrangeiras. “’Pois aonde você for, eu também irei. Onde você passar a noite, eu também passarei. O seu povo será o meu povo, e o seu Deus será o meu Deus’”, afirmou a jovem,  (Rute 1,16).

Vale lembrar-se da Israelita Ester, cujo propósito de governança na Persia agradava o coração de Deus, era sábia, bonita e inteligente e ajudou a salvar o povo de Deus de um grande massacre em território estrangeiro. (Ester 1-10).

Protagonismo no Novo Testamento

No Novo Testamento, encontram-se outras figuras femininas que aos poucos se tornaram exemplos de espiritualidade e proximidade com Cristo. Partindo da figura da Virgem Maria, que disse o “Sim” ao anjo Gabriel, a humildade e doação da jovem agraciada por Deus para ser a mãe do salvador do mundo, certamente mudou a história da humanidade, conforme seu despojamento, humildade, obediência e outras virtudes relatadas nos textos bíblicos: “’Eis a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua Palavra’” (Lc 1, 46-56). 

Maria de Betânia, irmã de Marta, desejou intensamente contemplar Jesus e ouvir os seus ensinamentos, foi a mulher que despejou óleo sobre os pés de Jesus e os enxugou-os com os cabelos (Mt 26, 6-13), sendo lembrada por escolher a melhor parte ao ouvir as palavras do mestre. 

Maria Madalena é conhecida como a discípula fiel de Jesus e testemunha da Ressurreição do Senhor, ela foi a primeira a encontrar-se com o Cristo Ressuscitado, logo, dirigiu-se apressada ao encontro dos outros discípulos para anunciar-lhes a boa notícia, conforme narram os Evangelistas (Lc 8). Em Madalena encontra-se a figura do recomeço, da fé e do amor fraternal dedicado ao mestre que a olhou com compaixão e misericórdia. Além das mulheres citadas, a Bíblia relata a participação, protagonismo e diversas outras mulheres que foram exemplos de fé e que deixaram valiosos ensinamentos para o povo de Deus.

No livro lançado pela PAULUS “Mulheres que conquistaram espaço e voz na Bíblia”, o autor Joel Antônio Ferreira convida a refletir sobre outras personagens que resistiram ao sistema do poderio do patriarcalismo e conquistaram espaço e voz na Bíblia. Nesta publicação, além das mulheres já citadas no texto, ele traz as histórias de Agar, Tamar, as parteiras dos hebreus, as escravas hebreias, mulheres que contestaram o faraó, as cinco filhas de Salfaad, entre outras figuras femininas que inspiram e encorajam outras mulheres.

Além deste, outros títulos como “Mulheres no cristianismo primitivo – poderosas e inspiradoras”, organizado por Cláudio Umpierre Carlan, Pedro Paulo Abreu Funari e o livro “Mulheres na vida de Paulo”, escrito por Lúcia F. Arruda, entre outros, convidam a refletir, conhecer e aprofundar o protagonismo dessas mulheres ao longo da história do cristianismo. 

Cleane Santos Rodrigues nasceu em 1988, no Estado da Bahia (BA). É assessora de imprensa na PAULUS Editora, catequista e coordenadora do grupo de catequistas da Comunidade São Sebastião – Paróquia Bom Pastor da Diocese de São Miguel Paulista. É graduada em Jornalismo pela Faculdade PAULUS de Comunicação (FAPCOM).

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