21. Livro de Ester | Paulus Editora

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Bíblia

09/11/2020

21. Livro de Ester

Por Nilo Luza

Há duas versões do livro de Ester: uma hebraica e outra, mais recente, grega. O livro em hebraico foi editado pelo final do período persa (em torno de 350 a.C.), não menciona Deus e também não traz lições piedosas. A versão grega ampliou (com seis longos acréscimos) a hebraica e foi inserida no final do segundo 2º a.C. As bíblias da Paulus trazem as duas versões unidas, a parte grega encontra-se em caracteres itálicos e os versículos acompanhados com uma letra. A intenção dos autores gregos é introduzir no texto comentários religiosos e devocionais, a partir das convicções religiosas.

Temos aqui mais uma novela protagonizada por uma mulher, Ester. A exemplo de Tobias e Judite, Ester não é um livro histórico, utiliza a história e a geografia sem a intenção da veracidade. A protagonista da história, Ester, e Mardoqueu são personagens influentes na corte do rei persa.

O livro de Ester enfrenta os problemas do pós-exílio, a dificuldade em ser um judeu fiel em ambiente estrangeiro. Segundo o autor, os judeus não devem se isolar do mundo “pagão”, mas se preocupar com os problemas da sociedade, valorizar o que de bom há nela e cooperar com aquilo que é possível.

A protagonista Ester é mulher forte e corajosa que enfrenta o rei para salvar seu povo. Isso constata que, em meio a uma sociedade patriarcal, vemos mulheres comprometidas em resgatar a própria dignidade e engajadas na luta em favor do povo. Por causa da inserção grega, não é fácil propor uma divisão do livro. Sugerimos a seguinte divisão, em quatro partes.

1) O sonho de Mardoqueu e a rainha Ester (1-2): A parte grega inicia com o sonho de Mardoqueu. Com imagens apocalípticas, revela a intervenção de Deus, a exaltação dos pobres e a derrota dos poderosos. A seguir o autor narra o banquete do rei Assuero (Artaxerxes), a rainha Vasti se recusa a participar e ela também oferece um banquete para as mulheres. Com isso, Assuero a demite e escolhe Ester para ser rainha. Ela é órfã de pai e mãe e adotada por Mardoqueu, seu tio. Assim Ester entra na história como protagonista da narrativa e dá o nome ao livro. A desobediência de Vasti pode ser vista como resistência das mulheres ao patriarcado.

2) Amã ameaça os judeus (3): Amã, alto funcionário do rei Assuero, trama um plano diabólico para exterminar os judeus, no mesmo dia em que iniciava a Páscoa judaica. O plano é descoberto por Ester, que avisa Mardoqueu. Ambos planejavam uma estratégia para evitar o massacre.

3) Vitória de Mardoqueu e Ester (4-7): Mardoqueu pede a Ester para que interceda junto ao rei em favor do povo. Vestindo-se como rainha e seguindo o conselho de Mardoqueu, Ester cria coragem, apresenta-se ao rei, que a acolhe com estima. Passiva até o momento, Ester passa a participar nos acontecimentos. Nesse encontro, Ester convidou Assuero e Amã a um banquete. Amã continuava com o plano de tirar Mardoqueu do seu caminho e construiu uma forca para enforcá-lo. Nesse banquete, Assuero pede a Ester o que deseja que ele faça por ela. Ester responde que não quer parte do reino do rei, mas que ele salve o povo do extermínio. Quando soube que era Amã que queria exterminar o povo judeu, o rei decretou sua morte. Amã acabou na forca que tinha preparado para Mardoqueu, seu adversário.

4) A vitória dos judeus e a festa dos Purim (8-10): Casa e bens de Amã passaram para Ester e Mardoqueu. Humildemente Ester aproxima-se novamente de Assuero para pedir-lhe revogação do decreto de Amã que previa o genocídio dos judeus. A pedido de Ester, o rei revoga a sentença assinada por Amã e promulga novo decreto, em favor dos judeus. Mardoqueu e Ester foram reconhecidos como grandes heróis e salvadores do povo. Para os judeus esse dia foi de vitória, muita alegria e festa. Daí nasce a “Festa dos Purim” ou “Festa das Sortes”. A comemoração acontece com banquetes, troca de presentes e doações aos pobres. O livro de Ester desempenha papel importante para os judeus ainda hoje, que o leem por ocasião da Páscoa judaica.

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