Pentateuco 4. Gênesis – 2 | Paulus Editora

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Bíblia

11/04/2016

Pentateuco 4. Gênesis – 2

Por Nilo Luza

Novamente voltamos a falar do Gênesis, mas agora nos deteremos nos onze primeiros capítulos, que contam a “história das origens”. É importante destacar, antes de tudo, que os relatos da criação do mundo e da humanidade não são exclusivos de Israel, muitas outras civilizações tiveram seus mitos sobre a origem do universo. Esses primeiros capítulos da Bíblia sempre chamaram a atenção dos estudiosos e dos interessados em assuntos bíblicos. A descoberta das ciências e das letras provocou certa reviravolta na análise e compreensão desses relatos. E ainda hoje continuam preocupando cientistas e biblistas.

Temos duas narrativas da criação, de épocas e contextos diferentes, cada uma enfocando um aspecto. O primeiro relato da criação (Gn 1,1-2,4) foi escrito durante o exílio na Babilônia (586-538 AC).

Mostra que Deus é o único Deus verdadeiro e o criador do universo. O relato é organizado em sete dias, ressaltando o sábado que propõe o direito ao descanso semanal. Deus viu que toda sua obra “era boa”. O segundo relato (Gn 2,4-25) foi escrito após o exílio, por volta do ano 400 AC. Esse relato praticamente não fala da criação do universo, mas diz que Deus “modelou” o ser humano e este, por sua vez, participa da criação, cultivando e cuidando do jardim e dando nome aos outros seres vivos. Aqui Deus aparece como oleiro, modelando os seres a partir do solo, e como agricultor, plantando um jardim.

Do caos, Deus modelou o cosmo, universo organizado e harmonioso. O sonho de Deus, ao criar o mundo, era estabelecer harmonia de toda obra criada, propor bem-querer e respeito entre todos os seres e formar o ser humano à sua imagem e semelhança para viver livre no jardim.

Esse desejo de Deus, essa harmonia, porém, não dura muito. De repente surge a serpente, que desempenha vários papéis, dependendo da cultura de cada época e de cada região. Ela pode ser vista de forma negativa ou positiva, símbolo de morte e de vida. Nos relatos da criação, ela é descrita como ser em oposição a Deus. Ela procura destruir o projeto de harmonia e paz na obra de Deus.

Surge o conflito entre os seres humanos, Caim e Abel. A violência (física, moral, psicológica) está presente em todos os grupos e em todas as sociedades de todos os tempos. Temos o pecado, resultado da inveja, do orgulho e da arrogância e intolerância. Caim é agricultor, vive de maneira mais estável; Abel é pastor, vive na insegurança, mudando constantemente de lugar em busca de pastagem e representa os clãs mais frágeis. Deus opta por Abel por ser mais vulnerável. Esse relato mostra o conflito entre os agricultores e os pastores.

O último capítulo (11) dessa seção fala da Torre de Babel. É uma crítica e resistência ao poder centralizador das cidades, torres e fortalezas, construídas com trabalho escravo dos camponeses. Se for visto como queda do império babilônico, o conto pode ter surgido logo após a volta do exílio. Na Babilônia, havia muitas torres altas (zigurates) no topo moravam as divindades. Enquanto os homens pretendem unificar as línguas e subir para dominar, Deus desce e confunde as línguas. Parece que o ser humano, com suas pretensões, quer desafiar o poder de Deus.

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