Paróquias: Pastoral de “Eventos” ou Pastoral do “Encontro”? | Paulus Editora

Colunistas

Igreja e Sociedade

05/09/2023

Paróquias: Pastoral de “Eventos” ou Pastoral do “Encontro”?

Por Dom Edson Oriolo

As grandes evoluções tecnológicas, científicas, políticas, religiosas e virtuais vêm transformando o mundo urbano e afetando diretamente a vida das pessoas, suas ideias, seu modo de viver, de conviver e de agir. Estas evoluções alteram os hábitos e os costumes das pessoas, a começar pelos horários de trabalho que dificultam a convivência familiar e a prática de atividades regidas pelo calendário eclesiástico. O progresso exige sacrifício de todos, a ponto de trocarem o dia pela noite, substituírem o descanso e o lazer pelo trabalho. Consequentemente, os horários da vida urbana não favorecem mais os períodos de oração, celebrações, missas, encontros celebrativos, terços etc.

Muitos hoje preferem a comodidade de acompanhar e assistir as missas dominicais pelo rádio, televisão e redes sociais a ir até a sua paróquia com seus horários de celebrações, atendimentos e missas fixos. A locomoção à paróquia para muitos é uma enorme dificuldade, seja pela distância, pela falta de transporte, ou ainda por outras situações.

Neste interregno, as paróquias repensam seu significado diante da nova rotina a ser enfrentada, bem como as angústias por ela trazidas. O olhar sensível para as novas indagações sugere uma nova postura e, mais ainda, suscita novas respostas. Devido a isso, percebem-se novas elaborações pastorais que se concretizam das mais variadas formas.

Nesse sentido, temos também os grandes “eventos” voltando para fé, religiosidade e as crenças das pessoas, que acontecem com sucesso quando se tem como atração um nome ou um grupo midiático. Uma dificuldade é que a nossa rigidez institucional tem dificuldade com a capilaridade necessária para estar presente na vida das pessoas. A Igreja institucional precisa estar próxima dos fiéis e isso só se dá através das pessoas, para que uma a uma possam ser evangelizadas.

Todavia, em nosso cotidiano, percebemos uma expectativa cultural de megaeventos como, por exemplo, o Rock in Rio e os grandes shows. Festa é som, agitação, movimentação para extravasar as repressões que a convivência do dia a dia impõe às pessoas (no trabalho, nas repartições públicas, no ir e vir do trabalho). Os estímulos advindo dos grandes “eventos” ocorrem de forma instantânea, simultânea e em tempo real. Por outro lado, a convivência humana, num mundo em constantes evoluções, requer momentos de intimidade, de serenidade, de partilha são usurpados pelo uso indiscriminado das mídias.

Entre a cidade de ontem e o urbano contemporâneo, precisamos ajudar os fiéis a olharem para dentro de nossas paróquias e os sacerdotes a olharem para fora. Esse contraste é impressionante, pois, como dizia Sêneca: “não adianta o vento favorável se o barco desconhece o porto do destino”. Saber readaptar, com flexibilidade e planejamento, as mudanças de nossa ação evangelizadora (atendimentos, celebrações, missas, reuniões, encontros, momentos de oração) na história religiosa das pessoas é usar da força convocatória da Igreja para sair da pastoral de manutenção e conservação e fazer com que as pessoas possam se comprometer, pessoal e conscientemente, com Cristo pelo caminho da Eucaristia.

Assim sendo, a paróquia é o lugar privilegiado onde os fiéis fazem a experiência concreta de Cristo e da comunhão eclesial. (cf. EA41). A ação evangelizadora paroquial deve atingir, em níveis distintos de adesão, prosélitos, discípulos e apóstolos conforme se entender a mensagem específica da vida cristã: adesão a um projeto de salvação.

A década (…) do modelo social vigente até então, pois as pessoas percebem (…) no processo de crescimento industrial e no rompimento com os valores tradicionais, o surgimento de uma sociedade não estagnada, na qual há possibilidade de ascensão nas condições de vida e de trabalho. A cidade se apresente como espaço adequado para essa relação.

O ambiente urbano, com o qual o homem do campo se depara, é como uma “teia de aranha”. A cidade prospera organicamente, empurrando todos os limites possíveis. Nada de fronteiras, nada de interdições, nada de limites. As instituições: Igreja, empresas, trabalho e família se tornam completamente difusas no novo cenário. A forma de pensar do homem que vive a mentalidade do urbano, de certa forma, tomou a Igreja de surpresa.

É imprescindível saber analisar o contexto, para entender como ele influencia o modus vivendi do cidadão urbano, a fim de perceber até que ponto nossas iniciativas representam um incentivo para a participação consciente na vida de Igreja e não um fardo, em contraponto com a realidade. Frente a essas realidades, como devem ser as ações pastorais e as dinâmicas da ação do Evangelho (evangelização)? Não necessitamos de criar novos paradigmas pastorais? Precisamos compreender a dinâmica evangelizadora das paróquias, distinguindo “eventos” de “encontros”?

Evangelizar por meio de “eventos”, acontecimentos ou na dinâmica articulada de “encontros”, com planejamentos à luz do Magistério ordinário e extraordinário da Igreja? Eis a questão.

No cenário da ação evangelizadora das paróquias, muitas estão caminhando com grandes atividades pastorais, grandes encontros, carreatas, celebrações shows, missas com multidões, megashows de evangelização, programas de rádio, TV e, principalmente, pelas redes sociais para arrebanhar fiéis. Esses “eventos” reúnem dezenas, centenas, milhares de pessoas para finalidades diversas tais como: comemorações, festividades, intercâmbios de conhecimentos, trocas de experiências, troca de informações. Proporcionam encontros de pessoas com a finalidade específica à qual aderem conscientemente. Evangelizam por meio de megaseminários, peregrinações, concentrações, assembleias, romarias etc. Essa dinâmica de evangelização vem se tornando uma realidade em âmbito diocesano, paroquial e comunitário. Alguns a denominam como: “Pastoral de Eventos”. Temos que encontrar elementos nessa pastoral para fortalecer a vivência do encontro.

Acredito que as ações evangelizadoras das paróquias devem ser bem articuladas na experiência de encontro (Cristo-irmãos). Este projeto pastoral paroquial do “encontro” “deve ser resposta consciente e eficaz para atender às exigências do mundo atual com ‘indicações programáticas concretas; objetivos e métodos de trabalho, formação e valorização dos agentes’ (DAp, 371). No entanto, para que a ação pastoral – agir da Igreja – aconteça numa perspectiva do “encontro” devemos focar a evangelização na reflexão e conscientização. Equilíbrio entre o evento e o encontro com Cristo e com os irmãos? compromissados e conscientizados, tendo como fundamento o mandato missionário de Jesus Cristo.

A “Pastoral do Encontro” se dá quando a ação da Igreja passa pela reflexão e conscientização, em atividades que levem as pessoas à fazer a experiência do encontro com Cristo (sacramentos) e os irmãos. Muitas paróquias têm crescido na vida comunitária e na participação ativa dos fiéis, saindo do mero assistencialismo religioso e da simples manutenção da fé. Uma paróquia renovada favorece a centralidade de Cristo no cotidiano da vida dos paroquianos e procura dar espaço à oração, à liturgia e, nos últimos anos, à pedagogia da “lectio divina”, levando ao compromisso profético no mundo.

No entanto, a “Pastoral do Encontro” deve ter como proposta evangélica: estar ciente de que as pessoas necessitam serem salvas, serem redimidas (resgatadas) e de se assumirem como criaturas (criação). A Pastoral do Encontro deve ser processada levando em conta três considerações. Porém, há níveis distintos: há pessoas que ainda devem ser ajudadas a se valorizarem como pessoa (autonomia, racionalidade, convivência, saída de si) a saírem do próprio mundo e da própria precisão de sobrevivência material. Há pessoas que precisam ser resgatadas em sua própria estima e de situações conflitivas (droga, exclusão, exploração material e afetiva, prisão, etc.). Há pessoas que necessitam ser salvas de uma vida sem sentido e sem horizonte (doença grave, velhice, morte iminente).

Renovada, atualizada, respondendo aos apelos e clamores do mundo atual, a paróquia, realizando a Pastoral do Encontro e não vivendo simplesmente de eventos, será o chão fértil onde os paroquianos encontrarão segurança e possibilidade de viver, com esperança e alegria, pequenos e grandes momentos do seu dia a dia. Na simplicidade e complexidade do cotidiano, experimentarão que, em Cristo e na comunidade fraterna, seus sonhos de realização e de felicidade frutificarão.

nenhum comentário