O canto nas celebrações litúrgicas | Paulus Editora

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Liturgia Passo a Passo

24/06/2019

O canto nas celebrações litúrgicas

Por Luiz Miguel

Cantar é próprio do ser humano, ou melhor, é uma das mais belas formas de expressão corporal humana. Canta suavemente a mãe para ninar o seu filhinho; canta lastimosa a moça que sofreu uma decepção no amor; canta entusiasmado o operário, sob o chuveiro, após cansativa jornada de trabalho; cantam divinamente as crianças no coro da igreja; cantam com vibração os convidados na festa de aniversário do amigo… É por meio do canto que externamos os mais variados e profundos sentimentos e emoções.

A Igreja, em todos os tempos, reconhecendo a imensa força do canto, valorizou-o aplicando-o às celebrações litúrgicas. Ficou famoso, a partir e com o empenho do papa Gregório Magno, o canto gregoriano (século VI). Entretanto, sem se limitar a esse estilo de canto, a Igreja abriu-se para acatar grande variedade de cantos segundo a índole dos povos. A esse respeito, vejamos o que afirma o Concílio Vaticano II, no documento sobre a Sagrada Liturgia, Sacrosanctum Concilium (SC):

“A tradição musical da Igreja é um tesouro de inestimável valor, que excede todas as outras expressões de arte, sobretudo porque o canto sagrado, intimamente unido com o texto, constitui parte necessária ou integrante da Liturgia solene” (SC n. 112).

“A Igreja reconhece como canto próprio da liturgia romana o canto gregoriano; terá este, por isso, na ação litúrgica, em igualdade de circunstâncias, o primeiro lugar. Não se excluem todos os outros gêneros de música sacra, mormente a polifonia, na celebração dos Ofícios divinos, desde que estejam em harmonia com o espírito da ação litúrgica” (SC n. 116).

“Promova-se muito o canto popular religioso, para que os fiéis possam cantar tanto nos exercícios piedosos e sagrados, como nas próprias ações litúrgicas, segundo o que as rubricas determinam” (SC n. 118).

Como reconhecer se um canto é litúrgico ou não?

O documento do Vaticano II sobre a Sagrada Liturgia nos oferece, em poucas palavras, o que se pode considerar canto litúrgico: “Os textos destinados ao canto sacro devem estar de acordo com a doutrina católica e inspirar-se sobretudo na Sagrada Escritura e nas fontes litúrgicas” (n. 121).

Com base neste princípio, para que seja litúrgico, o canto precisa atender aos seguintes requisitos:

1º: Estar a serviço da celebração litúrgica de acordo com seus textos e ritos. Normalmente os cantos litúrgicos são de inspiração bíblica. Os salmos cantados na celebração são sempre litúrgicos.

2º: Responder ao verdadeiro espírito da liturgia cristã, a saber: acolhida ao Cristo que vem na forma de palavra e de sacramento, ou já presente na Igreja viva; atitude de oração, agradecimento, súplica e louvor a Deus.

Como exemplo de canto litúrgico, escolhemos o começo de um canto de comunhão, de autoria de Waldeci Farias:

Eu quis comer esta ceia agora, pois vou morrer, já chegou minha hora.

Comei, tomai, é meu corpo e meu sangue que dou. Vivei no amor. Eu vou preparar a ceia na casa do Pai.

Comei o pão: é meu corpo imolado por vós; perdão para todo pecado. (CD Tríduo pascal I, PAULUS)

Critérios para a escolha dos cantos litúrgicos

Para a escolha dos cantos litúrgicos, é necessário levar em conta alguns critérios:

1) Tempo litúrgico: advento, natal, quaresma, páscoa, comum; solenidades e festas: Santa Maria, mãe de Deus; batismo do Senhor; apóstolos e evangelistas; padroeiro; são João Batista etc.

2) Composição da assembleia: crianças, jovens, religiosos, desempregados, enfermos etc. A letra e o ritmo tenham presente a realidade da assembleia participante

3) Motivos da celebração: primeira eucaristia, bodas matrimoniais, profissão religiosa, ordenação presbiteral etc.

4) Momento da celebração: entrada, ato penitencial, glória, aclamação ao Evangelho, santo, comunhão…

Para a celebração dos sacramentos, é importante adequar os cantos aos textos dos respectivos rituais e ao sentido profundo de cada sacramento. Com isso, não se corre o risco de banalizar as celebrações litúrgicas (ainda se ouvem, nas celebrações de matrimônio, músicas de filmes ou de novelas!).

Digno de louvor é o empenho de compositores de música sacra: eles criam melodias e letras que nos ajudam a celebrar cantando. Admirável também é a dedicação de músicos, instrumentistas e cantores, que animam nossas celebrações litúrgicas. Favorecem, desse modo, a “ativa participação de toda a assembleia” (SC n. 120).

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