Periferias existenciais: onde elas estão? | Paulus Editora

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Igreja e Sociedade

18/04/2024

Periferias existenciais: onde elas estão?

Por Jenniffer Silva

Para refletir sobre o que e onde estão as periferias existenciais, começo com um questionamento: Qual foi a última vez que você leu ou ouviu uma notícia sobre os países que se encontram fora do centro econômico e político do mundo?

Continuo essa reflexão com outra pergunta: essa notícia tinha como tema alguma tragédia, desastre natural ou violência? Se sim, os personagens da informação eram pobres, doentes, migrantes ou refugiados e pessoas excluídas da sociedade?

Se a sua resposta para essas perguntas forem positivas, nossa missão foi concluída.

Lamentavelmente, pouco ouvimos sobre países da Ásia, África e Oriente Médio. No Brasil, escassas são as vezes que a Amazônia, o Nordeste ou as grandes favelas são pautas nos principais noticiários do país.

Todos esses lugares têm em comum uma característica: eles personificam as periferias geográficas e existenciais da nossa sociedade e, quando finalmente chegam as páginas de notícias, quase sempre se apresentam algumas das suas muitas vulnerabilidades.

A Sagrada Escritura nos revela, contudo, que esses locais, de modo especial, os seus habitantes, estão no centro do projeto de vida de Jesus Cristo: o Messias esperado nasceu em uma pequena manjedoura, em Belém, uma periferia. Além disso, Cristo quando iniciou sua vida pública, curou os doentes, acolheu os pobres e dialogou com aqueles que, até então, divergiam dos costumes da época.

Com esses exemplos, somos ainda hoje desafiados a compreender e acolher esses lugares e pessoas, tal terminologia tornou-se comum na linguagem católica por meio das reflexões do papa Francisco sobre o assunto.

Em seus discursos, é comum que o pontífice inspire a Igreja a ir de ao encontro daqueles que estão longe dos centros. Mais recentemente, em janeiro deste ano, durante uma audiência com a delegação francesa de jovens da Fraternidade Missionária das Cidades, o Santo Padre manifestou:

“Vocês não precisam ir muito longe, em seu serviço no coração das cidades, para descobrir as periferias existenciais de nossas sociedades, que, na maioria das vezes, estão bem próximas, em seu bairro, na esquina de uma rua, no mesmo patamar. Cabe a vocês levar a mensagem que foi dada aos pastores. Portanto, não tenham medo de deixar sua segurança para partilhar a vida cotidiana de seus irmãos e irmãs. Entre eles, muitos têm o coração aberto e esperam, sem saber, pelo feliz anúncio”.

Trazendo para mais perto da nossa realidade, nos perguntamos o quanto estamos comprometidos em anunciar uma mensagem de esperança a tantos brasileiros acometidos pelas flagelas da humanidade? O quanto sabemos de suas dificuldades?

Talvez para responder a esses e outros questionamentos seja necessário fazermos o exercício do despojamento. Essa experiência foi vivida de forma imersiva pelo jornalista Matheus Macedo da Silva, para composição da obra: “Filhos dos Rios – Pobreza, abuso e exploração sexual no Marajó (PA)”.

No título, o autor relata com detalhes a sua experiência de 20 dias na Ilha de Marajó, na região Amazônica, denunciando a falta de necessidades básicas, além de dados sobre abuso e exploração sexual infantil. À época da publicação, o jornalista salientou que:

“Denunciar casos de violência sexual é dever de todos que prezam pela proteção das crianças e adolescentes. Vivemos em uma sociedade em que defender os Direitos Humanos é algo a ser condenado, perseguido e morto. Encontrei durante minha viagem, pessoas dispostas a lutar sem medo, até mesmo morrer para defender a vida e a dignidade dos mais excluídos da sociedade”, sublinhou o autor.

Para concluir, convido à leitura do Evangelho de João 4, 4-42, que narra o encontro de Jesus com a mulher samaritana, pois este é um exemplo concreto de acolhida do Mestre com aquela que vivia às margens da sociedade da sua época e um bom exemplo para darmos um primeiro passo rumo ao encontro dos que mais sofrem.

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