56. Atos dos Apóstolos | Paulus Editora

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10/10/2023

56. Atos dos Apóstolos

Por Nilo Luza

Lucas é considerado autor do terceiro Evangelho e dos Atos dos Apóstolos. Enquanto o Evangelho trata da vida de Jesus, Atos dos Apóstolos descreve a caminhada das primeiras comunidades cristãs. Talvez seria mais interessante nomear o livro de Atos de Apóstolos, pois relata principalmente os atos de Pedro e depois de Paulo. Alguns apóstolos nem são mencionados. Atos dos Apóstolos poderia ser chamado também o “Evangelho do Espírito Santo e da comunidade”.

O livro foi escrito pelos anos 90 da era cristã, provavelmente em Éfeso ou Roma. No início, o Evangelho e os Atos formavam um só volume, depois foi desmembrado em dois livros. O que une os dois livros é a ressurreição e a ascensão de Jesus. A tradição da Igreja atribui a autoria a Lucas, médico e companheiro de Paulo em sua missão. Como no Evangelho, Lucas dedica sua obra a Teófilo (amigo de Deus, Lc 1,3; At 1,1). Nesse Teófilo podem ser incluídos todos os que são amigos de Deus.

Com o livro de Atos, percebemos o caminho da Igreja que teve muitas dificuldades para se concretizar na prática. Mas, graças à ação do Espírito Santo, consegue se expandir pelo mundo, tornando-se, passo a passo, mais universal. Nem tudo foi “maravilhoso” como o livro revela: teve seus momentos de glória, mas também seus momentos de fraquezas. A união do divino com o humano é que se constrói a história da salvação com seus altos e baixos.

Estamos na época da “pax romana”, época em que a paz era conquistada mediante a opressão do Império Romano.  Era a “paz de cemitério”. O autor tem consciência de que o projeto de Jesus e o Império Romano são completamente opostos. Um exclui o outro. Podemos dividir o livro em três partes: 1) De Jerusalém a Antioquia (At 1-14); 2) Concílio de Jerusalém (At 15,1-35); 3) De Jerusalém a Roma (At 15,36-28,31).

1. De Jerusalém a Antioquia (At 1-14). Temos um breve prólogo (At 1,1-11), que marca a ligação entre o Evangelho e Atos, o fim da atividade de Jesus e início da missão da Igreja. Ao se despedir, Jesus disse aos seus: “Vocês receberão a força do Espírito Santo” (At 1,8). Depois do prólogo, o autor trata da primeira etapa do projeto de Jesus, iniciando com Pentecostes e o discurso inicial de Pedro (At 2). Nesta parte temos principalmente os atos do apóstolo Pedro. A obra revela alguns problemas enfrentados nas comunidades e a instituição dos diáconos (At 1,12-7,60). Temos o início da expansão do evangelho, fora de Jerusalém, a perseguição (morte de Estêvão) e a conversão de Paulo (At 8-9). A atividade de Pedro e o início da missão de Paulo (At 10-14).

2. Concílio de Jerusalém (At 15,1-35). É uma ligação entre a primeira parte e a segunda. Trata de alguns conflitos surgidos nas comunidades, os apóstolos procuram resolvê-los no diálogo e na partilha de ideias. Paulo entra de cheio na missão. Ele e Barnabé conseguem manter a unidade da Igreja, sem exigir a obediência rigorosa da lei.

3. De Jerusalém a Roma (At 15,36-28,31). Esta parte está enfocada em Paulo, narrando duas etapas de sua atividade missionária. Primeira (At 15,36-19,20) fala de Paulo missionário que anuncia o evangelho nas comunidades por ele visitadas e organizadas. A pregação de Paulo suscita a agressão dos judeus e a antipatia das multidões. Merece destaque o discurso de Paulo no Areópago (At 17,22-31). Segunda (At 19,21-28,31) Paulo, com muita emoção, se despede dos anciões de Éfeso e inicia sua última viagem a Jerusalém (At 20,25ss). Temos aqui não mais um Paulo que planeja e executa, mas um Paulo conduzido e “acorrentado pelo Espírito”. Não mais se dedica a visitar as comunidades, testemunha o evangelho com a própria vida. O livro conclui com Paulo em Roma, onde ficará preso até doar a própria vida.

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