Machine learning: uma criança perigosa em desenvolvimento | Paulus Editora

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Tecnologia e Pastoral

05/04/2021

Machine learning: uma criança perigosa em desenvolvimento

Por Ednoel Amorim

Em nossa história humana, após o alvorecer do cristianismo, a voz dos papas, seja em discursos, homilias e outros pronunciamentos, até mesmo por meio de cartas e outros documentos, sempre representaram algo aos quais podemos dar atenção, levar em consideração e confiar.

Hoje, muito se fala da Inteligência Artificial, alguns inclusive com receios e muitas ressalvas. De fato, o campo tecnológico que engloba esses processos é um universo vasto e ainda desconhecido por muitos, e por isso é natural que surjam temores. Porém, o Papa Francisco disse, na audiência geral do dia 30 de setembro de 2020, que não precisamos ter medo da Inteligência Artificial, no entanto, sempre precisamos observar que os problemas da nossa sociedade não serão solucionados por ela e sim pela ternura que nutrimos dentro de nós e é especificamente humana.

O Machine learnig (aprendizado de máquina) é um dos processos, dentre tantos, que compõe aquilo que podemos chamar de Inteligência Artificial, aquilo que nós humanos construímos com uma capacidade de armazenar informações e identificar padrões. O que existe é um algoritmo, ou seja, um código de computador, que é programado para “aprender”. O código vai armazenando informações, interpretando preferências, estabelecendo padrões, produzindo resultados de acordo com o objetivo almejado por quem criou o algoritmo ou o encomendou e a partir disso tomando decisões. Aqui aparece um dos problemas, pois o algoritmo desenvolve o seu “aprendizado” não de informações que lhe são fornecidas diretamente, mas sim de um grande banco de informações que todas as pessoas que utilizam a internet fornecem. A internet, bem sabemos, está presente em quase tudo e por isso empresas, grupos e demais organizações podem criar o que quiserem, manipular inclusive, pois a potencialidade de um código como são os códigos de Machine learning é um potencial altíssimo.

Por isso, esses tipos de programações são como crianças. Elas aprendem aquilo que seus pais lhes ensinaram, mas, por maiores que sejam os esforços de seus pais para darem uma boa educação à criança, a partir do momento que tem contato com outras pessoas ela poderá aprender outros valores e desenvolver uma personalidade totalmente diferente daquele sonhada por seus pais, tornando-se, assim, uma criança inclusive perigosa para a sociedade. Os códigos de Machine learning também são assim e por isso o criador deve tomar cuidado com o tipo de programação que está criando. Ela poderá aprender sozinha, com base nas nossas escolhas, com base nos rastros que deixamos na internet e nós sempre deixamos rastros.

Não é sem motivo que se a sociedade for racista o algoritmo também será, se a sociedade for violenta o algoritmo também será e assim por diante. É preciso que sejamos comprometidos a espalhar ternura no mundo para que os frutos dessa ternura sejam capazes de repercutir inclusive nas novas tecnologias, mas também precisamos de programadores e empresas éticas que estejam igualmente comprometidos com o aprimoramento desses processos a fim de que não possamos ser vitimas de uma interpretação injusta por parte da inteligência artificial que a cada dia está sendo usada para selecionar pessoas para vagas de emprego, verificar indícios de crime em investigação policial etc. Não vai demorar para que isso se espalhe e seja comum, mas só podemos aceitar esse tipo de intervenção se tivermos a garantia da prática da justiça para todos.

O Papa Francisco juntamente com outros organismos da Igreja Católica tem dialogado com setores da sociedade interessados em tecnologias de Inteligência Artificial para que desenvolvam de forma ética essas tecnologias. Unamo-nos a ele nesta jornada nos interessando por esses assuntos, estudando, dialogando e promovendo debates sobre o tema.

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