Respeito ao planeta | Paulus Editora

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01/09/2020

Respeito ao planeta

Por Darlei Zanon

Neste mês o Papa nos propõe como objeto de oração e reflexão um tema muito delicado e fundamental para o nosso futuro: o respeito pelos recursos do planeta. Mais precisamente, a intenção de oração de setembro assim nos exorta: “rezemos para que os recursos do planeta não sejam saqueados, mas partilhados de forma justa e respeitosa.”

A questão ecológica é uma das preocupações centrais no Pontificado de Francisco, pois ele é profundamente consciente da relação que a dimensão ecológica tem com as dimensões humana e espiritual. “Tudo está interligado”, insiste o Papa em todo o seu magistério, mas de modo particular na Encíclica Laudato si’ (LS), sobre o cuidado da casa comum, publicada no ano 2015. Afirmar que “tudo está interligado” – tudo está conectado, tudo está em relação – significa dizer que “a existência humana se baseia sobre três relações fundamentais intimamente ligadas: as relações com Deus, com o próximo e com a terra” (LS n. 66), significa dizer que a crise ecológica está intimamente ligada à crise social e humana. Todos estamos unidos: com Deus, entre nós e também com o ambiente. Por isso qualquer agressão ou exploração do planeta é no fundo uma agressão ao ser humano e uma afronta ao Criador. Tendo isso em mente, o apelo do Papa na sua encíclica sobre a Casa comum é para buscar um desenvolvimento sustentável e integral (cf. LS n. 13), para construir um mundo mais justo e sustentável. Este esforço deve partir de uma política nacional e internacional coerente, mas deve sobretudo ser assumido por cada um de nós, e de modo muito particular por cada católico.

Lutar por um desenvolvimento sustentável é “respeitar os recursos do planeta”, como insiste o Papa. A Laudato si’ apresenta em modo muito específico e aprofundado todos os elementos necessários para esta conversão ecológica que a humanidade precisa concretizar. Entretanto o Papa vai além e dá um novo passo na aplicação de todas as indicações e sugestões  com a publicação, em fevereiro deste ano, da exortação apostólica Querida Amazônia (QA), em continuidade aos trabalhos do Sínodo dos Bispos sobre a Amazônia.

No último documento o Papa expõe sobretudo os seus quatro sonhos para a realidade amazônica, que vemos cada vez mais sofrida: sonho social, cultural, ecológico, eclesial. Nas suas palavras: “Sonho com uma Amazônia que lute pelos direitos dos mais pobres, dos povos nativos, dos últimos, de modo que a sua voz seja ouvida e sua dignidade promovida. Sonho com uma Amazônia que preserve a riqueza cultural que a caracteriza e na qual brilha de maneira tão variada a beleza humana. Sonho com uma Amazônia que guarde zelosamente a sedutora beleza natural que a adorna, a vida transbordante que enche os seus rios e as suas florestas. Sonho com comunidades cristãs capazes de se devotar e encarnar de tal modo na Amazônia, que deem à Igreja rostos novos com traços amazônicos.” (QA n. 7)

Querida Amazônia abre uma nova etapa de aprofundamento, reflexão e ação que deve ser seguida em cada comunidade cristã. A presença e ação proféticas da Igreja devem ser sempre mais visíveis, particularmente diante de tantas agressões à natureza, aos fracos e oprimidos, às culturas periféricas, aos direitos dos seres humanos… São tantos temas que pedem a nossa “indignação”, como recorda o Papa (cfr. n. 15 ss), mas sobretudo nossa “conversão” e nossa “ação concreta”, valorizando o que deve ser valorizado e combatendo o que há de mal e destrutivo a fim de promover uma transformação.

Querida Amazônia denuncia os diversos abusos cometidos na exploração dos recursos do planeta. E neste sentido vale a pena ler também o Documento final do Sínodo, onde as denúncias são ainda mais contundentes, com a apresentação de diversos exemplos concretos. O “percurso de conversão integral” – que passa pela conversão pastoral, cultural, ecológica e sinodal – detalhado ao longo dos 120 parágrafos do Documento final é muito útil e válido para guiar a práxis pastoral hoje, sobretudo no itinerário pedido pelo Papa para construirmos juntos um mundo melhor.

Nós, cristãos, devemos ser os protagonistas neste processo de conversão integral e de respeito aos recursos do planeta, pois “não haverá uma ecologia sã e sustentável, capaz de transformar seja o que for, se não mudarem as pessoas, se não forem incentivadas a adotar outro estilo de vida, menos voraz, mais sereno, mais respeitador, menos ansioso, mais fraterno” (QA n. 58). Comecemos rezando juntos por esta intenção, como nos convida o Papa.

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