17. Livro de Esdras | Paulus Editora

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Bíblia

13/07/2020

17. Livro de Esdras

Por Nilo Luza

O livro de Esdras, a princípio, fazia parte de um único volume junto com Neemias. Ambos os livros são da época após o exílio babilônico (538 a.C.). Tudo indica que os dois livros são do mesmo autor dos dois livros das Crônicas. Esdras atuou como escriba e sacerdote no meio do povo, assumindo a função religiosa.

O nome do livro deriva de sua principal personagem, Esdras. Tudo começou com o decreto de Ciro, rei da Pérsia, permitindo o retorno dos judeus exilados na Babilônia. Após cinquenta anos de exílio, Ciro conquistou a Babilônia em 539 a.C. Logo no início do seu governo, determinou que os judeus que quisessem poderiam voltar para Judá. Com isso, inicia nova etapa para o povo de Israel. É o início do período persa ou também chamado “segundo templo”.

Esdras é considerado o pai do judaísmo, que se fundamenta em três pilares: a raça, o templo e a lei. Esdras é conhecido como o patrono dos escribas, alguém versado na lei: a lê, a traduz e a explica ao povo. O livro foi escrito na visão do grupo que voltou do exílio; mas trata também da relação desse grupo com os que permaneceram em Judá, o “povo da terra”.

Podemos dividir o livro de Esdras em duas partes: capítulos 1-6: tratam do retorno dos exilados e a reconstrução do templo, sob a liderança de Zorobabel e Josué, as “duas oliveiras” (cf. Zc 4,11-14); capítulos 7-10: descrevem a organização da comunidade, por conta de Esdras.

1) Capítulos 1-6: O livro de Esdras dá continuidade ao segundo livro das Crônicas. Inicia com o decreto de Ciro, permitindo a volta dos exilados, com o objetivo da reconstrução do templo e a reorganização do culto. O salmista celebra esse retorno com o Salmo 126(125).

Os capítulos 3-6 praticamente narram o começo da reconstrução do templo e sua dedicação (520-515 a.C.), sob a liderança de Zorobabel e Josué. Os remanescentes se ofereceram para ajudar na construção do templo, mas não foram aceitos. Percebemos a grande preocupação com o restabelecimento do culto em Jerusalém: altar, templo, sacrifícios, oferendas… Mostra assim o quanto era importante o culto, o altar e o templo no projeto dos repatriados. O templo de Jerusalém tornou-se o legítimo lugar do culto, negando a legitimidade de outros espalhados pelo interior.

2) Capítulos 7-10: Esdras ocupa o centro desses capítulos, é figura principal. Ele é descrito como sacerdote especialista na lei de Deus. Chega a Jerusalém com muitos poderes conferidos pelo rei persa. Tem principalmente a missão de organizar a comunidade de Jerusalém sob a lei de Deus e levar ouro e prata que o rei ofereceu ao Deus de Israel. Jerusalém será reconstruída porque lá é a morada de Javé. A ida de Esdras para Jerusalém é vista como novo êxodo, que aponta para nova etapa na história do povo de Deus. Visto como novo Moisés, Esdras conduz os judeus da Babilônia para Jerusalém.

Os capítulos 9 e 10 traçam as medidas contra os matrimônios mistos. Os repatriados não devem se misturar com o “povo da terra” nem com os povos vizinhos. Ficam proibidos os casamentos com esses povos. As mulheres estrangeiras casadas com repatriados eram expulsas, junto com seus filhos. Essas medidas visam manter unida a comunidade dos que retornaram da Babilônia com suas tradições religiosas. Por outro lado, essas normas excluem o “povo da terra”, isolam os repatriados ao redor do templo de Jerusalém e revelam a vitória política e religiosa dos repatriados sobre o “povo da terra”. É uma violência e discriminação contra as mulheres.

Para fortalecer a raça pura, Esdras proíbe os casamentos mistos. Talvez essa seja a mais importante e a mais dura de suas imposições, indo contra as propostas do Deuteronômio, que exorta a amar e acolher os estrangeiros (cf. Dt 10,19). Algumas reações contra essa proposta surgem com algumas “novelas” dessa época, principalmente o livro de Rute. A lei da pureza étnica acaba levando a comunidade a se fechar em si mesma, a desprezar outros povos e outras religiões e cultivar o sentimento de superioridade.

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