18. Livro de Neemias | Paulus Editora

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Bíblia

11/08/2020

18. Livro de Neemias

Por Nilo Luza

Esdras e Neemias andam juntos, a ponto de, a princípio, formarem um único volume e tendo o mesmo autor. Neemias teria sido deportado para a Babilônia e permanecido lá. Na Babilônia exerceu o cargo de copeiro junto ao rei persa, função muito próxima ao rei.

Tendo sabido da situação de abandono em que se encontrava a cidade de Jerusalém, com os muros destruídos desde a tomada de Nabucodonosor, que deportou parte da população para a Babilônia, ficou consternado com a situação e solicitou permissão para voltar a Jerusalém e reconstruir os muros da cidade, conseguindo a autorização do rei.

Nessa difícil tarefa, encontrou diversas resistências principalmente por parte do povo que não foi deportado. Outro problema foi o conflito entre os cativos, aqueles que foram deportados, pois se consideravam o verdadeiro povo que se manteve fiel a Deus, mesmo em terras estrangeiras; por outro lado, o povo que não foi deportado, considerava-se o verdadeiro povo de Deus porque não se misturou com os povos e culturas de outras nações. Podemos dividir o livro de Neemias em três partes:

1) A primeira parte (Ne 1-7) dá destaque à pessoa e à obra de Neemias. Ao longo desses capítulos, Neemias é apresentado como pessoa consciente da sua missão e devoto da ajuda divina. Como governador nomeado de Judá, ele teve força e coragem para levar em frente sua missão de reconstruir as muralhas da cidade. Foi beneficiado por ser de raízes judaicas e da confiança do império persa. O livro detalha os trabalhos de reconstrução das muralhas da cidade e os vários grupos que se empenharam. Mesmo diante da resistência de alguns grupos, não impediu Neemias de realizar seu projeto.

Outro grande desafio que ele teve de enfrentar foi o problema dos campesinos explorados (Ne 5,1-5). O povo da terra contraiu dívidas, tinha obrigação com impostos e o problema da escravidão. Para quitar parte das dívidas, muitos venderam filhos e filhas como escravos e penhoraram suas terras.

2) A segunda parte (Ne 8-9) apresenta a promulgação da lei por Esdras na grande assembleia. O sacerdote Esdras preside uma solene liturgia numa praça em Jerusalém, onde o povo está reunido e faz sua profissão de fé no livro lido. A comunidade se reúne em torno da palavra, celebrando com muita alegria, festa e comida, procurando viver os mandamentos no dia a dia (Ne 8).

Os repatriados proclamam sua fé em Deus, fé que norteia a ação social e as políticas públicas. Dessa assembleia nasce o judaísmo, religião centrada na observância da lei (Torá). Nela se narra a caminhada do povo de Deus. A prática do jejum, o vestir-se de sacos e o perdão dos pecados preparam a comunidade para celebrar o novo começo. Conclui com uma oração de louvor e penitência, seguindo a espiritualidade deuteronomista.

3) A última parte (Ne 10-13) traz a preocupação de Neemias pela população escassa de Jerusalém. Uma das propostas é repovoar a cidade. Além disso, o autor fala da solene dedicação das muralhas da cidade, finalmente reconstruídas. Outra tarefa de Neemias foi garantir o sustento das pessoas responsáveis pelo culto: sacerdotes, levitas e cantores. Purificou o templo e expulsou dele os estrangeiros. Mesmo não ter sido tão drástico como Esdras, Neemias consegue o consentimento do povo de não realizar mais casamentos mistos (judeus com estrangeiros). O livro conclui, proponde três coisas: a purificação de tudo o que é estrangeiro, os direitos do pessoal dedicado ao culto e as provisões para o sacrifício.

A questão dos estrangeiros está muito presente no livro de Neemias (também em Esdras) e é ainda hoje grande problema para muitas nações. Muitos países constroem muros e barreiras para impedir a entrada de estrangeiros, quando deveriam construir pontes. A lei da pureza étnica leva a considerar os estrangeiros como povos inferiores.

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