29. Livro do Cântico dos Cânticos | Paulus Editora

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05/07/2021

29. Livro do Cântico dos Cânticos

Por Nilo Luza

O livro Cântico dos Cânticos é a tradução literal do hebraico Shir hashirim, significando o “mais belo dos cânticos”. Apesar de não mencionar o nome de Deus ao longo do livro, certo rabino disse que o Cântico dos Cânticos é a “mais santa” de toda a Escritura. O livro é um poema de cânticos amorosos. Em suas origens, provavelmente eram poemas cantados nas festas de casamento. Os judeus leem esse livro no dia da páscoa, a festa maior. São poemas que descrevem e valorizam o corpo da amada e do amado. São cânticos em forma de diálogo principalmente entre a amada e o amado e alguns monólogos.

Apesar de seus poemas amorosos e até eróticos, o livro encontrou acesso ao Cânon Bíblico, provavelmente, por sua interpretação alegórica. Como o esposo e a esposa se amam, assim Deus ama seu povo; o amado seria Deus e a amada o povo de Israel. Na interpretação cristã, o amado seria Cristo e a amada seria a Igreja. O fato de ter sido atribuído a Salomão também facilitou sua entrada na Bíblia. O livro trata da profunda e universal experiência humana: o amor entre mulheres e homens.

O livro inicia dizendo: “Cântico dos cânticos. De Salomão”. Por causa disso, o livro foi atribuído ao rei Salomão, considerado o patrono da sabedoria em Israel. Porém os estudos recentes reconhecem que sua redação surgiu muitos anos depois de Salomão. Trata-se, portanto, de uma obra pseudoepigráfica, isto é, atribuída a alguma personagem importante para ser aceita e valorizada. Segundo alguns, esses poemas teriam vindo de ambiente palaciano, para outros teriam origem pastoril. Sua redação se deu no período pós-exílio, durante o domínio persa, por volta de 300 a.C.

O amor entre os dois jovens revela-se na ternura e na fidelidade um para com o outro. Existe fidelidade e respeito entre os amantes. Não há relações de poder ou domínio um sobre o outro. Os dois fazem o caminho juntos, lado a lado.

Provavelmente, o livro se propõe a questionar as proibições dos casamentos dos judeus com mulheres estrangeiras. Naquele tempo, eram muito fortes os projetos sacerdotais do templo em defesa da raça e das leis da pureza. Tempo de pouca valorização da mulher, principalmente a estrangeira, que foi proibida de casar com judeus. Provavelmente temos a grande contribuição das mulheres na redação do texto. Quando foi compilado, o livro quis responder a uma situação muito concreta: a luta das mulheres por sua emancipação numa sociedade patriarcal.

Antes do exílio, as mulheres tinham um espaço de influência política e religiosa não somente na corte, mais também nos santuários tribais que existiam em Judá e em Israel. No pós-exílio, o espaço da política e da religião fica centralizado no templo que é controlado pelos homens. As reformas de Neemias e Esdras tiveram papel fundamental no processo de gradativa exclusão das mulheres. Enquanto o machismo rebaixa o valor da mulher como incapaz, o livro destaca o papel da mulher como trabalhadora e líder, dona do seu corpo e da sua sexualidade. O livro é um grito de independência da mulher frente ao machismo opressor e propõe relações de respeito e igualdade entre mulheres e homens. As mulheres que estão por trás do livro resgatam o projeto divino de mulheres e homens imagens de Deus.

O tema do amor está presente do início ao fim do livro. A melhor definição de Deus é amor. O amor entre a jovem e o jovem é uma beleza de Deus. O amor é celebrado em seus vários aspectos físicos, tais como lábios, beijos, carícias… O amor é grande, é invencível, porque é fogo que vem de Deus; vem de Deus, porque Deus é amor. O Cântico dos Cânticos canta um amor intenso, único, exclusivo de uma mulher e um homem. O amor se legitima a si mesmo, independente das pessoas ser casadas ou não. O amor humano é o espelho e a manifestação do próprio amor que existe em Deus. Nas pessoas que se amam torna-se presente o amor a ternura de Deus pela humanidade.

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