Pedagogia do ensino | Paulus Editora

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Catequese

15/02/2016

Pedagogia do ensino

Por Solange Maria

Por muito tempo, a catequese se dedicou a ensinar a fé. Essa pedagogia do ensino tem raízes antigas. Remonta no mínimo ao século XVI, ao tempo da Reforma Protestante, quando – convencida da urgência de distinguir a doutrina católica da doutrina luterana que se difundia – a Igreja se empenhou em fomentar os catecismos, pequenas sumas teológicas ou compêndios que explicitavam a doutrina, as verdades da fé.

Esses manuais catequéticos que ganharam o nome de catecismos fizeram história. Eles são bem anteriores ao século XVI, mas foi a partir do Concílio de Trento que se difundiram e alcançaram proporção significativa na Igreja. Famoso é o Catecismo dos Párocos ou Catecismo de são Carlos Borromeu, confeccionado a partir de uma necessidade do Concílio, com o objetivo de dar aos párocos um subsídio para ensinar a fé ao povo, depois das celebrações. E surgiram muitos outros por essa ocasião; os catecismos de são Pedro Canísio, depois de são Belarmino, do papa Pio X etc. Todos eles baseados na mesma pedagogia do ensino; todos eles desejosos de ensinar a verdade da fé que a Igreja recebeu de Deus.

Essa pedagogia considera o catequizando como uma tábula rasa, ou seja, uma cabeça-oca na qual o catequista vai depositar as verdades da fé. Nesse processo, a fé é compreendida como um dado, algo objetivo que a gente pode possuir. O catequizando recebe a fé transmitida, por meio da obediência, do assentimento a uma verdade, ainda que ele não a compreenda, nem a experimente. Ele deve, pois, decorar a verdade, saber de cor a formulação dogmática. Por isso, esses catecismos quase sempre eram escritos em forma de pergunta e resposta. O catequista tinha as perguntas e as respostas prontas. As perguntas não surgiam da curiosidade do catequizando, de sua necessidade de conhecer e explicar sua fé, da sua história, da sua realidade… Elas eram dadas, pois entendia-se que a verdade já fora revelada por Deus, e a partir do acolhimento a essa verdade é que se “media” a catolicidade de uma pessoa.

Quem não aceitasse tais verdades ou as questionasse era tido como herege e devia ficar fora da comunhão com a Igreja. Para não se incorrer em tal perigo, a fé era ensinada com afinco por meio desses catecismos. A fé era ensinada ao catequizando que – por meio dessa doutrinação – dava seu assentimento a Deus por intermédio da Igreja, aquela que continha o depósito da fé.

A pedagogia do ensino reforçada pelos catecismos era um caminho cognitivo, que envolvia em primeiro lugar a capacidade de apreensão de conteúdos. Era pouco existencial ou experiencial; considerava pouco a realidade do catequizando. O mais importante era a doutrina ensinada, a verdade da fé que exigia do catequizando uma acolhida incondicional, ainda que ele não a compreendesse ou que ela não fizesse sentido para sua vida. Mas os tempos mudaram e a pedagogia do ensino começou a caducar. Esse é o tema do próximo artigo.

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