No Dia Mundial dos Pobres, a Igreja Católica convida a deter olhar em prol dos mais necessitados | Paulus Editora

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Igreja e Sociedade

21/11/2023

No Dia Mundial dos Pobres, a Igreja Católica convida a deter olhar em prol dos mais necessitados

Por Érika Augusto

Os pobres enfraquecidos não são diferentes de nós” (Luiz Alexandre Solano Rossi)

No dia 19 de novembro, a Igreja Católica celebra o VII Dia Mundial dos Pobres. Com o tema “Nunca afastes de algum pobre o teu olhar”, inspirado em Tobias 4, 7, o papa Francisco divulgou a mensagem onde exorta todo o povo de Deus sobre a urgência dos cristãos voltarem seu olhar aos mais necessitados.

Segundo o Pontífice, “vivemos um momento histórico que não favorece a atenção aos mais pobres. O volume sonoro do apelo ao bem-estar é cada vez mais alto, enquanto se põe o silenciador relativamente às vozes de quem vive na pobreza. Tende-se a ignorar tudo o que não se enquadre nos modelos de vida pensados sobretudo para as gerações mais jovens, que são as mais frágeis perante a mudança cultural em curso. Coloca-se entre parênteses aquilo que é desagradável e causa sofrimento, enquanto se exaltam as qualidades físicas como se fossem a meta principal a alcançar. A realidade virtual sobrepõe-se à vida real, e acontece cada vez mais facilmente confundirem-se os dois mundos”, aponta o Santo Padre.

Para o papa Francisco, atualmente ficamos comovidos com situações de pobreza e miséria, sobretudo quando elas se apresentam na mídia, mas quando estamos diante destas pessoas, com suas limitações e necessidades, a tendência é virarmos as costas para elas. Segundo o Pontífice, a parábola do bom samaritano (cf. Lc 10, 25-37) permanece atual. “Delegar a outros é fácil; oferecer dinheiro para que outros pratiquem a caridade é um gesto generoso; envolver-se pessoalmente é a vocação de todo o cristão”, aconselha Francisco.

Em seu livro “A origem do sofrimento do pobre: teologia e antiteologia no livro de Jó”, o autor Luiz Alexandre Solano Rossi fala de uma das maiores crises que a humanidade está enfrentando: o aumento da polarização entre ricos e pobres. Segundo o autor, a maioria é condenada a ter e a viver com menos; a zona de exclusão foi muito bem construída e delimitada. No entanto, os relativamente ricos agradecem a Deus pela vantagem de ser ricos, como se isso fosse uma bênção de Deus. Conforme o biblista, são as estruturas econômicas que recompensam o rico e mantêm o pobre na miséria. Para o autor, tratam-se de manifestações do sistema, não um mal pessoal.

O sofrimento agravado pela guerra e pela ganância

Na mensagem deste ano, o papa destaca ainda um agravante: as vítimas dos conflitos, como a guerra entre Rússia e Ucrânia e, mais recentemente, entre Israel e o Hamas, na Faixa de Gaza, que já vitimou mais de 13 mil pessoas. “Ninguém poderá jamais habituar-se a esta situação; mantenhamos viva toda a tentativa para que a paz se afirme como dom do Senhor Ressuscitado e fruto do empenho pela justiça e o diálogo”, destaca o Santo Padre.

Entre outros pontos destacados na mensagem, Francisco critica as especulações que causam o aumento de preços de vários produtos básicos, levando muitas famílias à miséria e insegurança alimentar; a desordem ética no mundo do trabalho, com tratamento desumano reservado a muitos trabalhadores; levando até mesmo a morte de empregados devido à precarização do espaço de trabalho e insegurança, priorizando o lucro no lugar no bem-estar e da segurança dos operários; e, de modo especial, o tratamento dado aos jovens, que por se sentirem rebaixados pela sociedade, sofrem e até mesmo tiram sua vida, pois se sentem inacabados e falidos. “Ajudemo-los a reagir a estas instigações nocivas, para que cada um possa encontrar a estrada que deve seguir para adquirir uma identidade forte e generosa”, alerta o papa Francisco.

Ao celebrar o Dia Mundial dos Pobres, a Igreja Católica deseja orientar, aconselhar e chamar a atenção para uma realidade muito presente em todo o mundo, incentivando as comunidades de fé a dedicarem este dia para ações concretas de auxílio e promoção da dignidade social. “Os pobres são pessoas, têm rosto, uma história, coração e alma. São irmãos e irmãs com os seus valores e defeitos, como todos, e é importante estabelecer uma relação pessoal com cada um deles”, afirma o Pontífice.

Em “A origem do sofrimento do pobre: teologia e antiteologia no livro de Jó”, o autor Luiz Alexandre Solano Rossi conclui: “A alternativa para a pobreza não é a posse, mas a prática da solidariedade”, afirma. “Parece-me que Deus está nos pedindo para salvar a Igreja e sua teologia de quaisquer outras distorções do Evangelho. Ele está nos pedindo para sermos solidários com a fraqueza e a verdade, para nos cercarmos daqueles sacramentos que são os enfraquecidos. Dessa forma, teremos a coragem de descobrir que também estamos enfraquecidos. Os pobres enfraquecidos não são diferentes de nós; eles são apenas sacramentos mais visíveis do que aqueles que estamos tentando esconder”, assegura o autor.

Que a partir da celebração deste dia, os cristãos tenham consciência do seu lugar de ação, inseridos numa comunidade de fé que, integrada com a sociedade, busca promover uma sociedade mais justa e fraterna, onde todos possam repartir aquilo que tem, não vivendo para acumular bens às custas do sofrimento e da miséria dos irmãos.

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