FOGO QUE PURIFICA E PAZ QUE TRANSFORMA
A pregação de Jesus exige de todos os que a escutam posicionamento claro e decidido. Diante da sua proposta, não há espaço para a indecisão ou o meio-termo. É preciso decidir-se e assumir todas as consequências decorrentes da escolha feita. Em outras palavras, é necessária a adesão do coração.
O texto do Evangelho de hoje, cheio de simbolismos, fala-nos exatamente disso. O fogo, que tem tantos significados na Bíblia, pode ser entendido aqui como fogo purificador. Trata-se daquele fogo que separa o que é bom daquilo que não serve. É a pregação de Jesus, sua mensagem de salvação, que acende esse fogo.
Jesus percebe o descontentamento de muitos diante do conteúdo pregado por ele e começa a intuir que os poderosos encontrarão uma forma de livrar-se de sua pessoa. Diante dessa percepção, compreende que também seus seguidores deverão se deparar com dificuldades e precisarão “beber do mesmo cálice” que ele. O fogo, portanto, identificará aqueles que, de fato, estão aptos a seguir o Mestre até as últimas consequências.
Esse seguimento radical de Jesus pode levar à discórdia e à divisão. Até mesmo os laços de parentesco podem ser relativizados em vista da opção por Cristo e da construção do seu Reino. O que não é possível é viver na hipocrisia, para manter uma paz falsa. Jesus veio nos trazer a paz, mas isso não pode ser entendido como conformismo ou inércia diante das situações injustas que precisam ser denunciadas e transformadas.
Todo cristão, batizado pela água e pelo fogo, deve caminhar convicto do que significa assumir esse nome. Nada nem ninguém devem receber maior prioridade do que a busca pela coerência e pela fidelidade aos compromissos assumidos no batismo e em nossa vida de fé.
É salutar que nos perguntemos sobre a maneira como temos vivido nossa fé e nosso compromisso com Jesus. Muitas vezes, preferimos a calmaria dos que concordam com tudo e esquecemos que seguir Jesus e aderir ao seu projeto significa também posicionar-nos contra tudo aquilo que fere a dignidade humana e se opõe ao Reino de Deus, que é dom, mas também tarefa.
Busquemos a paz que vem de Jesus, aquela paz verdadeira que nos leva ao compromisso radical com seu seguimento, embora saibamos que teremos de beber do mesmo cálice que ele se lhe quisermos ser fiéis.
Manoel Gomes Filho, ssp
O objetivo deste periódico é celebrar a presença de Deus na caminhada do povo e servir às comunidades eclesiais na preparação e realização da Liturgia da Palavra. Ele contém as leituras litúrgicas de cada domingo, proposta de reflexão, cantos do Hinário litúrgico da CNBB e um artigo que trata da liturgia do dia ou de algum acontecimento eclesial.
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