Homens de muita fé! | Paulus Editora

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Tecnologia e Pastoral

05/08/2021

Homens de muita fé!

Por Ednoel Amorim

Nossa sociedade está marcada pela confiança nas tecnologias, em outras palavras o que temos são homens de muita fé naquilo que eles mesmos criaram. Tudo funciona a cargo delas, processos, equipamentos, relações, contatos etc. Confia-se tanto nas tecnologias que quando elas apresentam algum defeito ou qualquer tipo de problema nem sempre conseguimos perceber de imediato. Basta observar um problema no WhatsApp. Conferimos se a energia elétrica está conectada, verifica-se a conexão wi-fi, mas a última coisa que pensamos é que pode ter ocorrido um problema na central do aplicativo. Quando passam algumas horas e nos chegam as notícias, só então é que nos damos conta do ocorrido.

Isso é um indicativo de diversas realidades, mas a principal que podemos destacar é que a sociedade atual está dependente dos processos tecnológicos digitais. É bem verdade que isso não foi da noite para o dia, no entanto, é um processo que vem acontecendo cada vez mais rápido, influenciando não somente no modo como utilizamos as coisas, estudamos ou trabalhamos, mas está diretamente ligado ao modo como agimos e nos relacionamos.

Cresci assistindo televisão aberta na praça pública que fica atrás da Igreja Matriz da minha cidade natal ou na TV da vizinha, com hora marcada para ver a novela ou um filme da “Sessão da Tarde”. Quando tivemos condições de comprar nosso próprio aparelho de TV já podíamos também ter o nosso próprio vídeo cassete e assistir a filmes da locadora do bairro mais próximo, no entanto, quando menos esperávamos, o DVD surgiu aposentando prematuramente o jovem vídeo cassete. O pobre DVD não teve tempo nem de esquentar o lugar já foi deixado de lado. Meus amigos e eu quando sonhamos com um cinema na cidade para planejar os finais de semana, a Netflix veio nos levar de volta para dentro de nossas casas. O retorno teve um “up”, pois a TV já não era a mesma, ganhou inteligência, nós também já não somos os mesmos e nos alegramos em poder escolher qualquer filme, influenciar a empresa de streaming e “maratonar” séries nos finais de semana.

Aos poucos a sociedade está caminhando para resolver todas as suas demandas no modo on-line, tudo está entregue aos bancos de dados, quase tudo depende do funcionamento da rede e muito em breve tudo estará ao seu cargo em prejuízo daqueles que não forem capazes de acompanhar essa evolução. Em pouco mais de 20 anos assistimos à transposição gradual do analógico para o digital, o conceito de rede social foi adaptado para as mídias digitais e o que antes acontecia lentamente na vida cotidiana e corriqueira, agora acontece no ambiente digital de forma frenética. Muitos são os benefícios da rede de conexões, mas será que ela merece toda essa fé que a ela devotamos?

A rede conectada e nós dentro dela possuímos um potencial grandioso. Com ela construímos aquilo que chamamos de inteligência coletiva, devemos aproveitar dessa inteligência para construir uma sociedade melhor. Mas é preciso também tomar os devidos cuidados para não nos cercarmos de experiências totalmente virtuais, pois pode ser que quando procuremos o caminho para retornar este já não exista mais. Dizem que existe vida inteligente na terra, cuidemos para que essa inteligência não esteja apenas dentro das máquinas e algoritmos.

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