47. Livro de Sofonias | Paulus Editora

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11/01/2023

47. Livro de Sofonias

Por Nilo Luza

O profeta Sofonias, filho de Cusi (o Etíope, o Negro), atuou em Jerusalém, no início do reinado de Josias (640-606 a.C.), mais provavelmente por volta de 640-630 a.C. Seu nome significa “o Senhor protege ou esconde”. Seus antepassados eram do reino de Cuch (Egito), que ficava na África. É considerado, portanto, afrodescendente, por ter a ascendência africana. Ele cita seus antepassados até a quarta geração, para lhe dar o direito de fazer parte do povo eleito. Um egípcio pode participar do povo de Javé a partir da terceira geração.

Provavelmente a sua pregação se refere ao reinado de Manassés (687-642 a.C.), filho e sucessor do rei Ezequias (727-698 a.C.). Foi um tempo difícil para o povo de Judá, que sofria com a expansão da Assíria, que provocava destruições e crueldades. Internamente, havia a divisão da elite dirigente: uns fazendo aliança com a Assíria e outros com o Egito. Época de muita violência e injustiça, favorecidas pela idolatria e pelos falsos profetas.

O profeta denunciou o rei de Judá (Manassés?) e seus auxiliares por manterem um sistema de opressão e perseguição contra as lideranças do povo que defendiam o direito dos pobres. Sofonias é porta-voz desse povo explorado. Durante o reinado de Manassés, as vozes proféticas foram caladas.

A profecia de Sofonias foi relida no pós-exílio, para animar o povo para que não perdesse a esperança nos tempos difíceis que estava enfrentando: a destruição de Jerusalém e do templo, o exílio e a dominação babilônica. As alterações dos redatores pós Sofonias reinterpretaram a antiga mensagem para seus dias. Assim a tradição quis associar a mensagem do profeta às
novas realidades. Podemos dividir o livro de Sofonias em três partes.

1. Dia de Javé (1,1-2,3): Depois de sua apresentação, o profeta anuncia o “Dia de Javé”, dia de julgamento divino de abrangência universal. O castigo não poupa nem Judá nem Jerusalém, por causa de sua idolatria e da corrupção dos dirigentes. Os comerciantes e vendedores de peixes são ávidos pelo lucro. Os que não acreditam em Javé serão julgados pela sua autossuficiência e pela acomodação. São pessoas que se sentem seguras e colocam sua segurança em suas riquezas e posses. Dia de desgraça e de justiça para as lideranças opressoras, e dia de libertação para os pobres de Javé. Apesar de tudo isso, o profeta anuncia os “pobres de Javé” como sinais de esperança. Diante desse dia, a riqueza para nada serve, mas somente a conversão será “restauradora”.

2. Oráculos contra as nações (2,4-3,8): Agora o profeta proclama um juízo divino contra as nações. Abrangendo os quatro pontos cardeais, simboliza a globalidade das nações que não se deixam conduzir pela palavra de Deus. O primeiro oráculo é contra os filisteus (oeste), tradicionais inimigos de Judá, serão destruídos pelos ataques da Assíria. Mas o “resto da casa de Judá”, os que vivem a justiça e a ética, será poupado. O segundo oráculo é contra os moabitas e amonitas (leste) por terem se aproveitado com a invasão da Babilônia em Judá. Descendentes de Ló, esses dois povos serão castigados como Sodoma e Gomorra. Contra Cush (sul), antigo nome da Etiópia, derrotado pela Assíria (+ ou – 670 a.C.), representa o Egito. Contra a Assíria (norte), apesar de sua arrogância e sua ilusão de inabalável segurança, sua capital, Nínive, foi tomada e destruída pelos babilônios (612 a.C.). Por fim, aparece um julgamento também contra Jerusalém, por causa de seus dirigentes opressores: chefes, juízes, profetas e sacerdotes.

3. Mensagem de esperança (3,9-20): O livro conclui com uma mensagem de esperança para o “resto de Israel”, que experimentou a catástrofe do exílio e sofreu com as iniquidades dos seus dirigentes. É a esperança de uma “comunidade nova” à qual se incluem os povos. O “resto de Israel”, formado pelo povo pobre e fraco e que pratica a justiça, busca refúgio no nome de Javé (3,12). A “filha de Sião” representa todos os que vivem na fidelidade e na humildade. A presença do Senhor é motivo de alegria, pois ele é parceiro de caminhada no dia a dia da vida
do povo.

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