A fé como proposta | Paulus Editora

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Catequese

13/11/2014

A fé como proposta

Por Solange Maria

Diante de tantas mudanças que observamos, seria totalmente imprudente imaginar que a fé cristã continua se difundido pela força da sua tradição como outrora, ou seja, por osmose social. A fé cristã aparece no atual cenário multirreferencial religioso como uma proposta entre tantas outras.

Na grande feira do mundo, a barraca da fé cristã não é mais a única opção como já fora um dia, como a única opção para a vida plena.

Muita gente tem encontrado a paz, a alegria de viver e a vida em plenitude em outros caminhos… E mais: a Igreja Católica não detém o monopólio da fé cristã. Dentro do universo cristão, outras estrelas têm atraído olhares curiosos, corações sedentos de verdade e paz. A Igreja Católica perdeu sua hegemonia. E isso não é ruim; nem bom nem mal; apenas está aí e com essa realidade devemos viver. Se soubermos entender bem o momento que vivemos, essa situação pode favorecer a difusão da fé cristã, como falamos no artigo anterior. Ora, se a fé cristã, especificamente a fé católica – pois falamos de catequese da Igreja Católica – não se impõe mais por força da tradição, como fazer para transmitir a fé?

A primeira atitude importante de um evangelizador, um catequista, é a postura humilde diante do mundo e de suas múltiplas ofertas religiosas.

Não somos os únicos a ofertar uma possibilidade de paz; nem os únicos que buscamos a verdade. A fé cristã é mensagem de amor sem medidas, de um Deus tão apaixonado por nós que ele próprio não se impôs como obrigatório. Deus criou e recria o mundo, amou-o e continua amando-o em Cristo, santificou-o e continua santificando-o pelo Espírito. Mas é bom perceber que, nesse movimento de amor, a marca maior de Deus é a oferta: Deus se oferece, não se impõe. Essa deveria também ser a marca da fé cristã: a oferta.

A catequese transmite a fé cristã, que não deve ser entendida como imposição, como necessidade.

Sua aceitação deveria acontecer pela força de sua proposta, pela beleza de sua mensagem, pela atração de seu amor… O evangelho não é uma doutrina que tem que ser acolhida; é uma proposta de vida que é aceita, amada. Ela não precisa de imposições para encontrar seu espaço na sociedade. O próprio Deus da fé seduz, conquista, atrai aqueles que escutam sua mensagem. Se a catequese hoje admite essa verdade, mudam-se os caminhos catequéticos. Deixamos os caminhos tradicionais da catequese e passamos à catequese da proposição: propomos a fé cristã no que ela tem de mais belo e radical (inclusive suas exigências) e acreditamos que sua força de atração agirá. Deus mesmo vai seduzir os corações para acolher sua palavra de vida, pois ela é força para viver, como ele próprio seduziu cada um de nós e nos atraiu a ele. Confiemos nisso!

4 comentários

16/11/2014

Lucineia

Excelente artigo! Mas eu tenho alguma dificuldade em acreditar na força de atração da fé, especialmente nesse tempo em que o imediatismo e o individualismo estão em alta entre os catequizandos...

17/11/2014

Marcelo Prestes

Excelente reflexão! Como sempre, Solange abra possibilidades de diálogo com o diferente. A diversidade não como um mal-em-si, mas como uma constatação sociológica capaz de diálogo. Seria útil descobrirmos, conforme nos orienta o Concilio Vaticano II, "o sacramento do tempo presente". Ampliarmos o olhar para vermos o que o Espírito está dizendo através da história.

26/11/2014

José Luiz

O artigo não deixa clara a distinção a fé como experiência e a fé como objetivação (conteúdo) da experiência. Pende mais para o conteúdo, uma vez que fala em "transmissão" da fé. Em outras palavras, a autora ainda não conseguiu sair da cristandade, o contexto no qual a fé era "transmitida". Ninguém transmite a fé, pois a fé é dom de Deus. A evangelização consiste em ajudar a pessoas a fazerem, de alguma forma, experiência de Deus na comunidade-sociedade-história. Mas parece que a autora dá por descontada a tese do fim da história.

28/11/2014

Marcos Freitas

A exegese e a hermenêutica, contextualizadas no tempo presente, com suas diversidades extremas, mas à luz da catequese do amor pelo simples amor, pela fé pura e bela, não é tarefa das mais fáceis. Nem os Apóstolos mais fervorosos e catequizadores deixaram de lado as dificuldades ante às mazelas humanas. Imagine nos tempos atuais, que estas mazelas não só se diversificaram, como se potencializaram. Entretanto, como temos mesmo que rever nossas posições isolacionistas (como católicos) e nos doarmos mais ao amor ao próximo pelo caminho da simplicidade, do amor, e da fé incondicionais, a catequese é um dos passos importantes. Perseverar é necessário frente aos desafios internos e externos que nos esperam. Afinal entre os cristãos creio que o que nos une é mais forte do que o que nos separa!