Livros Sapienciais 2. Jó-1 | Paulus Editora

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Bíblia

18/05/2018

Livros Sapienciais 2. Jó-1

Por Nilo Luza

O livro de Jó pode ser considerado o protótipo da “literatura sapiencial”. É um livro de ficção histórica sobre o ser humano e seus problemas e desafios. Não é um livro da paciência da personagem central, Jó. Não tem como objetivo explicar o sofrimento humano nem resolver o problema do mal. É um livro que questiona a imagem que se tinha de Deus e da teologia da época.

A data da redação final do livro deve ser situada após o exílio, mais provavelmente em torno de 400 AC. A introdução do livro (1-2) e a conclusão (42,7-17) são bem mais antigas. Os autores da redação final provavelmente fazem parte do grupo de resistência contra as propostas de Neemias e Esdras.

O gênero literário do livro de Jó parece ser único na Bíblia. A forma de diálogo, muito comum na filosofia clássica dos gregos, parece ter surgido antigamente na Mesopotâmia e no vale do Nilo. Documentos antigos, bem antes do surgimento de Israel, tratam do problema do mal, do justo sofredor e da justiça divina. Esses documentos provavelmente foram importantes para a redação do livro de Jó.

O livro está divido em duas principais partes: a primeira em prosa engloba a introdução (capítulos 1-2) e a conclusão (42,7-17); a segunda em verso é bem mais extensa e é a parte central do livro, ou seja, capítulos 3,1-42,6. Neste mês, vamos nos ater à primeira parte, que pode ser considerada como que a moldura do livro. A outra será tratada no próximo mês.

A introdução e a conclusão provavelmente faziam parte de um livreto bem antigo, espécie de conto folclórico, que circulava entre os sábios do Oriente Médio. Se lemos os dois primeiros capítulos e pularmos para o capítulo 42, verso 7 (ou mais precisamente verso 10), percebemos certa continuidade.

Essa parte em prosa é que deu a ideia de um Jó submisso, paciente, que aceita os castigos como sendo vontade de Deus. Portanto adepto à teologia da retribuição, ou seja, que Deus age conforme o agir do ser humano. Como veremos no próximo artigo, a teologia da parte em prosa (introdução e conclusão do livro), que é bem mais antiga, nem sempre coincide com a outra parte (o miolo) do livro, que melhor corresponde ao período após o exílio.

A introdução ou prólogo (capítulos 1 e 2) apresenta diferentes aspectos da situação de Jó e das ações de Deus e de Satã. São descritas cinco cenas, que se alternam entre o céu e a terra, e apresenta as personagens principais da narrativa. Jó é descrito como homem justo, com muitas posses e bonita família. Aos poucos perde tudo e cai doente. A conclusão ou epílogo (42,7-17) retoma o prólogo, Jó recupera em dobro tudo o que havia perdido e recebe as bênçãos de Deus.

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