24. Livros sapienciais | Paulus Editora

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12/02/2021

24. Livros sapienciais

Por Nilo Luza

Os Livros Sapienciais ocupam o terceiro bloco dos livros da Bíblia Católica, depois do Pentateuco e dos Livros Históricos. Ao passo que na Bíblia Hebraica esses livros fazem parte dos Escritos (ketubim, em hebraico). São sete os Livros Sapienciais: Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes (Coélet), Cântico dos Cânticos, Sabedoria e Eclesiástico (Sirácida). É sobre esses livros que vamos dar continuidade ao estudo dos livros da Bíblia. Parte da literatura sapiencial é atribuída a Salomão, patrono da sabedoria em Israel. Assim como a Moisés é atribuído o Pentateuco e os Salmos a Davi. Isso não significa que Salomão tenha escrito esses livros. Ele pode até ter contribuído com alguns provérbios.

Sapiencial vem da palavra latina sapientia (sabedoria). Sabedoria é vista como a arte de bem viver, transmitida de pai para filho. São instruções para o bem viver e um sinal de boa educação. “A sabedoria da pessoa sensata é discernir o seu próprio caminho” (Pr 14,8a). Sabedoria é a arte de discernir entre o que promove a vida e o que a prejudica. Se a sabedoria oriental é humanismo, a sabedoria israelita é “humanismo devoto”. Sábia, para a Bíblia, não é tanto a pessoa com títulos acadêmicos, muito estudada; mas é, antes de tudo, a pessoa que sabe viver a vontade de Deus, que se deixa conduzir por ele. O verdadeiro sábio é aquele que sabe discernir e escolher o caminho de Deus.

A sabedoria é uma experiência universal, não é exclusividade de um povo ou nação. A sabedoria é mais antiga que a Bíblia e o próprio povo bíblico. Sua origem se perde no tempo. Ela é como fonte antiga de onde brota sempre água nova. Bem antes de Abraão, já existia a sabedoria. Ela pode ser vista como a luta em defesa da vida, dos costumes e da cultura de um povo. A literatura sapiencial nasce das conversas cotidianas nas famílias reunidas, onde trocam as experiências. São conversas que tratam de temas da vida cotidiana: amizade, família, educação dos filhos… São conselhos e orientações para encarar os problemas do dia a dia. Com isso, as pessoas vão aprendendo a tomar decisões e descobrir caminhos para uma vida melhor e mais fraterna. Os livros sapienciais nasceram da vida do povo, de suas experiências, da descoberta do valor das coisas.

Israel não foi o único país a registrar a sabedoria de seu povo. Os países vizinhos de Israel também têm seus escritos sapienciais. O próprio Israel aproveitou da sabedoria dos países vizinhos, por exemplo, a Mesopotâmia e o Egito, para elaborar seus escritos sobre a sabedoria. A sabedoria de Israel normalmente fala das coisas da vida do dia a dia do povo e engloba a sabedoria popular e a sabedoria culta. Os provérbios do povo do dia a dia são como que os tijolos que constroem a casa da sabedoria. Não apresenta apenas a sabedoria de Israel, mas também sua espiritualidade. Os Livros Sapienciais são uma literatura que floresceu principalmente no período pós-exílio (após o século 4º a.C.).

A origem da sabedoria em Israel é muito antiga, teve seu início na vida do próprio povo. Revela Deus no cotidiano e traduz a defesa dos costumes das famílias e dos clãs tribais contra os estados tributários (Pr 13,23). A sabedoria ajudou o povo de Israel a descobrir as leis da vida. Ajudou a organizar a família e o clã. Nascida no âmbito da família, aos poucos e com o surgimento da monarquia, a sabedoria começa a ser assumida pela corte (escribas, sábios, funcionários) para organizar o estado e defender os interesses do rei.

Inicia-se, portanto, um processo de identificação entre sabedoria e exercício do poder. Na corte surgem as “doutrinas de sabedoria”. A partir de Salomão, a figura do sábio começa a ser associada à figura do rei. Assim, Salomão torna-se símbolo do sábio ideal, sua sabedoria ultrapassa a dos filhos do Oriente e do Egito (1Rs 5,10). A ele é atribuída a autoria de alguns livros sapienciais. Como Moisés é considerado autor do Pentateuco (leis), Davi dos Salmos e Salomão parte da literatura sapiencial.

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