Conselhos para a felicidade | Paulus Editora

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Psicologia e Sociedade

14/02/2017

Conselhos para a felicidade

Por Gustavo Trevisan

Esta semana recebi um texto, em uma das minhas redes sociais, sobre os 15 conselhos do Papa Francisco para bem viver a Quaresma (tempo litúrgico da Igreja católica que antecede à Páscoa). Acredito que, ao escrever cada conselho, o papa Francisco estava pensando nas boas práticas cristãs, principalmente em orientar o comportamento de cada fiel dentro do paradigma do Evangelho, levando em consideração coisas simples do dia a dia.

O texto me chamou muito a atenção, porque embora seja uma “cartilha cristã”, psicólogos e estudiosos do comportamento podem se apropriar dele para fazer um roteiro, uma espécie de passo a passo de como vencer certos “fantasmas” e estados emocionais limitantes.

Se um dia uma criança me perguntasse: “Professor, como faço para ser feliz?”, por motivos óbvios não poderia recorrer a textos filosóficos complexos, primeiro por se tratar de uma criança, segundo porque na própria filosofia o conceito de felicidade tem divergências. Claro que não poderia recorrer aos textos de Freud, e também por dois motivos: Freud, só para maiores de 18 anos, e não é uma boa ideia dizer a uma criança que ela não é tão livre quanto parece. Poderia recorrer a estórias e contos, mas tenho lá minhas dúvidas se um dia alguém já conseguiu a proeza de infantilizar um conceito tão complexo assim.

Os conselhos de papa Francisco talvez sejam algo de mais espetacular de como devemos conduzir a nossa vida. Com certeza a pergunta dessa criança não teria uma melhor resposta. E mais, serviria também para nós psicólogos que, por vezes, complexamos o simples, colocamos curvas em retas, e ainda codificamos conceitos para ter a falsa sensação de que só nós somos os detentores do saber da mente humana.

Vamos a eles…

1) Sorrir sempre.

Todos nós sabemos da capacidade de um sorriso. Os problemas são nossos, mas o sorriso é dos outros. Se não tem motivos para sorrir, procure um; é ele que vai deixar mais leve seu dia, é ele que vai atrair as pessoas para perto de você (acredite, precisamos de gente perto da gente). Tem correntes da psicologia que acreditam que comportamentos geram sentimentos, portanto sorrir pode enviar informação para o seu cérebro e gerar emoções positivas.

2) Agradeça (mesmo se não precisar fazê-lo).

Já diria Aristóteles que a gratidão é uma virtude para poucos. A gratidão o deixa mais sensível ao mundo e aos outros. Quando você agradece, você também passa uma mensagem de que o outro é importante, e vocês convivem numa relação de interdependência. A ingratidão gera afastamento e isolamento. Quando se agradece pelos detalhes, os detalhes tornam-se importantes e as pequenas coisas ganham valor, você começa a perceber que precisa de muito pouco para viver, também experimenta o desapego e a partilha, pontos fundamentais para viver em sociedade.

3)Lembrar aos outros que você os ama.

Ao falar para as pessoas dos seus sentimentos, a relação ganha transparência e afeto, diminuem os conflitos, o ciúme e a negligência. Cria-se um ambiente de segurança, em que a individualidade ganha apoio e segurança, sem ser transformada em individualismo.

4) Cumprimentar com alegria as pessoas que você vê todos os dias.

Item básico da cartilha da boa convivência. Dessa forma você demonstra para o outro que ele é visto e percebido. Diminui a insegurança e frieza. A resposta que você obtém depende da comunicação que você emite. Quer ser bem tratado, trate bem as pessoas.

5) Ouvir a história do outro sem preconceito, com amor.

Tudo na vida tem dois lados e todo comportamento tem por trás uma intenção positiva. Um ouvido atento a escutar sem julgamento garante transparência e verdade na relação. As relações sólidas são construídas com verdade, mas ela só encontra espaço onde não tem julgamento, preconceito e desrespeito. Pessoas felizes têm relacionamentos sustentáveis e verdadeiros.

6) Pare e ajude quando alguém precisar.

Comportamentos como esse geram relações de ajuda mútua. Agindo assim você deixa claro que não está sozinho no mundo, que é um ser social, e para viver em comunidade precisamos ser interdependentes. O exercício de olhar para o outro nos leva a ver que os problemas podem ser divididos, tornando-se menos pesados e mais fáceis de suportar.

7) Incentivar quem está desanimado.

A palavra tem poder de construir e destruir. Ao incentivar alguém, você gera produção que se desencadeia em massa, você ganha, o outro ganha, a comunidade ganha. Uma sociedade motivada é produtiva, tem menos problemas e gera satisfação e prazer.

8) Alegrar-se pelas qualidades ou realizações dos outros.

Algumas pessoas infelizmente acreditam que, para o outro ganhar, precisam perder. São pessoas ocas, vazias, que, para se sentirem bem, precisam ver o outro perdendo, como se isso tivesse alguma relação. Pelo contrário, pessoas felizes produzem felicidade na vida dos outros, pessoas derrotadas produzem derrotas na vida dos outros. Quando o outro ganha, você ganha também. O bem que você emana, volta pra você.

9) Juntar as coisas que você não vai mais usar e dar a quem precisa.

Pessoas apegadas são pesadas demais para caminhar, acumulam coisas desnecessárias, perdem o foco, e tornam-se egoístas. Quem se apega a coisas se apega também a ideias, torna-se inflexível e de difícil convivência, é fechado a novas ideias e padece na ignorância.

10) Ajudar quando necessário para que o outro descanse.

Em um mundo sistêmico, dar descanso ao outro é conservar quem você ama. O outro é visto, se sente importante e digno, diminuem os conflitos e a negligência. O ambiente fica mais leve, propício para o diálogo e a empatia.

11) Corrigir com amor e não calar por medo.

Um dos passos da evolução e desenvolvimento é dar sentido ao erro. Todos nós erramos, mas alguns aprendem, outros não. De um erro podemos sentir arrependimento e remorso, mas também podemos evoluir em aprendizado. Faça que o erro do outro vire aprendizado, e não a dor do remorso.

12) Cuidar com carinho especial dos que estão perto de você.

O isolamento é um sintoma social do nosso século. A felicidade é construída na convivência, e não no isolamento. Engana-se quem pensa que é possível ser feliz sozinho. Estar sozinho é muito diferente de ser sozinho. O primeiro faz parte da construção da independência e individualidade, já o segundo traz prejuízo à saúde emocional, afinal somos seres sociais que precisam do outro para se reconhecer. Quando cuidamos dos outros, sustentamos a ideia de que os relacionamentos se constroem no cuidado e respeito mútuo, a convivência ganha sentido e sabor de necessidade.

13) Limpar o que se usa em casa

Muito curioso esse conselho, não? Mas ele é mais simples e necessário do que parece. Para que a engrenagem social funcione bem, todos precisam executar o seu papel. Se um dente da engrenagem quebra, o processo fica descompassado, gerando, portanto, um mau funcionamento da estrutura. “Deixe limpo o que usa” é o mesmo que dizer: tenha responsabilidade, termine o que começou, não deixe as coisas pela metade. Para meu trabalho ser bem-feito, o seu tem que estar também.

14) Ajudar os outros a superar os obstáculos

Um conselho simples, não é? Mais uma vez fica aqui a ideia de um mundo sistêmico; portanto, engana-se quem quer ser feliz olhando só para si. A gratidão e o aprendizado que são gerados por um ato sincero e concreto de ajuda solidificam as relações, geram afeto e, por lógica consequência, felicidade.

15) Ligar para os pais, falar mais com eles.

Analiso esse conselho de duas formas: a primeira e mais óbvia, honrar os pais além de uma exortação bíblica, faz parte de um código de ética universal. Demostrar carinho e afeto àqueles que deram e ensinaram o que você tem e é nada mais é do que uma forma digna de exercer a sua humanidade. A segunda forma, essa menos óbvia, consiste em voltar a sua origem, em se lembrar bem de quem você é e de onde veio. Muitos infelizmente conquistam o mundo, mas se esquecem da origem, de quem o construiu. Se a ideia de onde você veio está presente nos seus pensamentos, a humildade é exercida, você se abre à aprendizagem e a soberba não toma conta do seu coração.

4 comentários

14/2/2017

Delvair gomes

Muito rico excelente este texto.

14/2/2017

Fabio

Bom ensinamento, refletir e praticar.

16/2/2017

Elza de Oliveira Tagliatella

Amei êsse texto realmente muito interessante e de auto-ajuda .parabéns.

6/4/2017

Francisco Willams Costa Lima

Muito santo esses ensinamentos