10. Livro de Rute | Paulus Editora

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05/12/2019

10. Livro de Rute

Por Nilo Luza

Interrompendo a História Deuteronomista, o livro de Rute é posto aqui, na Bíblia Católica, após o livro dos Juízes pelo fato de que inicia, lembrando o tempo dos juízes (Rt 1,1). Na Bíblia Hebraica, ele faz parte dos escritos (ketuvim) e um dos cinco rolos (megilôt), que se liam nas festas principais do povo judeu. O livro de Rute é lido na festa de Pentecostes.

O livro de Rute gira em torno da emigração de uma família de Belém para Moab e de volta para Belém. O contexto é o período das reformas levadas em frente por Neemias e Esdras, em torno do ano 400 a.C. Nessa época, temos a centralização do judaísmo no templo de Jerusalém, a expulsão das mulheres estrangeiras, o fortalecimento da lei de pureza.

O livro procura mostrar que a pertença ao povo eleito não está restrita aos judeus, propõe a solidariedade, a recuperação da família e do clã como elementos básicos na reconstrução do país. Os quatro capítulos do livro de Rute podem ser divididos em quatro cenas ou atos:

1) Rute e Noemi (1,1-22): Aqui aparecem as personagens principais do livro. Os nomes, provavelmente fictícios, significam: Maalon: enfermidade; Quelion: fragilidade; Orfa: a que volta às costas; Rute: amiga ou saciada; Noemi: minha doçura; Elimelec: meu Deus é rei. Elimelec, juntamente com sua mulher (Noemi) e seus dois filhos (Maalon e Quelion), decidem sair de Belém e ir morar em Moab. Em Moab, Noemi perde marido e filhos, por isso decide voltar para sua terra em Belém em busca de pão, juntamente com Rute. A palavra-chave desse capítulo é voltar ou retornar (repetido doze vezes). Voltar significa refazer a aliança com Deus e buscar uma vida melhor e garantir descendência.

2) Rute nos campos de Booz (2,1-23): Essa cena introduz novo personagem, Booz, e narra seu primeiro encontro com Rute e do seu campo provém o alimento para as viúvas. As duas mulheres, voltando para Belém, vinham em busca de pão. Por ser pobres, a lei de Deus lhes permite catar as sobras das colheitas. Rute vai ao campo de Booz, parente de Noemi, para “recolher o restolho das espigas” (Rt 2,2). Temos nesse capítulo a palavra-chave respigar ou recolher (repetido nove vezes).

3) Booz e Rute na eira (3,1-18): Rute se aproxima de Booz, se deita ao seu lado e passa a noite com ele. Quando acorda, Booz pergunta: “quem é você?” (Rt 3,9). A partir de agora, Booz procura assegurar o casamento. Nessa cena sobressai a “lei do resgate”. A palavra resgatador (goel, em hebraico) aparece sete vezes. A “lei do resgatar” dizia que quando alguém, por motivo de pobreza, era obrigado a vender sua terra, o parente mais próximo tinha a obrigação de resgatar essa terra, ou seja, comprá-la e entregá-la ao antigo dono (Lv 25,25; Rt 4,9-10).

Da mesma forma que havia o resgate da terra, havia o resgate da pessoa (Lv 25,47-49). A pessoa era resgatada para não se tornar escrava. O objetivo da lei do resgate, tanto da terra quanto da pessoa, era garantir a propriedade aos pobres e a liberdade.

4) Rute se casa com Booz (4,1-22): Nesse capítulo continua repetindo a palavra resgate (quatorze vezes). Aqui, porém, com nova conotação, indo além do compromisso familiar, pois Booz é parente de Noemi, não de Rute. Quem assumir a lei do resgate teria de assumir também o “dever de cunhado”. O que tinha direito ao resgate negou-se a assumir a viúva Rute, renuncia a sua prerrogativa em favor de Booz (Rt 4,6).

Os autores de Rute propõem recuperar três importantes leis dos pobres: respigar, resgatar e levir. Leis que não foram valorizadas nas reformas de Neemias e Esdras. Essas leis valorizam os valores do tribalismo: fraternidade entre as pessoas, partilha do pão e da terra e garantia de descendência. A valorização das mulheres – inclusive das estrangeiras – é outro elemento importante do livro. Após o exílio havia muita discriminação contra as mulheres, principalmente contra as estrangeiras que eram proibidas de casar com israelitas e muitas foram expulsas (Esd 9,1-2; 10,3; Ne 13,25). Rute, moabita estrangeira (Dt 23,4), bisavó de Davi, entra na genealogia de Jesus (Mt 1,5).

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