O profeta Sofonias (= Javé protege), filho de Cusi, que significa “etíope”, isto é, negro, portanto filho de estrangeiros, mas ele mesmo era judeu, profetizou durante o reinado de Josias (640-609 AC). Sua atuação foi em torno de 640-620, na cidade de Jerusalém, Judá, reino do sul. Nesta época, o povo de Judá enfrentava dificuldades por causa do domínio assírio e Israel, reino do norte, já tinha sido conquistado pelos assírios. Sofonias provavelmente teve influência sobre as reformas levadas em frente por Josias em 622 AC.

Sofonias, em seu escrito, tinha três preocupações principais: o dia de Javé, oráculos contra os opressores e a defesa e esperança para os pobres.

O dia de Javé era entendido como uma intervenção de Deus na história, quando este vinga seu povo, decide seu destino e salva-o como no êxodo. A memória do êxodo é muito viva em épocas de dominação estrangeira ou de estados autoritários.

Os oráculos contra as nações e os opressores apresentam o julgamento e o juízo de Deus contra aqueles que exploram e empobrecem o povo. Para incluir todas as nações, o profeta utiliza o esquema dos pontos cardeais: Filisteus (oeste), Moab e Amon (leste), Egito (sul) e Assíria (norte). No centro encontra-se Jerusalém, cidade rebelde, que também terá o julgamento. Aliás, Jerusalém é o ápice da crítica.

O profeta não tem somente denúncias, mas apresenta também anúncios de esperanças e promessas para o povo empobrecido.

 Sofonias tinha grande preocupação para com os pobres camponeses explorados e endividados. Ele é a voz profética do povo explorado. Os pobres, os preferidos de Javé, são a única esperança de uma sociedade justa e solidária.

O autor denuncia a concentração da riqueza nas mãos de poucos, o controle do comércio e as práticas religiosas, mostrando a necessidade de conversão e de profundas reformas. Em Jerusalém, a montanha do Senhor, Deus deseja reunir o povo de Israel, o “resto”, e honrá-lo diante das nações. Assim Sofonias termina seu livro num tom de esperança e alegria. O Deus justo, que ouve o clamor dos fracos, levanta-se para fazer o julgamento, depondo os poderosos e exaltando os pobres.

A esperança brota justamente daqueles que nada se espera.

Ou como disse Tagore: “A história da humanidade espera, com paciência, o triunfo do homem humilhado”.

Para o período de dominação babilônica, com destruição e exílio, Sofonias servirá como sinal de esperança naqueles tempos difíceis.

Nilo Luza nasceu em 1947, no Estado do Rio Grande do Sul. Ele é religioso da Congregação dos Padres e Irmãos Paulinos. É graduado em Filosofia e Teologia. Desenvolve sua missão paulina na redação do Semanário Litúrgico Catequético O Domingo e de Liturgia Diária.

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