16. Segundo livro das Crônicas | Paulus Editora

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Bíblia

05/06/2020

16. Segundo livro das Crônicas

Por Nilo Luza

O segundo livro das Crônicas é continuação do primeiro, tanto que as bíblias os comentam juntos e, como vimos, no começo formavam um único livro. Apesar do segundo livro falar de Salomão e seus sucessores, a forma como a obra toda está organizada demonstra que, para o autor, a dinastia de Davi é o foco central e Davi é apresentado como rei exemplar. Podemos dividir o segundo livro das Crônicas em três partes.

 1) Salomão e a construção do templo (2Cr 1-9). Inspirado no primeiro livro dos Reis (3-11), o autor faz como que uma revisão do reinado de Salomão, apresentando-o como realizador das determinações de Davi, principalmente a construção do templo, descrita minuciosamente (2Cr 2-5). A arca da aliança foi introduzida no templo com grande festa (2Cr 5-6). Antes, porém, de iniciar a construção do templo, Salomão pede a Deus sabedoria para conduzir bem o povo (2Cr 1,10), e Deus lhe promete – além de sabedoria e conhecimento – riqueza, fortuna e glória (2Cr 1,12). Isso para justificar os bens que Salomão foi acumulando, considerados frutos da bênção divina, e que foi criticado pelos deuteronomistas. Percebemos que o Cronista ignora as sombras e os erros do reinado de Salomão.

O templo é inaugurado solenemente com sacrifícios e holocaustos. A glória de Javé encheu o templo (2Cr 7,1). Deus está presente no templo, lugar onde o povo poderá ir em romarias para rezar, sabendo que suas preces serão ouvidas por Javé (2Cr 7). O Cronista relembra o poder e a riqueza de Salomão, fazendo uma releitura otimista do seu reinado, omitindo os pecados e sua decadência (2Cr 8). Todo poderio e luxo de Salomão foram conquistados à custa de sacrifícios do povo. Essa parte termina com a morte do rei Salomão.

2) Primeiras reformas da monarquia (2Cr 10-28). Após a morte de Salomão, o reino foi dividido em dois: Norte e Sul. Roboão é proclamado rei em Siquém. Como não seguiu o conselho dos anciãos para aliviar o fardo pesado imposto sobre o povo por Salomão, as tribos do Norte se rebelaram e proclamaram Jeroboão seu rei. O Cronista, porém, praticamente ignorou o Norte e só se interessou pelo Sul. Ao preservar a dinastia davídica, a cidade de Jerusalém e o templo, demonstra a preferência de Deus por Judá, segundo o autor.

A seguir temos o elenco dos reis de Judá, considerados fiéis à dinastia da Davi (2Cr 13-20), e algumas reformas levadas em frente por alguns desses reis. Ao narrar somente o governo dos reis de Judá, o autor demonstra que a dinastia de Davi, apesar de seus erros, é a herdeira da unção e da promessa feita por Deus a Davi. Nesses capítulos, o autor dá destaque a alguns reis que introduziram algumas reformas.

Nesses mais ou menos 340 anos de reino dividido, Judá teve seus reis virtuosos, mas também teve reis fracos e ambiciosos. Depois de descrever algumas virtudes de alguns dos reis, nos próximos capítulos (Cr 21-28), o autor vai descrevendo uma série de reinados desastrosos, enfocando os erros políticos e religiosos de alguns reis.

3) Reformas de Ezequias e Josias (2Cr 29-36). Dois reis que tiveram grande destaque para o Cronista foram Ezequias e Josias. O autor dedicou praticamente quatro capítulos (2Cr 29-32) ao rei Ezequias (716-687) e suas reformas. Restaurou o templo e seus funcionários (sacerdotes, levitas, cantores). A Páscoa aqui está associada à libertação do povo dos assírios (2Cr 30). Reformou as muralhas de Jerusalém e destruiu os lugares altos (lugares de culto), centralizando o culto em Jerusalém.

Josias (640-609 a.C.) foi o que promoveu a grande reforma. Durante seu mandato foi encontrado o “livro da lei” (provavelmente Dt 12-26) durante a reforma do templo e, tudo indica, que serviu como base de sua reforma. Com ares imperialistas, expandiu o território, fez de Jerusalém o centro político e religioso, destruiu os santuários do interior e os “lugares altos” (2Cr 34). O povo do interior foi o mais prejudicado com as reformas de Josias, praticamente destruiu sua religiosidade popular e perdeu sua liberdade religiosa.

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