LIVROS HISTÓRICOS 9. Rute | Paulus Editora

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06/09/2017

Livros Históricos 9. Rute

Por Nilo Luza

A bonita novela de Rute foi, provavelmente, escrita após o exílio na Babilônia, quando Ciro, rei da Pérsia, domina o império babilônico e permite a volta dos judeus para Israel. O livro de Rute gira em torno da emigração de uma família de Belém para Moab e de volta para Belém.

O contexto é o período das reformas levadas em frente por Neemias e Esdras, em torno do ano 400 AC. Nessa época, temos a centralização do judaísmo no templo de Jerusalém, a expulsão das mulheres estrangeiras, o fortalecimento da lei de pureza.

A história gera em torno de Rute, mulher moabita e viúva pobre, que encontra um marido rico e generoso, Booz. Sua generosidade vem facilitar a vida da viúva. Ele se casa com a moabita e dá descendência à sogra e viúva Noemi, que ficou sem filhos. Noemi e Rute salvam a família que estava ameaçada de extinção.

O livro procura mostrar que a pertença ao povo eleito não está restrita aos judeus, propõe a solidariedade, a recuperação da família e do clã como elementos básicos na reconstrução do país. Seus autores provavelmente fazem parte do movimento de resistência contra as propostas centralizadoras de Neemias e Esdras.

Os autores de Rute propõem recuperar três importantes leis dos pobres: respigar, resgatar e levir. Leis que não foram levadas em conta nas reformas de Neemias e Esdras.

A “lei do respigar” permite que os pobres colham as sobras das colheitas nos campos e assim não falte comida na mesa das famílias pobres, dos migrantes, dos órfãos e das viúvas (Lv 19,9-10; Dt 24,19-22; Rt 2,2). Rute reivindica o direito dos pobres (sem-terra) de terem acesso ao alimento. A lei do resgate quer assegurar aos pobres o direito de recolher as sobras que ficam no campo após a colheita.

A “lei do resgatar” dizia que quando alguém, por motivo de pobreza, era obrigado a vender sua terra, seu parente mais próximo tinha a obrigação de resgatar essa terra, ou seja, comprá-la e entregá-la ao antigo dono (Lv 25,25; Rt 4,9-10). Da mesma forma, além do resgate da terra, havia o resgate da pessoa (Lv 25,47-49). O objetivo da lei do resgate, tanto da terra ou da pessoa, era garantir a propriedade aos pobres e fortalecer e defender a família.

A “lei do levirato” (ou do cunhado) propõe que um irmão se case com a viúva do seu irmão falecido sem deixar descendência e tem a finalidade de dar continuidade a descendência ao irmão falecido (Dt 25,5). Esta lei garante a continuidade da família e impede que, por falta de um herdeiro, a família se acabasse e seu patrimônio caísse nas mãos de estranhos. No caso de Rute, em que Booz assume a estrangeira Rute como esposa, essa lei transcende os limites da família e passa a contemplar também o clã, ou seja, a comunidade.

Os quatro capítulos do livre de Rute podem ser divididos: 1) retorno de Noemi para Belém e a opção de Rute por Noemi (1,1-22); 2) Rute nos campos de Booz e seu encontro com ele (2,1-23); 3) Booz e Rute na eira (3,1-18); o resgate em favor de Noemi em Belém (4,1-22).

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